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Crítica

Adrian Messenger (John Merivale) é um escritor famoso, veterano de guerra, que suspeita de uma tramoia que pode tirar sua vida. Amigo do ex detetive da MI-6 Anthony Gethryn (George C. Scott), passa uma lista com nomes que aparentemente teriam pouca ligação entre um e outro pedindo uma verificação de seus locais de residência. Poucas horas depois, a explosão de um avião rouba a vida de Messenger, que ainda consegue passar uma última mensagem a um tripulante sobrevivente, o francês Le Borg (Jacques Roux). Com a lista em mãos e as últimas palavras de Messenger em mente, Gethryn parte para uma investigação intrincada, na qual descobrirá que aqueles nomes tem, sim, algo em comum. Todos tiveram um final inesperado, uma morte terrível. Ou quase todos. Ainda existem sobreviventes naquele papel e cabe a Gethryn correr contra o tempo para que estes não tenham o mesmo desfecho dos demais. Em linhas gerais, esta é a trama do suspense A Lista de Adrian Messenger, dirigido pelo mestre John Huston e roteirizado por Anthony Veiller (de Assassinos, 1946).

No filme, Huston tentou modificar o conhecido whodunit - no qual o espectador precisa descobrir quem é o assassino - colocando mais um mistério para o seu público: a identidade dos atores que passeiam pela tela. Além de Kirk Douglas (que é o principal nome atrás das máscaras de látex), temos Burt Lancaster, Tony CurtisFrank Sinatra e Robert Mitchum em participações especiais, "atuando" debaixo de pesadas maquiagens. O recurso não é dos mais interessantes e talvez tenha servido à época para dar maior visibilidade ao longa-metragem. Nos dias de hoje, soa como um artifício descartável - ainda mais ao sabermos que boa parte dos atores que "participaram" do filme não estavam sob maquiagem, tendo sido substituídos por dublês. Frank Sinatra, por exemplo, só aparece ao final, na hora da revelação. Alegadamente, só chegou para fazer aquela diminuta cena e ainda recebeu US$ 75 mil para dar as caras. Burt Lancaster também teria aparecido apenas ao final. Se não era possível descobrir onde estavam os atores, para que serviu o expediente?

Colocando este artifício de lado, A Lista de Adrian Messenger reserva bons momentos para o espectador. George C. Scott dá astúcia na medida certa para o detetive da história. O melhor da performance do ator são os tempos utilizados pelo personagem para pensar. A cada novo diálogo e a cada nova pista encontrada por Gethryn, Scott respira, coça o bigode, reclina-se no seu acento. Ele não dispara respostas diretas. O personagem parece realmente pensar as suas respostas, não apenas recitando as frases que estavam no roteiro. Por estas e outras, o ator é destaque em um elenco que ainda conta com o astro Kirk Douglas como antagonista. Escondido pela maquiagem no início do filme, Douglas consegue divertir no terceiro ato, quando aparece sem qualquer tipo de camuflagem na fazenda dos Bruttenholm.

Outros pontos a serem ressaltados no longa-metragem de John Huston são os enquadramentos sempre inventivos e a eficiente fotografia em preto e branco, que maximiza o teor de suspense da história. Huston brinca com o espectador e não esconde a identidade do assassino, mas confunde o público ao não revelar todas as informações até o final. Em uma das melhores cenas do filme, o diretor sugere que o vilão terá a vitória, até desvelar um segredo que muda os ventos a favor dos mocinhos. Isso não chega a ser um spoiler, visto que na década de 1960 um antagonista conseguir sair ileso ou vitorioso de uma trama como esta simplesmente não seria aceito pela censura norte-americana.

Com bom elenco de apoio, com destaque para o francês Jacques Roux e para o veterano Clive Brook, A Lista de Adrian Messenger pode ter envelhecido mal, mas ainda tem predicados que podem atrair os fãs de histórias policialescas, que ainda viram avidamente as páginas de romances de Agatha Christie ou Sidney Sheldon. Pode não ser um dos melhores trabalhos de John Huston, mas cativa por ser um classudo exemplar de suspense sessentista.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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