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Crítica


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Sinopse

Um jovem camponês demonstra aptidão para a pintura no Chile dos anos 1960. Ele é descoberto por um farmacêutico disposto a tudo para que o mundo reconheça o seu talento, mas o golpe militar de 11 de setembro de 1973 ameaça colocar esse sonho a perder.

Crítica

Mais uma vez a seleção de filmes latinos da mostra competitiva foi muito superior à nacional. E outra boa surpresa foi o longa latino A Lição de Pintura, representante do Chile. Baseado num romance de muito sucesso no seu país de origem, de autoria de Adolfo Couve, o longa de Pablo Perelman se passa nas vésperas do golpe militar que tomou o poder no início dos anos 70. Numa cidadezinha no interior, um talento singular se revela. Essa descoberta ao mesmo tempo em que destaca a importância do indivíduo, abre chance para desvendar um painel social do que ocorria simultaneamente por todo a nação. A analogia é tão pertinente quanto delicadamente desenhada, e em nenhum momento a obra se aproxima de qualquer tipo de didatismo mais protocolar. Este é um filme feito com a emoção das pequenas conquistas e com muita sabedoria.

Um menino, filho de mãe solteira e apadrinhado pelo farmacêutico local, demonstra uma habilidade única para a pintura. Enquanto esse dom vai se revelando e se aperfeiçoando, o país parte num conflito interno que levaria anos para superar. Mas pior mesmo será quando os dois se cruzarão – nação e garoto – causando uma tragédia sem solução, igual a tantas outras, mas ainda assim absurdamente dolorosa. Acompanhamos a trajetória solitária daquela mulher que, rejeitada pela família e amigos, encontra abrigo entre desconhecidos que vêem nela não o que ela é, mas sim o que desejam. Como a velha senhora da janela, que insiste em confundi-la com outra vizinha. Assim fica mais fácil a convivência. E num estrato mais simples, as soluções necessitam ser práticas e objetivas. Assim como a relação que se estabelece entre a jovem mãe e o dono da farmácia, uma mistura de admiração, gratidão, desejo e amizade. Mas se os laços que se estabelecem se mantém sobre linhas muito frágeis, esse equilíbrio será alterado quando a diferença – o menino e seu dom especial – se fizer presente.

Um dos nomes de maior crédito da produção é o do ator Daniel Giménez Cacho, que já trabalhou até com Pedro Almodóvar (Má Educação, 2004). O diretor Pablo Perelman estava há anos afastado do cinema, dedicando-se mais à publicidade e à televisão, mas demonstra aqui ter conservado a boa forma. Ele consegue fazer de A Lição de Pintura uma obra comovente e envolvente, que merece ser observada com carinho e atenção. O final pode soar cruel e abrupto demais, mas justifica-se dentro da proposta desenhada. A arte e a cultura possuem um poder transformador, mas como se manifestar e abrir espaço para sua ação quando a força bruta de impõe com tamanha irracionalidade? As questões levantadas são muitas, e a genialidade artística aqui adquire uma outra dimensão, muito mais profunda e intensa. Para se ver, sentir e refletir.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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