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Crítica


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Sinopse

Um casal se divorcia. Os dois filhos adolescentes precisam lidar com a situação. A tensão familiar aumenta quando a carreira da ex-esposa decola e ultrapassa em importância os esforços do ex-marido professor.

Crítica

Bernard Berkman (Jeff Daniels) é um professor universitário que, anos antes, quando ainda jovem, lançou um livro muito celebrado pela crítica e pelo público. Desde então vem tentando repetir a façanha, sem atingir o mesmo bom resultado. A situação anda tão estranha que seus novos originais começam até a ser recusados pelas diretoras, que se negam a seguirem publicando-o, devido aos fracos desempenhos dos últimos trabalhos. Por outro lado, Joan Berkman (Laura Linney), esposa de Bernard, passou anos ensinando seus alunos, e agora, pela primeira vez, se arrisca como autora literária, com um efeito impressionante. O conflito intelectual que se estabelece no casal se refletirá também por toda a família, desintegrando uma estrutura já delicada e provocando conseqüências provavelmente irremediáveis.

Esta é a trama de A Lula e a Baleia, um título estranho, porém apropriado para este filme que marca a estreia na direção do roteirista Noah Baumbach, até então parceiro habitual de Wes Anderson. E o resultado é impressionante, tendo rendido ao diretor novato uma indicação ao Oscar deste ano na categoria de Roteiro Original, prêmio que conquistou no National Board of Review e no Festival de Sundance (onde ganhou também como diretor), entre outros reconhecimentos da crítica. Este filme foi ainda indicado ao Globo de Ouro como Melhor Filme, Ator e Atriz. O curioso foi que nesta última premiação as indicações foram nas categorias de Comédia ou Musical, sendo que o que temos aqui não é nem uma coisa, nem outra. Trata-se, sim, de um drama, que apesar de não deixar o bom humor irônico e uma crítica inteligente de lado, consegue comover e provocar a reflexão.

O que mantém um casal unido? Ou, de modo mais amplo, quais elementos em comum que estruturam uma família? Será a força, o tamanho, ou a habilidade de adaptação e capacidade de estratégia? Estas questões habitam as mentes dos quatro Berkman, pai, mãe e filhos, interpretados por um ainda adolescente Jesse Eisenberg e a criança Owen Kline (filho do ator Kevin Kline). Quando homem e mulher se separam, mais por questões de ego e inquietações individualistas do que por simplesmente não se amarem mais, são, acima de tudo, os dois filhos que se dividem. Esta cisão fica muito clara já na primeira cena, durante um jogo de tênis, em que o pai e o filho mais velho – os mais fortes, brutos e emocionalmente imaturos – estão juntos enfrentando a mãe e o mais novo – ambos frágeis, instáveis, porém mais propensos à inventividade e à criação.

A Lula e a Baleia incomoda. Seja pela naturalidade com que seus atores se adaptam aos papéis que interpretam, seja por quão próximo possam nos soar os discursos defendidos e atacados durante o desenrolar do enredo. Mas nunca por artifícios questionáveis, como artificialidade ou ilusionismo. Os coadjuvantes, defendidos com muita propriedade por atores conhecidos como Anna Paquin e William Baldwin, ajudam a compor um retrato perceptivo de uma realidade única, ao mesmo tempo tão íntima quanto universal. E se tudo parece fazer sentido somente diante dos personagens apresentados, um pouco de raciocínio nos mostrará o quão fácil é uma identificação de elementos deles em todos nós. Seja em tempo, em irracionalidade ou mesmo emocionalmente.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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