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Crítica


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Sinopse

Esclarece as mudanças promovidas pelo novo Código Florestal e a polêmica sobre a sua elaboração e implantação. Mostra como a lei impacta diretamente a floresta e, assim, a água, o ar, a fertilidade do solo, a produção de alimentos e a vida de cada cidadão. Retrata ainda casos concretos de degradação ambiental e técnicas agrícolas sustentáveis que podem conciliar os interesses de conservação e produção da sociedade.

Crítica

Um dos problemas mais graves pelo qual o Brasil – e o mundo – está passando é a questão da água, da renovação das fontes naturais e da busca por alternativas no caso de escassez da mesma. Foi pensando nisso que o cineasta Fernando Meirelles – indicado ao Oscar por Cidade de Deus (2002) e dono da O2 Filmes – apostou na produção do documentário A Leia da Água: Novo Código Florestal, longa dirigido pelo cineasta André D’Elia (Vidas sobre Rodas, 2011). E o título – que, por sinal, não poderia ser mais apropriado – se debruça sobre a situação brasileira relacionada ao tema, levantando questões ambientais, sociais e políticas a respeito e destacando como a bur(r)ocracia tem dificultado qualquer tipo de planejamento visando a preservação deste recurso no país.

Ao entrevistar cerca de quarenta pessoas, a maioria de uma forma ou de outra diretamente relacionada à questão, D’Elia consegue compor um painel bem amplo e diverso. Porém, mais do que correr para apontar culpados sobre a falta da água e os maus cuidados que ela recebe em nosso país, ele decide estruturar seu documentário como um trabalho investigativo, levantando questões históricas, voltando no tempo e iluminando episódios que merecem uma atenção mais detalhada. Assim partimos dos anos 1950, quando foi aprovado o primeiro Código Florestal brasileiro, a importância da mídia ao levar o assunto para a massa e dotá-lo da importância merecida. Entendendo o passado, começamos a compreender o presente. Deste ponto, vasculha-se o grande território nacional, do Rio Grande do Sul ao Acre, da Amazônia à Bahia, do Mato Grosso ao Rio de Janeiro, de São Paulo à Roraima. E o que percebemos em comum, independente da região, é um profundo desrespeito à natureza e um trabalho hercúleo daqueles que se dispõem a dedicar suas vidas em busca de uma preservação tão necessária quanto desconsiderada.

O que fica mais evidente durante este intenso jogo de discursos e depoimentos é a absoluta inaptidão daqueles que são os responsáveis pelas diretrizes que comandam o país: ou seja, os políticos. A grande maioria dos aqui ouvidos, do senador Blairo Maggi (PR-MT) ao deputado federal Luis Carlos Heinze (PP-RS), não tem a menor noção do que estão falando, preocupados apenas com o aqui e agora dos seus comprometimentos politiqueiros, sem qualquer tipo de consciência ambiental e, pior, desprovidos de uma visão global do assunto. Afinal, a tese medíocre que defendem é a de que qualquer cuidado com a natureza representa um atraso e uma perda de terras para a agricultura ou pecuária, esquecendo, no entanto, que estas são atividades que dependem, acima de tudo, do solo, da planta, do sol, da chuva... enfim, da água que aqui, mais do que nunca, significa vida. Assim, ao oferecem declarações retrógradas e assumidamente cegas em relação ao debate tudo o que demonstram é uma ignorância atroz.

O desmatamento generalizado, o desrespeito à Constituição, a falta de um projeto de educação ambiental, o mau uso dos agrotóxicos, a existência e manutenção de uma legislação ultrapassada e comprometida, ações punitivas sem efeitos práticos, a extinção crescente de espécies animais e vegetais, as enchentes e desabamentos, o sistema fragilizado e o despreparo total das autoridades em lidar com o tema são expostos e aprofundados através de uma montagem dinâmica, que não deixa o interesse cair em nenhum momento. A Lei da Água, no formato que é apresentado – são apenas 75 minutos – revela-se um documento fundamental para o entendimento do país que temos em mãos hoje, e o quão necessárias são mudanças urgentes para que possamos sonhar com um amanhã viável para todos nós.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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