Sinopse
Mike McKenna é um cara comum que trabalha como empreiteiro. Recrutado para uma missão inesperada, acaba se tornando um espião.
Crítica
Mike (Mark Wahlberg) é um sujeito comum. Trabalhador norte-americano da construção civil, ele mora na cidade onde nasceu, cultiva as mesmas amizades da escola e não parece almejar muito mais do que isso. Eis que um dia, sem mais nem menos, reaparece a sua ex-namoradinha da época de estudante, Roxanne (Halle Berry), depois de mais de 20 de ausência. Drogado com um tranquilizante, o sujeito pacato acorda na capital da Inglaterra e é convidado a fazer parte de uma agência extraoficial encarregada do trabalho sujo que as instituições ligadas aos governos não conseguem ou não assumem. Desse modo, o protagonista de A Liga é o típico personagem de vida medíocre que repentinamente ganha a oportunidade de entrar num mundo excitante que lhe parecia acessível apenas nos filmes. O roteiro de Joe Barton e David Guggenheim não se preocupa muito com a profundidade emocional e psicológica das pessoas envolvidas nessa confusão com espiões morrendo e conspirações obscuras ameaçando deslocar o poder para as mãos de quem puder pagar mais. Está em jogo a utilização de um dispositivo capaz de revelar as identidades de todos os agentes secretos do planeta, o que certamente criaria um caos sem precedentes. Mike é a reprodução de um modelo de protagonista bastante utilizado nos cinemas: o sujeito “normal” a quem é oferecida a possibilidade inesperada de fazer a diferença.
A antes citada falta de profundidade emocional e psicológica dos personagens não chega a ser um problema, sobretudo se encararmos o filme por aquilo que ele é: uma aventura levemente cômica em que a suspensão da descrença é fator primordial para o nosso divertimento. Por mais que a Liga seja definida como uma instituição misteriosa formada de pessoas de características ordinárias e Mike seja citado como antigo atleta, é recomendável fazer vista grossa, entre outras coisas, para o resultado imediato do treinamento dele como espião. Num clipe ligeiro, vemos o protagonista evoluindo de maneira irreal em práticas de tiro, luta corporal, direção agressiva e nas outras tarefas que os agentes da Liga precisam completar a fim de trabalhar em campo. No entanto, esse não é um filme que pretende construir universos necessariamente críveis. O realizador está mais empenhado em brincar com a fantasia que James Bond e outros agentes secretos ajudaram a plantar no imaginário do público. Assim, a formação relâmpago não chega a incomodar. Importante em A Liga é a interação de Mark Wahlberg e Halle Berry, sobretudo a forma como eles vão se reaproximando amorosamente à medida que a missão de impedir um leilão internacional se torna mais perigosa do que o imaginado por seus superiores. Por falar nos chefões, J.K. Simmons se sai muito bem como o líder dos esforços heroicos para salvar o mundo.
A Liga tem ação entrecortando os flertes de Mike e Roxanne, além de mistérios envolvendo dedos-duros, extremistas disputando o tal dispositivo comercializado clandestinamente e definições claras entre o bem e o mal. Do ponto de vista da direção, o cineasta Julian Farino não faz muito mais do que repetir alguns cacoetes desse tipo de filme e conduzir seus astro e estrela principais da melhor maneira possível por um caminho bastante conhecido pelo público. Sem grandes surpresas ao longo do caminho, o longa-metragem se sustenta, basicamente, no charme individual (e em dupla) de Mark Wahlberg e Halle Berry. Ele desempenha um papel ao qual se acostumou ao longo dos anos, o do cara relativamente comum capaz de fazer coisas louváveis. Ela apresenta uma composição mais interessante, a da mulher que saiu do interior e atualmente vive em viagens que lhe proporcionam missões extremamente perigosas. Vencedora do Oscar de Melhor Atriz por A Última Ceia (2001) – aliás, ela é a primeira intérprete negra a ganhar a estatueta oferecida pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood –, Halle Berry é o principal destaque dessa produção em quase tudo genérica e derivativa. Ela está muito bem na pele da agente tática e tecnicamente precisa, uma das principais garantias de que o “mundo ocidental” pode dormir mais uma noite tranquila, pois os malvados estrangeiros não vencerão.
Há filmes que continuam conosco após as sessões e existem aqueles facilmente esquecíveis, os pouco notáveis que não deixam marcas na nossa lembrança. A Liga certamente é uma dessas produções que vão desaparecendo da memória tão logo a sessão termine, principalmente porque não faz muito mais do que repetir velhas fórmulas e dar desculpas mal formuladas para os personagens agirem de determinadas maneiras. No entanto, é preciso pontuar que mesmo sendo mais do mesmo, no fim das contas, a história comandada por Julian Farino tem o seu charme, seja pela presença magnética de Halle Berry em cena ou mesmo em virtude da capacidade de Mark Wahlberg de passar credibilidade ao interpretar um cidadão médio norte-americano. Sobre a visão geopolítica que o filme apresenta, ela pode ser considerada anacrônica, sobretudo por seguir a cartilha (fruto da Guerra Fria) dos filmes de espionagem lançados nos anos 1960/70/80, ou seja, mostrando norte-americanos e britânicos como salvadores enquanto desenha russos e médio-orientais como vilões inescrupulosos. Senão vejamos. A quem compete parar o vil plano de comercializar um dispositivo perigoso? Aos anglo-saxões. E de onde vêm os grupos malvados sem subjetividade que tentam expor os integrantes da rede de segurança ocidental? Rússia, Irá e de outros excluídos do clube imperialista onde nativamente se fala inglês.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 5 |
Leonardo Ribeiro | 5 |
MÉDIA | 5 |
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