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Sinopse

Morador de uma floresta mágica, Jack resolve levar a princesa Lili para passear, mas acaba chamando a atenção do Senhor da Trevas, cujos asseclas raptam a donzela. Jack precisará correr contra o tempo para salvar sua amada.

Crítica

Em mais de uma vez durante A Lenda, um dos personagens se questiona sobre a possibilidade de estar sonhando, mesmo vivendo em um mundo onde fadas, unicórnios, duendes e bruxas são comuns aos seus habitantes. E, de fato, poderiam estar mesmo, pois o diretor Ridley Scott é eficiente ao conferir um tom onírico ao seu filme. Contando ainda com diálogos líricos e seres fantasiosos – muito além do que tange a sua natureza – ele consegue evocar de maneira exemplar o espírito de uma fábula sobre magia, atendo-se ao mais simples dos conflitos: a luz versus a escuridão.

Quando uma entidade demoníaca (Tim Curry, coberto de maquiagem dos pés a cabeça) decide extinguir a luz do mundo, Jack (Tom Cruise), Lili (Mia Sara) e Gump (David Bennent) partem para salvar o último unicórnio vivo das garras do vilão, pois somente com o sacrifício do animal ele poderá concretizar seu plano. A Lenda é uma aventura que Scott trata como a maior parte dos seus filmes desta época: há um tom apático em sua direção no que diz respeito a ligação que cria entre o espectador e seu filme. Seus personagens estão claramente à parte do nosso mundo, e o cineasta conscientemente jamais tenta aproximá-los do espectador, sem gerar uma identificação, por mais que esta certas vezes fosse possível. Ele está ali para contar uma história, e o faz com uma competência admirável.

Pois digam o que quiserem do diretor, mas não que este não conduz com habilidade os universos que capta com sua câmera. Mesmo em seus filmes mais subestimados, é inegável seu domínio da direção. Em A Lenda, ele se demora em planos contemplativos – como aquele dos unicórnios no rio – explorando os espaços enquanto as cenas se desenrolam, como quando estabelece o chalé, no começo do filme, até os salões escuros que ambientam o clímax. Unido a isso temos uma trilha encantadora de Tangerine Dream e um trabalho incrível de design de produção, que sem a ajuda de efeitos digitais entrega um esforço manual assombroso de tão detalhado e caprichado. O mesmo também vale para a maquiagem e figurinos, que nunca deixam a desejar, e mesmo as óbvias próteses usadas por Curry não subtraem o impacto de seu personagem.

O antagonista, aliás, embora pouco apareça em frente às câmeras, é sentido durante toda a duração: sua ameaça paira sobre os nossos heróis do primeiro minuto até seu desfecho. Enquanto isso, Cruise e Sara, mergulhados nas figuras que interpretam, jamais deixam de soar como se fossem realmente oriundos daquele mundo mágico. Por fim, Bennent, com seu perspicaz Gump, é quem rouba o filme para si com gestos abertos e entonações grandiloquentes. O pequeno elfo não nega sua natureza mágica, e seu intérprete esforça-se para fazê-lo vagar da extrema bondade e admiração até a raiva impassível. E os três, ao lado de mais dois anões, formam um grupo curioso de protagonistas, ainda que pouco carismáticos – provavelmente devido não aos atores ou ao roteiro em si, e sim a Scott e a já citada distância que cria propositalmente entre eles e nós deste lado da tela. Não que seja um percalço deste longa-metragem e de outros seus, mas uma abordagem que o diretor escolhe de forma lúcida e está a mercê do julgamento do espectador, podendo surgir defensores e detratores, dependendo exclusivamente do gosto alheio.

De certa forma, é até funcional que o cineasta construa esta barreira separando o público da história que está sendo contada. Uma vez que contos de fadas normalmente são lidos, esta distância acaba fazendo A Lenda soar como uma história que nos é narrada pelo diretor a partir de um velho livro. Mas o que importa é que é a sua versão que vale; começa na escuridão e termina com um nascer do sol, fechando de forma redonda o seu projeto, ao contrário do que acontecia quando ficávamos imaginando que fim levara Ripley (Sigourney Weaver) em Alien (1979) – James Cameron nos contou mais tarde – ou Deckard (Harrison Ford) em Blade Runner (1982) – o próprio Scott irá nos contar em uma já anunciada continuação. Aqui trata-se de uma trama mais simples, clássica e simplista, o que não a impede de ser encantadora e deslumbrante.

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é formado em Produção Audiovisual pela PUCRS, é crítico e comentarista de cinema - e eventualmente escritor, no blog “Classe de Cinema” (classedecinema.blogspot.com.br). Fascinado por História e consumidor voraz de literatura (incluindo HQ’s!), jornalismo, filmes, seriados e arte em geral.
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