Crítica
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Sinopse
A operação enorme que levou à execução do terrorista Osama Bin Laden. Por trás desses planos, uma agente da CIA foi uma das figuras principais da ação, alguém cujos métodos nada ortodoxos foram essencial ao êxito.
Crítica
Para aqueles que classificam o cinema norte-americano contemporâneo de superficial, irrelevante ou descerebrado, muitas vezes numa generalização tão burra que deixaria Nelson Rodrigues feliz por ter cunhado aquela famosa máxima, A Hora Mais Escura (2012) deve servir como motivo para uma revisão de conceitos. Por funcionar como um recorte histórico essencial de um trágico período político dos Estados Unidos e como uma grande obra cinematográfica, o filme merece toda a atenção que tem recebido e a consagração das mentes por trás do mesmo não poderia ser mais justa.
Kathryn Bigelow já havia demonstrado sua imensa capacidade e domínio de uma linguagem cinematográfica própria ainda antes de Guerra ao Terror (2008), que lhe rendeu os cobiçados Oscar de Melhor Direção – o único concedido a uma mulher até então – e de Melhor Filme. Quem assiste a Estranhos Prazeres (1995) ou até mesmo K-19: The Widowmaker (2002) percebe na cineasta um preciosismo técnico raro, que lhe permite criar tensão a partir de frequentes perspectivas em primeira pessoa e no uso da câmera lenta em momentos propícios, geralmente em amplas sequências de ação. Em A Hora Mais Escura ela aplica todos os seus trunfos numa narrativa densa, adulta e consciente de seu papel, que vai muito além da simples representação ou reconstituição de fatos. A Hora Mais Escura remonta a conflituosa década que desestruturou a sociedade americana entre os ataques de 11 de setembro de 2001 e a morte de Osama bin Laden, em maio de 2011. Jessica Chastain dá vida a Maya, personagem inspirada numa agente real da CIA que foi responsável por transformar a caçada ao terrorista numa operação de proporções – e consequências – inéditas para o governo e o exército dos EUA.
Os primeiros minutos do filme apresentam gravações reais de ligações feitas por pessoas presas no World Trade Center no fatídico dia dos ataques aéreos. Na cena seguinte, um possível associado da organização fundamentalista Al-Qaeda é interrogado por agentes que se valem de técnicas de tortura para conseguirem as respostas que procuram. Evocando o tom de medo e perda que permeia e contextualiza todo o restante de A Hora Mais Escura, Bigelow deixa claro logo de início que não pretende se afastar dos aspectos mais desprezíveis da história que está narrando.
O caminho tortuoso que a realizadora seguiu para concluir sua obra foi marcado por acusações de banalizar a violência e a tortura, além de se envolver em polêmica sobre a liberação de informações privilegiadas de órgãos como a Casa Branca, Pentágono e da própria CIA. Bigelow fez questão de negar os últimos rumores, ainda que tenha assumido numa entrevista para a CBS que todo o roteiro de Mark Boal foi baseado em pessoas reais e informações recebidas em primeira mão a partir de uma série de entrevistas com oficiais militares e a inteligência norte-americana.
Boal, que foi laureado com um Oscar por seu roteiro para Guerra ao Terror, tem uma longa e premiada carreira no jornalismo. Seu empenho com A Hora Mais Escura é excepcional, ainda mais se considerarmos que, quando iniciado, o projeto dava conta exclusivamente da caçada a Bin Laden – o que foi alterado após a morte do mesmo. No entanto, a melhor maneira de apreciar a complexa realização de Bigelow e Boal, é a considerando não como uma peça jornalística, mas como um thriller policial e de espionagem que é ainda mais tenso por estar tão próximo da verdade – mas que não é literalmente real.
O elenco do filme também merece mérito por ser composto por grandes atores em performances elogiáveis, com Jason Clarke e Mark Strong interpretando oficiais da CIA em desempenhos louváveis. Jessica Chastain, onipresente em listas que classificam as melhores atrizes de sua geração, merece o Oscar e outros prêmios pela coragem e virtuose empregadas na caracterização de uma personagem difícil e muito verossímil. Joel e Nash Edgerton, irmãos fora da ficção, interpretam membros da SEAL responsáveis pela ação prática que culminou na morte do terrorista. Os dois encabeçam o grande elenco que figura no ato mais impressionante do filme, sua meia hora final, quando Bigelow evidencia toda sua habilidade numa série de sequências opressivas e muito difíceis, responsáveis por engrandecer o encerramento de sua produção.
Originalmente intitulado Zero Dark Thirty, termo comum do exército e marinha estadunidenses para designar a meia hora que sucede a meia noite, A Hora Mais Escura talvez não ofereça uma sessão agradável ou fácil de ser apreciada, mas sim um retrato consciente e brutal de um período que deveria ser registrado pelo cinema. O que felizmente Kathryn Bigelow fez de maneira tão marcante quanto definitiva.
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Olá, Carol! Muito obrigado pelos comentários, fico feliz que tenha gostado do texto!! E o mérito é todo do filme, aguardo seus comentários após a sessão. ;) Beijos!
Que bacana seu texto Conrado!! No 2o parágrafo já dá muitaa vontade de assistir A hora mais escura, mesmo não tendo curtido muito o anterior: Guerra ao terror. Resta saber se o mérito é do teu texto ou mesmo do filme hehe. Brincadeira, pelo que descreveu é uma narrativa bastante atraente com elementos igualmente atraentes. beijos