Crítica
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Crítica
Johnny Depp, no início de sua carreira, costumava fazer parte de um determinado grupo de atores “alternativos”, que atuavam às margens do “esquemão hollywoodiano”, raramente aparecendo em megaproduções e constituindo o cerne de suas trajetórias em trabalhos talvez de menor expressão, porém artisticamente mais ousados. John Cusack, Ewan McGregor e Colin Farrell são outros dessa turma. Um fato comum entre eles é que, por mais elogios que recebam (algo, aliás, bastante comum), invariavelmente acabam de fora das grandes premiações. Depp, no entanto, começou a trilhar outros rumos justamente em 2003, ano em recebeu uma inusitada indicação ao Oscar pelo seu Jack Sparrow de Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra (2003). E essa vontade rumo ao estrelato se comprovou neste que foi seu primeiro trabalho “pós-Oscar”, o frustrante A Janela Secreta, um raro passo em falso de uma filmografia até então repleta de grandes momentos, mas que, a partir deste ponto, começou a se tornar redundante e desnecessária.
Baseado num conto de Stephen King e roteirizado e dirigido por David Koepp (o mesmo do desastre Mortdecai: A Arte da Trapaça, 2015, novamente com Depp), A Janela Secreta é um bom exemplo de uma mania que foi muito recorrente pós-O Sexto Sentido (1999): surpreendentes reviravoltas finais que obrigam o espectador a refazer mentalmente a trama para que se entenda o que aconteceu. O problema é que Koepp, melhor roteirista (é autor de A Morte Lhe Cai Bem, 1992, e Homem-Aranha, 2002, entre outros) do que cineasta, não consegue forjar sua história com argumentos atraentes o suficiente para prender a atenção da audiência, oferecendo à trama um único fato relevante. Assim, o que era para ser suspense logo resvala no absurdo, e o pretenso mistério se dissipa numa conclusão óbvia e desinteressante.
Em A Janela Secreta, Johnny Depp aparece como Mort Dainey, escritor de sucesso que está curtindo um ressaca após o final do seu casamento. Ao mesmo tempo, ele busca inspiração para seu novo romance, pois a ruína do relacionamento afetou também sua veia criativa. Seu cotidiano monótono começa a ganhar vida quando um desconhecido aparece em sua porta afirmando ser o verdadeiro autor de um conto que ele teria escrito anos atrás. O incômodo visitante exige retratação pública, e para isso passa a ameaçá-lo com violência e impertinência. A interferência experimentada pelo autor durante esse processo passa a ser tão forte que o conceito de realidade e ficção do personagem passará a ser questionado, num contexto em que os limites serão testados com exageros e abusos, tanto verbais quanto físicos.
Presente em quase 100% das cenas, Johnny Depp é o coração e também o ponto fraco de A Janela Secreta – a história não precisa avançar muito para que perceba sua inadequação diante de um personagem que exige nuances sutis, e não arroubos de violência ou fragilidade. John Turturro – como o intruso que o acusa de plágio – e Maria Bello – como a ex-esposa – ao menos são mais convincentes, e sempre que se depende de um dos dois para oferecer verossimilhança ao que está acontecendo, a narrativa parece fluir com maior segurança. No entanto, o próprio material de origem já parece falho – tentar construir um longa a partir de um conto de poucas páginas é uma tarefa em que poucos conseguem ser bem-sucedidos (O Segredo de Brokeback Mountain, 2005, é a exceção que confirma a regra). E uma vez que o próprio Stephen King parece não ter acreditado muito na sua criação, por que esta adaptação deveria ter melhor sorte?
Apesar de ser artisticamente decepcionante, com um enredo fraco e atuações irregulares, A Janela Secreta fez uma boa carreira nas bilheterias, tendo arrecadado cerca de US$ 92 milhões no mundo todo, mais que o dobro do seu orçamento. Não foi suficiente para marcar o nome do protagonista como astro do primeiro time, mas serviu para que o mesmo permanecesse em alta por mais um tempo, ao menos até as continuações de Piratas do Caribe entrarem em cartaz. E se o seu maior sucesso parece descartável, ao menos se assume como tal e chega a ser divertido em vários momentos. Já este aqui se contenta em ser uma experiência desnecessária sob qualquer ponto de vista, carente de maiores inspirações e aquém dos talentos envolvidos, tanto de Depp quanto do próprio King.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 4 |
Thomas Boeira | 8 |
Francisco Carbone | 7 |
Chico Fireman | 5 |
MÉDIA | 6 |
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