Crítica
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Sinopse
Desde que perderam um bebê, o que Hanna e Benjamin mais querem é tentar ter outro filho. Para tal, ela conta com a fé que tem em Deus, e por isso estuda diariamente a Torá, mesmo que em sua comunidade essa prática seja restita aos homens. Quando uma epidemia assola a região e a culpa recai imediatamente sobre os judeus, ela tentará usar seu misticismo para convocar um golem, sem saber que a criatura é mais perigosa do que pensa.
Crítica
A primeira adaptação da figura folclórica Golem para o cinema data, inacreditavelmente, de um curta de 1915 – ou seja, há mais de um século tem se tentado transpor esse personagem da cultura judaica para a tela grande. Algumas dezenas de projetos já tentaram a sorte, e nenhuma conquistou um espaço minimamente digno junto à memória dos espectadores. É pouco provável que A Lenda de Golem tenha destino diferente, por mais que os esforços da dupla de realizadores Doron e Yoav Paz sejam nítidos em todo o projeto, desde a concepção da trama até os cuidados técnicos, suficientemente competentes para elevar o conjunto da mediocridade irrelevante a qual usualmente se destinam produtos similares.
A intenção, dessa vez, é ambicionar um mercado internacional. Tanto que, apesar de ser uma produção israelense, o elenco inteiro atua em inglês – sem um sotaque carregado, o que facilita a naturalidade das interpretações – e as filmagens foram na Ucrânia, um destino cada vez mais comum em Hollywood, desde musicais (Mamma Mia: Lá Vamos Nós Outra Vez, 2018) até filmes de aventura (Robin Hood: A Origem, 2018). O objetivo, portanto, é compor com equipe e atores uma unidade destinada a agradar os fãs do gênero – o terror sobrenatural – muito além daqueles já iniciados. O Golem pode ser uma figura bastante conhecida em determinados nichos, mas não é (apenas) a esses a quem o filme se destina.
Hanna (Hani Furstenberg, de Planeta Solitário, 2011) é uma mulher muito religiosa – até demais, se forem perguntar aos seus vizinhos e conhecidos. Afinal, estamos em pleno século XVII em uma vila perdida no meio do nada, época e lugar em que o estudo da Cabala era restrito aos homens. No entanto, desde que perdeu o único filho, há sete anos, ela tem se refugiados nos ensinamentos sagrados. O marido, Benjamin (Ishai Golan, de O Tango de Rashevski, 2003), acredita que assim ela busca por conforto. O rabino não vê o comportamento dela, no entanto, com bons olhos. Porém, ela está atrás de algo a mais. Quer uma resposta. Qual a razão de tanto sofrimento, e como dar fim à sua dor?
Quando a peste se alastra pela região, o vilarejo, até por suas características de isolamento, não é afetado. Os povos próximos percebem isso como um sinal de bruxaria e decidem atacá-lo. Só que, ao invés de se defenderem, os judeus se veem acuados e obrigados a obedecer. A única que deseja reagir é Hanna. E sua arma será uma só: invocar o Golem, um espírito maligno que apenas as escrituras mais antigas mencionam. E por mais que seja alertada, quando a criatura se manifesta na forma de uma criança, é o menino que perdeu anos atrás que vê diante de si. Assim, terá em seus braços algo pelo qual há muito ansiava, mesmo que ignore a verdadeira natureza deste ser. Ela pensa ter conjurado um espírito de proteção. Mas o que está ao seu lado é formado apenas por maldade, e não tardará a agir de acordo.
Com uma fotografia estudada, que equilibra a plasticidade dos cenários com a funcionalidade destes na ação, e uma trilha sonora eficiente, que evita os caminhos mais óbvios para contribuir na composição sensorial almejada, A Lenda de Golem ganha pontos também pelas boas performances dos seus atores, principalmente os dois protagonistas – ela em sua cegueira, ele em pleno temor entre defender seu povo ou perder sua família. No entanto, há exageros evidentes, desde o uso equivocado de efeitos especiais que poderiam ser evitados, até maneirismos de edição que tentam aproximar a obra de uma contemporaneidade que não lhe é positiva. E entre resvalos escatológicos e um argumento que, se não original, ao menos mantém a curiosidade a despeito do desfecho inevitável que anuncia, tem-se um resultado acima das expectativas. Por mais que essas sejam, inequivocamente, baixas.
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