Crítica
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Sinopse
Localizada em um lugar misterioso, a Ilha da Fantasia é conhecida por ser capaz de realizar todo e qualquer desejo de quem for visitá-la. Com tal fama, ela é bastante procurada por turistas, que chegam ao local de avião. Quem os recepciona é o sr. Roarke, o gerente do local, que deixa bem claro a todos que não é possível interromper uma fantasia pela metade, ela apenas terminará quando seu curso natural chegar ao fim. Com novos turistas ansiosos em vivenciar seus sonhos, eles não esperavam que nem tudo seria do que jeito que gostariam.
Crítica
Em tempos onde ter uma marca conhecida é (comercialmente) mais importante que uma boa ideia, não é de surpreender que Ilha da Fantasia migre para o cinema. Na verdade, até demorou. Sucesso absoluto ao longo das temporadas exibidas entre 1977 e 1984, o programa entrou para o imaginário popular ao eternizar personagens como o anão Tattoo e o misterioso sr. Roarke, ao menos para quem hoje está na casa dos 40 ou 50 anos. Por outro lado, tamanha demora no reboot fez com que toda uma geração - talvez duas - desconheça por completo a série. Nesta tentativa de (re)aproximação com o público mais jovem, veio então a produtora Blumhouse com a proposta de transformar a história em um filme de terror. Quer dizer, mais ou menos.
Por mais que a trilha sonora de Bear McCreary instigue bastante rumo ao suspense fabricado artificialmente e o filme recorra a muitos (e muitos) clichês batidos do cinema de terror, A Ilha da Fantasia aparenta estar sempre com o freio de mão puxado. Com isso, trata-se de um filme sangrento que volta e meia esconde o sangue ou cenas mais fortes, através da edição ou mesmo do enquadramento de câmera, em busca de uma classificação indicativa mais branda - ficou com o conveniente PG-13, de olho no público adolescente. Ou seja, mesmo quando o filme insinua que pode causar algum medo, seu próprio formato lhe dá uma rasteira. Ah, esses produtores que pensam mais na bilheteria do que em qualidade...
Ainda assim, há muitos outros problemas a olho nu. Um deles é o número excessivo de protagonistas, o que demanda um tempo considerável para esmiuçar e, posteriormente, degringolar cada historieta. Soma-se a isso a fragilidade geral de tais personagens, todos presos a arquétipos pré-definidos que, em alguns casos, irritam à primeira vista - como suportar os irmãos que fazem high five a cada dois minutos em cena? Soma-se a isso a falta de qualidade no elenco escolhido, muitos de uma canastrice estonteante. Mesmo o competente Michael Peña surge contido e apático, em um personagem mais preocupado em manter um certo mistério, seja ele qual for, do que propriamente em ter algum desenvolvimento narrativo. Pífio.
Poderia ainda falar dos muitos diálogos tenebrosos espalhados aqui e ali, com variados personagens, ou ainda da insólita (e inútil) participação de Michael Rooker, sem o visual azulado de Yondu, mas é melhor abordar o roteiro escrito pelo trio Jillian Jacobs, Christopher Roach e Jeff Wadlow. Vítima da síndrome de Shyamalan, no sentido de provocar uma série de reviravoltas inusitadas em busca de insinuar uma suposta inteligência - ressalva para suposta -, seu desfecho é uma pá de cal ao que já não caminhava bem. Por mais que até dê algum sentido àquela trupe ali reunida, o final é tão exagerado e brusco, narrativamente falando, que não pode ser descrito de outra forma além de um mero truque. Mal executado, é claro.
Em meio a tantos problemas conceituais e de escalação, não há direção que dê jeito. Jeff Wadlow merecidamente afunda junto com o filme, tamanha sua falta de imaginação em deixar de lado a receita de bolo que ronda os suspenses picaretas, lançados ano sim e no outro também. Com ecos de Lost (2004-2010) e uma pitada de Westworld (2016-), no sentido que os visitantes da ilha podem realizar seus desejos mais íntimos, A Ilha da Fantasia nada mais é do que uma versão preguiçosa da série que tanto sucesso fez, tempos atrás. Uma pena, até mesmo porque não é do feitio da Blumhouse ser tão condescendente assim.
Filme visto em Portugal, em fevereiro de 2020.
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