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Sinopse
Durante uma das suas corridas matinais, Amy recebe uma ligação que a paralisa. Ela descobre que a quilômetros dali há um atirador na escola de seu filho. Amy se desespera e tenta encontrar meios de ajudar o seu menino.
Crítica
A pandemia do Covid-19, principalmente no seu auge, durante os anos de 2020 e 2021, provocou fortes mudanças de comportamento ao redor do mundo. E se ficou um legado de soluções alternativas que garantiram segurança sanitária para muita gente (como o home office, por exemplo), há também, ao menos no âmbito artístico, uma incômoda herança que deverá seguir assombrando por um bom tempo: os ‘filmes de quarentena’, aqueles realizados com o mínimo de equipe possível, geralmente em ambientes abertos e com elenco reduzido. A Hora do Desespero, de Phillip Noyce, é um bom exemplo dessa definição. E que se faça entender: ótimo enquanto encaixe nessas pré-qualificações. Pois que fique claro que o conceito não implica na qualidade da obra, o que essa até ameaça exibir por um momento ou outro, mas no todo resulta fraca em seus objetivos e, na melhor das hipóteses, covarde diante do terreno que ela própria prepara, mas demonstra temor em percorrer.
Naomi Watts já foi apontada como uma revelação em Hollywood – não tanto pelas duas indicações ao Oscar que colecionou, a primeira há quase vinte anos, mas principalmente pela atuação arrebatadora em Cidade dos Sonhos (2001) ou o desempenho seguro no blockbuster King Kong (2005) – mas há um bom tempo não tem acertado (seu último trabalho digno de nota foi no oscarizado Birdman, 2014). A situação não muda muito dessa vez, por mais que haja um evidente esforço e comprometimento com a proposta. Sozinha em cena na maior parte do tempo, precisa segurar a atenção do público por quase uma hora, entre a saída de casa no começo da trama e o reencontro com os demais personagens já próximo do término. O que tem pela frente é uma longa jornada de descobertas, suspense e muita tensão, elaborada através de soluções que às vezes funcionam à perfeição, mas em outras ocasiões parecem mais impostas apenas para arrastar os acontecimentos em nome de uma suposta reviravolta que, de tão anunciada, quando, enfim, se apresenta, o faz com metade da força que supostamente poderia ter angariado a seu favor.
Sem muitas palavras, o roteiro de Chris Sparling (premiado no Goya e no National Board of Review por Enterrado Vivo, 2010, mas responsável também pelo genérico Destruição Final: O Último Refúgio, 2020) coloca o espectador no seio de uma família destruída. Amy (Watts) se esforça para levantar da cama, algo que, enfim, acaba fazendo, mas não sem antes limpar sua agenda e reservar o dia apenas para si. Antes de ficar sozinha, no entanto, precisa despachar os dois filhos. A pequena já está pronta, à espera do ônibus escolar. Com o primogênito, Noah (Colton Gobbo, de Histórias Assustadoras para Contar no Escuro, 2019), a situação é um pouco diferente. Ainda embaixo das cobertas, primeiro alega doença, depois afirma categoricamente não querer ir para o colégio. Poderia ser apenas um caso de gazear a aula, mas não. O jovem está deprimido. E pelo mesmo motivo da mãe. Os dois ainda sentem a morte do pai e esposo, em um acidente recente. Uma falta que ambos seguem sem aprender como lidar.
Após ordenar que se arrume e siga com suas obrigações estudantis, Amy sai para caminhar. A partir desse ponto um exercício de suspensão de descrença se inicia. Ela está preparada para um jogging matinal, algo que a maioria das pessoas executa dando algumas voltas pelas quadras próximas ou indo a algum parque ou praça na redondeza. Amy, por sua vez, envereda por uma floresta, longe de tudo e todos, e pela hora seguinte – a duração exata do exercício – irá acompanhar o desenrolar dos eventos apenas pelo telefone, em chamadas de áudio e vídeo. Se exige, portanto, que a audiência esteja disposta a se colocar nesse lugar, de apenas ouvir certos anúncios ou, pior ainda, conferir vislumbres dos relatos, através de câmeras tremidas ou declarações em momentos de pânico. Afinal, o que ela logo descobre é que alguém armado invadiu a escola do filho mais velho e um tiroteio ocorreu, resultando em vítimas fatais. Ao descobrir que o carro do seu garoto está sendo revistado pelos policiais, já não sabe mais o que pensar. Quando um oficial entra em contato para fazer perguntas a respeito do rapaz, sobre se há armas de fogo na casa deles ou se ele teria como adquiri-las, o chão lhe some de debaixo dos seus pés.
Bom, não há mais a ser dito a respeito de A Hora do Desespero que não incorra na arenosa seara dos spoilers. Sem saber ao certo o que está acontecendo, se Noah é vítima ou agressor, o que teria ocorrido com o menino e qual o seu papel nesse cenário, a Amy de Naomi Watts vai de uma passividade inicial à postura de uma supermãe, alcançando feitos que nem mesmo os investigadores estão conseguindo – tendo a seu dispor apenas um smartphone e um fone de ouvido, além da boa vontade dos interlocutores que irá acionar no decorrer desses minutos. Um olhar cuidadoso irá observar uma lógica falha em alguns episódios – não haveria tempo hábil para o filho ir do seu quarto, quando é visto pela última vez, até a escola no momento no qual as sirenes de emergência tocam pela primeira vez, por exemplo – mas o pior é a ameaça apenas anunciada por Noyce – um cineasta que desfrutou de mais prestígio no passado, tendo entregue filmes interessantes, como Jogos Patrióticos (1992) e O Americano Tranquilo (2002), mas que há muito tem deixado a desejar – porém não perseguida até o fim, justamente pela falta de ousadia em sair do lugar-comum e se aventurar por um território de dúbias interpretações. E assim, sem se arriscar, entrega apenas promessas que nunca chegam a se confirmar.
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Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 5 |
Ticiano Osorio | 1 |
Alex Gonçalves | 3 |
MÉDIA | 3 |
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