Crítica
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Sinopse
No final da década de 1950, uma mulher recém-chegada em uma pacata cidade do litoral da Inglaterra decide abrir uma livraria. Contudo, sua iniciativa é vista com maus olhos pela conservadora comunidade local, que passa a se opor tanto a ela quanto ao seu negócio, obrigando-a lutar por seu estabelecimento.
Crítica
Florence Green (Emily Mortimer) é uma viúva da Guerra que, após um longo tempo de luto, decide seguir em frente. Seu plano é simples: abrir uma livraria na pequena cidade de Hardborough, na costa inglesa. Para tanto, após muito pesquisar, adquire o velho casarão apropriadamente chamado de ‘Old House’, que estava desocupado há anos. Ela não apenas irá morar ali, mas, no andar de baixo, empreender seu comércio, uma atividade de importância dupla para ela: além da paixão que sente pelos livros, há ainda a memória afetiva de ter sido em um lugar como esse que conheceu o marido. E assim também é a percepção inicial que temos a respeito de A Livraria, impressão essa que muda radicalmente após conhecermos os nomes das duas mulheres por trás desse projeto: a diretora espanhola Isabel Coixet e a escritora inglesa Penelope Fitzgerald. E quem conhece a obra de ambas sabe de antemão que elas não estão acostumadas a vender um mundo cor-de-rosa.
Pois vem pedreira em A Livraria, e as dificuldades não tardam a se manifestar. Primeiro com o gerente do banco: “até gosto de ler, duas ou três páginas à noite, antes de dormir”. Depois, com o pantaneiro: “a senhora é muito corajosa, abrir uma livraria num lugar como esse”. Das fofoqueiras de plantão aos vizinhos que estranham uma mulher com iniciativa, as coisas se complicam de vez quando nossa protagonista conhece a senhora Violet Gamart (Patricia Clarkson), a benfeitora local que sonhava em transformar a ‘Old House’ em um centro de artes. “Por que não fez isso durante todos os anos em que a casa esteve abandonada?”, se pergunta Florence. Para Violet, porém, uma outra pessoa – ainda mais uma mulher – ter tomado a sua dianteira é quase uma ofensa. A questão se torna pessoal. E quando as intenções são as piores possíveis, os caminhos se abrem com impressionante facilidade.
Isabel Coixet é uma diretora preocupada com seus personagens. Títulos como A Vida Secreta das Palavras (2005) e Fatal (2008), entre tantos outros, deixaram isso claro. Porém, não é exatamente pelo bem-estar deles que ela se interessa. É mais sobre suas decisões e as consequências dessas, muito em parte devido ao meio em que estão inseridos. E o cenário imaginado pela autora Penelope Fitzgerald não é dos melhores. É um vilarejo que, imagina-se, seja um destino aprazível para uma visita no fim de semana, por não mais do que duas ou três horas. Agora, aqueles que lá vivem estão tão envolvidos por si mesmos e pelas pequenezas que os rodeiam que parecem pouco se importar em se abrirem ao mundo. Soa mais pertinente se ocuparem em espalhar boatos ou meias-verdades, notícias ouvidas ao pé do ouvido e sem relação com o contexto em que foram geradas, do que mergulharem numa realidade alternativa, provida pela literatura.
Aliás, pouco se fala diretamente sobre livros em A Livraria. E quando esse assunto vem à tona, é mais por causa do Sr. Brundish (Bill Nighy), aquele que se mantém recluso menos por não querer sair – o que, quando é preciso até faz, assim descobrimos – e mais por não querer deixar entrar – afinal, o desprezo que sente por quem o circula não só é justificado, como também determinará sua ruína. Não é por acaso, portanto, que os dois únicos volumes citados nominalmente durante todo o filme sejam Fahrenheit 451, de Ray Bradbury – sobre uma sociedade (não tão) utópica que queima os livros em nome de um bem-estar geral – e Lolita, de Vladimir Nabokov – sobre como um ato de paixão e desejo pode destruir a vida de uma pessoa a partir dos comentários gerados por essa iniciativa. Essas escolhas não são por acaso, e o intertexto que surge entre elas e este filme diz tanto a respeito das intenções de suas realizadoras como também da capacidade de entendimento de sua audiência.
Assim como as expectativas são altas, também acima do esperado será o preço a ser pago por tamanha audácia. Logo no início, Florence Green se emociona com um convite para uma festa, e mesmo usando um vestido desconfortável e indo ao compromisso sem saber o que lhe espera, seu retorno é antecipado após uma série de desilusões. Este é apenas um prenúncio do que lhe está reservado para os dias seguintes. As dores que a acompanham desde muito não irão desaparecer com um abrir de portas ou um folhear de páginas. Ao encarar essa verdade sem rodeios, A Livraria se torna muito mais do que poderia ter almejado, engrandecendo não apenas o resultado, mas também os esforços dos envolvidos. Tanto do lado de lá da tela como, também, destes daqui que, dotados de uma visão privilegiada, até podem antecipar alguns passos, porém pouco fazer para impedi-los. E, assim como a protagonista, resta-nos não apenas a resignação, mas também a capacidade de dar a volta por cima e começar de novo. Não iguais, mas melhorados, pois ao menos uma lição foi aprendida.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 8 |
Roberto Cunha | 6 |
Bianca Zasso | 8 |
Francisco Carbone | 6 |
MÉDIA | 7 |
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