Crítica
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Sinopse
Após o marido e a filha serem mortos a tiros em um drive-in, Riley acorda de um coma e passa os anos seguintes aprendendo a se tornar uma máquina de matar. No quinto aniversário da tragédia, ela tem como alvo os responsáveis, a gangue que cometeu o crime, os advogados que os libertaram e os policiais corruptos que permitiram que tudo acontecesse.
Crítica
Você já viu essa história antes. Muitas vezes. E acredite: ela já foi melhor contada do que nessa versão feminina de Desejo de Matar (1974) – que, inclusive, ganhou uma refilmagem há poucos meses. A Justiceira, no entanto, não engana ninguém: o que se encontra em cena é exatamente o que o nome promete: não Justiça, assim, com letra maiúscula e impondo respeito, mas alguém que pensa estar agindo em nome dela por conta própria, sem prestar contas nem satisfações a ninguém, apenas para sanar suas feridas. Em tempos como os que vivemos, ainda mais no Brasil, levar às telas um filme em que tudo se resolve com o pegar em armas e o assassinato desenfreado de qualquer um que cruze seu caminho não é apenas perigoso: é também irresponsável.
Riley North (Jennifer Garner) é bem casada e mãe de uma linda garotinha. A família, é claro, não vive num mundo encantado e cor-de-rosa – enfrentam problemas para pagar as contas no final do mês e precisam lidar com situações comuns, como rivalidades na escola da filha, por exemplo. Uma possibilidade de mudança se apresenta quando um amigo oferece ao marido dela uma oportunidade de participar de um golpe aparentemente simples, mas com um porém: seria contra um dos maiores mafiosos das redondezas. Ele reflete, pesa prós e contras, e toma a decisão acertada: melhor seguir na luta diária do que correr o risco das coisas saírem erradas e outros terem que pagar o preço de tamanha ousadia. No entanto, se passa tempo demais entre o convite e a recusa, o suficiente para chegar aos ouvidos do gângster, que sentencia: morte a qualquer um que a ele se oponha. E assim, o final de um dia num parque de diversões termina com um tiroteio, uma verdadeira execução, resultando em apenas duas vítimas: o homem que cogitou enfrentar o perigo e aquela que, inadvertidamente, estava ao seu lado naquele momento – a filha única.
Ao presenciar o duplo assassinato, Riley escapa com vida, mas não sem antes decidir transformar sua existência. Assim que consegue sair do hospital onde foi internada com ferimentos, simplesmente parte para o anonimato, desaparecendo o tempo suficiente para se recriar. Cinco anos se passam, e quando retorna está pronta para cumprir sua promessa: olho por olho, dente por dente. E assim dá início a uma onda de mortes, eliminando qualquer um a serviço do bandido, aproximando cada vez mais o cerco rumo ao temido Garcia (Juan Pablo Raba, de Os 33, 2015). Policiais infiltrados, oficiais corruptos, minorias desprezadas: os clichês estão presentes, um enfileirado atrás do outro. E como boa rebelde que decide agir em voo solitário, Riley também se compadece dos menos favorecidos, criando uma rede de pedintes e sem teto que a tratam quase como um anjo vindo do céu. Ninguém questiona seus métodos, apenas o resultado deles. A leitura é simples, ainda mais por dispensar qualquer análise a respeito tanto as motivações de suas atitudes, como as implicações a partir delas.
Jennifer Garner construiu sua carreira como uma heroína de ação, principalmente por causa da série Alias: Codinome Perigo (2001-2006) – pela qual ganhou um Globo de Ouro. Sua incorporação como a personagem das histórias em quadrinhos Elektra – tanto em Demolidor: O Homem sem Medo (2003) como no homônimo Elektra (2005) – foi digna da criação, porém ambos os filmes estavam aquém dos esforços por ela empreendidos. E nos anos seguintes, mesmo tendo aparecido em títulos elogiados, como Juno (2007) ou Clube de Compras Dallas (2013) – ambos indicados ao Oscar – ela nunca conseguiu se firmar como uma atriz do primeiro time. A Justiceira ao menos lhe oferece a chance de voltar a ser protagonista na tela grande. Mas se a vontade era somente essa, talvez fosse melhor ter esperado um pouco mais, ou mesmo abdicado de tal desejo, pois o estrago que a mera presença em uma produção tão problemática como essa só não será maior por causa de sua total insignificância – afinal, quem irá lembrar deste longa daqui um mês?
É curioso pensar assim, pois o diretor francês Pierre Morel fez história justamente com esse tipo de argumento “um contra todos”, com o sucesso inesperado do seu primeiro trabalho em Hollywood, o thriller Busca Implacável (2008) – que arrecadou nas bilheterias mais de dez vezes o valor do seu orçamento, ganhou duas continuações e fez de Liam Neeson um astro do gênero, revitalizando sua carreira. Lá, no entanto, era a luta de um personagem em busca da filha sequestrada, e tudo o que ele queria era trazê-la sã e salva para casa. Em A Justiceira, não há quem mereça ser resgatado, a não ser a protagonista, tão consumida pelo ódio e pelo desejo de vingança que parece cega a tudo que se passa a seu redor. E o final – alerta de spoiler – que ainda lhe passa a mão na cabeça, como que perdoando as barbaridades por ela cometidas até ali, não deverá garantir a personagem a paz almejada. No final, este é um filme que nasce de uma ideia equivocada, e a persegue até o último instante sem se dar conta das inúmeras pedras que é obrigado a constantemente desviar em seu caminho. Afinal, se o fim justifica os meios, é porque todos já perderam.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 2 |
Roberto Cunha | 6 |
MÉDIA | 4 |
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