Crítica
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Sinopse
Um acidente fluvial aponta para uma fraude no mercado de seguros. Uma viúva começa a investigar e o que surge é um emaranhado de manobras para tirar vantagem do sistema financeiro mundial.
Crítica
A Lavanderia é mais um dos longas-metragens norte-americanos recentes que tenta lançar alguma luz sobre o intrincado labirinto econômico que beneficia os ricos e, em contrapartida, se mostra perverso com os menos abastados. Não há exatamente uma figura protagonista, mas várias se intercalando como sintomas de um tecido putrefato formado por empresas de fachada e subterfúgios ao acobertamento de práticas (muitas delas lícitas) de maquiagem de grandes fortunas a fim de evitar a devida taxação. Jurgen Mossack (Gary Oldman) e Ramón Fonseca (Antonio Banderas) assumem a posição de mestres de cerimônia ao conduzir diretamente o espectador por esse emaranhado de regras específicas. Todavia, mesmo quebrando intermitentemente a quarta parede, sobretudo a fim de tornar o processo de explicação didático e palatável, eles não oferecem uma perspectiva singular, a não ser simplesmente do ponto de vista pedagógico. Eles estão ali para esclarecer.
A Mossack e Fonseca, empresa dos narradores que destilam charme e cinismo, é inspirada na factual homônima que esteve no centro do Panamá Papers, escândalo gerado pelo vazamento de informações sobre offshores – empresas abertas em territórios com menor tributação. Entretanto, diferentemente de filmes relativamente similares, em tom e intenção, como A Grande Aposta (2015), A Lavanderia não constitui um corpo de personagens, tampouco de circunstâncias, realmente consistente para dar conta da sordidez com a qual almeja desnudar um sistema fraudulento. A pessoa que deflagra, dentro da trama, que há algo de muito errado em simples transações, tais como a contratação de seguros, é Ellen (Meryl Streep), viúva completamente desassistida após a morte do marido num acidente fluvial. Mas, apesar do que se poderia imaginar por sua atuação inicial, ela não é uma destacada agente para desmantelar as torpes falcatruas.
O grande problema de A Lavanderia é a dispersão na abordagem dos temas. Oscilando entre as aulas dos advogados e as histórias atravessadas pela criação desenfreada de companhias visando a maquiagem das configurações tributárias, a produção não alcança uma efetividade desafiadora e/ou instigante. O diretor Steven Soderbergh, que já havia feito com Erin Brockovich: Uma Mulher de Talento (2000) um filme sobre alguém “manso” lutando contra o poder descomunal dos enormes conglomerados, aqui fica no meio do caminho entre repetir a dose, sem variações e semelhante pungência, e afastar-se do modelo “David vs Golias” com o intuito de construir um painel mais diversificado. Ao hesitar entre as duas opções o realizador permite que o conjunto se desenvolva de maneira vacilante, sequer detendo-se na construção de personalidades indicativas das situações esquadrinhadas a partir da desfaçatez dos dois narradores/gestores que se gabam.
Há em A Lavanderia a vontade de brincar com a própria ideia de representação, vide os instantes em que Gary Oldman e Antonio Banderas transitam por cenários tão falsos quanto a responsabilidade financeira de seus personagens. O mesmo também pode ser visto no fim, quando Meryl Streep tem um momento monologar para colocar ainda mais o dedo na ferida. Contudo, Steven Soderbergh se contenta com incisões protocolares, inclusive no que tange a essa pequena subversão da principal camada fabular do enredo. Sequências como a do bilionário que tenta subornar a filha acentuam a dispersão, pois pouco acrescentam ao todo, senão um breve indício de como o sistema em questão poderia ser utilizado para burlar contendas familiares. Não mergulhando profundamente no escândalo, permanecendo num espaço seguro e professoral, o cineasta mira um grave rasgo no nosso tecido social, porém sem a potência suficiente para um apontamento impactante.
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