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Crítica


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Sinopse

Na metade do século XXI, o efeito estufa derreteu uma grande parte das calotas polares da Terra, fazendo com que boa parte das cidades litorâneas do planeta ficassem parcialmente submersas. Para controlar este desastre ambiental a humanidade conta com o auxílio de uma nova forma de computador independente, com inteligência artificial, conhecido como A.I. É neste contexto que vive o garoto David Swinton, que irá passar por uma jornada emocional inesquecível.

Crítica

Tinha tudo para ser inesquecível. O encontro de dois dos maiores gênios já surgidos em toda a história do cinema, Stanley Kubrick e Steven Spielberg. No entanto, em A.I.: Inteligência Artificial, aquilo que prometia ser espetacular acabou se transformando em um produto literalmente “artificial”, sem coração, perdido entre tantos caminhos possíveis.

A. I.: Inteligência Artificial é um filme híbrido, composto por quatro atos bem distintos. Começa muito bem, no melhor estilo frio e asséptico kubrickiano. É quando somos apresentados a um casal, num futuro não muito distante, que adota um “menino-robô” capaz de ter emoções. Isso acontece porque, nessa sociedade, só é permitido aos casais terem um filho, e o deles se encontra em coma, aparentemente irrecuperável. Porém, com a nova criança, que está ali para suprir a necessidade humana de afeto, logo o jogo se inverte, e serão os humanos que terão que aprender a amar a máquina. O filho doente, no entanto, se recupera e volta para a casa, destinado a ocupar seu lugar. Assim, David, o robô, não se faz mais necessário, e mais, talvez seja até perigoso, sendo que a única opção da família é livrar-se dele.

Aí começa o segundo ato, e junto com ele os problemas do filme. A trama fica mais sombria, ao mesmo tempo que moralista. O garotinho, abandonado no meio da floresta, assim como foi João e Maria na fábula da Bruxa da Casa de Doces, parte na procura pela Fada Azul para, assim como aconteceu com Pinóquio, se transformar em um menino de verdade, pois só assim acredita que irá reconquistar o amor perdido da mãe. O terceiro ato nos leva a uma conclusão triste, sofrida e perfeita. Mas Spielberg não parece satisfeito, e acrescenta mais 15 minutos em busca de um final feliz, e só o que ele consegue é entristecer a nós, espectadores. A pieguice assume no final, junto a um amontoado de novos conceitos sem menor propósito – senão o de “acabar bem”.

Kubrick encantou-se com o conto Superbrinquedos duram o verão inteiro, de Brian Aldiss, publicado em 1969 na revista Harper’s Bazaar. Por anos acalentou o desejo de transformá-lo em película, mas não acreditava que existissem condições técnicas suficientemente capazes de transformar tudo o que concebia a respeito em realidade. Quando acreditava estar na época certa para tal feito, faleceu. Foi por isso que seu amigo Spielberg assumiu a direção – já estava acertado, com Kubrick mesmo, que o pai de E.T.: O Extraterrestre (1982) seria o produtor do filme. Mas a colisão de idéias foi muito forte, e a luta do pequeno robô para se transformar em uma criança de verdade não resultou numa obra inesquecível. Claro que por muito tempo ainda se lembrarão da atuação magnífica de Haley Joel Osment no papel principal, mostrando que tem mais a mostrar do que o talento mirim revelado em O Sexto Sentido (1999). Mas, mesmo assim, é pouco para uma proposta tão ambiciosa. O que na verdade é uma pena, pois aquilo que seria o ‘adeus’ perfeito de um gênio para outro, se transformou em um ‘até logo’ até mesmo curioso, mas não desprovido de alguns tropeços.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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