A Incrível História da Ilha das Rosas
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Sydney Sibilia
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L'incredibile storia dell'isola delle rose
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2020
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Itália
Crítica
Leitores
Sinopse
Um sujeito idealista constrói uma ilha no litoral italiano e a proclama uma nação independente. Claro, com esse gesto ele acaba chamando a atenção do governo.
Crítica
Qualquer (bom) manual de roteiro irá afirmar: se a realidade tem o direito de ser a mais absurda possível – afinal, quantas coisas acontecem diariamente que, se contadas, ninguém acreditaria? – a ficção possui um compromisso com a verossimilhança. Ou seja, se alguém decidir adaptar para o formato narrativo algo que se sucedeu de fato, esse deve ter um mínimo de comprometimento em dotar sua história dos elementos básicos para que, por mais improváveis que o conjunto possa parecer, quando exposto o todo deve soar convincente. Pois é justamente esse o mérito de Sydney Sibilia demonstra em A Incrível História da Ilha das Rosas. Não basta apenas, durante os créditos, exibir fotos das figuras reais para que se creia que tudo o que foi visto possa, enfim, ter se acontecido. É preciso que o modo como tudo é contado seja envolvente e justificado. Exatamente o que aqui se verifica – por mais que alguns exageros acabem pontuando um ou outro momento da trama.
Giorgio Rosa (Elio Germano, um dos grandes nomes do cinema italiano contemporâneo, artista premiado nos festivais de Berlim, Cannes e Veneza) é um tipo incomum: engenheiro, age como se estivesse sempre em um mundo próprio, no qual as regras dos demais parecem não se encaixar. Aliás, é justamente essa a maior reclamação da ex-namorada, Gabriella (Matilda De Angelis, de The Undoing, 2020). Advogada de legislação internacional, almeja os mais altos postos que sua profissão poderá lhe oferecer. Portanto, não pode ter por perto alguém tão alheio às regras e normas enraizadas na sociedade. Determinado a reconquistá-la, porém, ele decide trilhar o caminho mais longo – e difícil – para mostrar o quão certo pode estar: ao invés de se submeter às diretrizes dos demais, decide construir, do zero, um lugar todo seu, no qual apenas o seu modo de ver as coisas será interpretado como lei.
Quando o espectador se depara com Giorgio pela primeira vez, se encontra em Estrasburgo, sede das Nações Unidas na Europa. Seu pedido é bastante simples, ainda que inusitado: solicita reconhecimento da ilha que construiu como uma nação independente. Neste ponto, a narrativa retorna alguns anos para dar início a um entendimento de como algo que, num primeiro momento, soa como mero disparate, pode ter se concretizado. Afinal, foi esta a grande ideia dele: levantar no meio do oceano – não exatamente neste ponto, mas distante o suficiente para se posicionar além dos limites do território marítimo italiano – uma plataforma que pudesse se declarar independente de qualquer outro estado ou nação. É um começo tímido, bastante acanhado, de apenas um solitário contra o resto do planeta. Mas, rapidamente, irá descobrir não estar tão sozinho assim no seu anseio por liberdade.
Com a ajuda de um ex-colega – vem bem a calhar o fato de ser filho de um empreiteiro e, por isso, ter acesso livre ao material necessário para tornar essa fantasia em algo factível – a tal Ilha das Rosas começa a ganhar forma. Logo surge um náufrago desavisado que decide ficar por lá, uma moça grávida em busca de mais uma aventura – e menos julgamento por parte dos outros – e um promoter visionário, e será questão de dias para que a ambição de um reflita o anseio de muitos. Graças ao roteiro do diretor, escrito em parceria com Francesca Manieri (que neste ano esteve envolvida também com a série We Are Who We Are, 2020), ligações com a ONU – sim, a repercussão do inusitado feito acaba chegando até os Estados Unidos – e até com o Vaticano terminam por soar plausíveis, mostrando que, mesmo o mais inacreditável dos eventos pode ser possível.
Ciente de estar transitando por um limite tênue entre o risível e o improvável, Sibilia oferece uma leitura leve à história do homem que, em nome de um amor de uma vida, ousou enfrentar governos a ponto até de se apresentar como a mais inacreditável das ameaças. A Incrível História da Ilha das Rosas ganha pontos ainda pela coesão verificada no elenco, que apresenta também outros nomes de destaque, como o francês François Cluzet, o belga Fabrizio Rongione (Dois Dias, Uma Noite, 2014) e o alemão Tom Wlaschiha (Game of Thrones, 2012-2016). E no seu desfecho, quando finalmente as imagens de época evidenciam que tudo o que acabou de ser visto, de fato, se sucedeu, não serão poucos os que permanecerão boquiabertos diante de um conto surreal, mas verossímil na medida suficiente para ter alterado padrões e provocados mudanças que até hoje ecoam. Parece história de pescador, mas é apenas a verdade de um maluco apaixonado.
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