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Sinopse
Harry sobrevive aos horrores dos campos de concentração na Segunda Guerra Mundial motivado pelo amor. Levado a lutar no cárcere, ele se torna um boxeador depois de fugir e chegar à cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos.
Crítica
Apesar de ser um cineasta vencedor do Oscar (Rain Man, 1988) e dono de outras cinco indicações ao prêmio máximo da Academia, Barry Levinson há algum tempo meio que abandonou o cinema (seu último longa exibido na tela grande foi Rock em Cabul, 2015, que obteve zero repercussão), e desde então tem concentrado suas forças no streaming e na televisão. Entre séries, minisséries e telefilmes, A Luta de uma Vida é um dos que se destacaram no meio de tão prolífica atividade, chegando, inclusive, a receber uma indicação ao Emmy como melhor produção nesse formato. O fato de ter perdido para Tico e Teco: Defensores da Lei (2022) fala mais da qualidade desse e menos de uma suposta falta de méritos do longa estrelado por Ben Foster, que se entrega de corpo e alma em mais um tipo ao qual oferece mais do que recebe em retorno. Eis, portanto, um filme com muitos predicados, facilmente identificáveis de forma isolada, mas cuja mistura simplesmente aparenta não alcançar a “liga” almejada.
Ainda que nos Estados Unidos seu lançamento tenha sido direto na telinha, A Luta de uma Vida não faz feio ao ser exibido nos cinemas, como ocorreu no Brasil. Isso se deve principalmente à fotografia de George Steel (Robin Hood: A Origem, 2018), eficiente ao alternar entre as cores esmaecidas de um presente desprovido de motivações e um preto-e-branco de alto contraste nas visitações ao passado de um homem que precisou fazer o impensável para garantir sua própria sobrevivência. Harry Haft (Foster, dedicado como sempre, porém prejudicado por uma maquiagem excessiva na maior parte do tempo) escapou dos campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial ao cair nas graças de um oficial nazista (Billy Magnussen) que percebeu nele um talento insuspeito: o uso dos punhos em um ringue. Mesmo muitos quilos abaixo do peso ideal, raquítico e subnutrido, o guarda o colocou para lutar contra outros judeus para o agrado dos soldados. Ao invés de um prêmio pela vitória, a única coisa certa era a morte àquele que se deixasse abater. Isso foi suficiente para Haft se tornar imbatível.
A história, por si só, é trágica o bastante para justificar um interesse mais detalhado. O roteiro de Justine Juel Gillmer (A Roda do Tempo, 2021), que por sua vez foi baseado no livro de Alan Scott Haft (filho do protagonista), opta por uma abordagem mais genérica e abrangente, partindo de um viés romântico para desenhar o perfil atormentado desse homem, ao invés de concentrar nos sacrifícios feitos por ele para da encruzilhada ao qual foi posto conseguir sair vivo, e se o que realizou nos anos e décadas seguintes justificaram esse esforço. Um dos encontros fundamentais em sua trajetória foi com Leah Krichinsky (a modelo israelense Dar Zuzovsky), uma garota igualmente desamparada que acabou se mostrando decisiva na busca dele por ânimo para continuar em frente, mesmo indo contra os seus e se vendo obrigado a pensar apenas em si para seguir em pé. Alguns anos depois, já na América, ele segue em busca desse que acredita ter sido seu único amor. E o caminho até o reencontro, imagina, se dará através da mesma habilidade que o tirou do inferno: o boxe.
Porém, estamos em 1948, um mundo sem internet, telefones celulares ou computadores. Assim, a busca por alguém perdido no tempo e espaço é mais complexa do que se é possível imaginar nos dias de hoje. É preciso chamar atenção, despertar curiosidade para si mesmo e tornar seu nome conhecido não apenas no bairro ou cidade, mas nacionalmente. Assim, desafia para um embate ninguém menos do que Rocky Marciano, que se tornaria campeão mundial dos pesos pesados não muito tempo depois, e que na época já desfrutava de fama e respeito. Por isso, e confronto foi visto com tamanha incredulidade pelo público e imprensa que o novato, somente pela curiosidade despertada, conseguiria garantir seu intento. E não estava sozinho. Um repórter (Peter Sarsgaard) se encarregou de contar sua história, treinadores ficaram ao seu lado (John Leguizamo e um carismático Danny DeVito) e até a secretária encarregada de assuntos da comunidade judaica (Vicky Krieps) tratou de ajudá-lo. Ao mesmo tempo em que tal procura se mostrava infrutífera, essa última aos poucos ia por ele se afeiçoando, até por ter vivido trauma semelhante. Um paralelo forte o bastante para os dois ignorarem, como se o destino lhes tivesse concedido uma nova chance.
Tudo o que foi esmiuçado até esse momento não dá conta de nem metade da narrativa desenvolvida sem pressa por Levinson. Muitos outros desdobramentos passarão a se acumular, de casamentos ao nascimentos de filhos, da repetição de medos infundados ao reaparecimento daqueles que se acreditavam há muito perdidos. Enquanto isso, o conflito cerne de todo o debate, que diz respeito ao fato de Haft ser visto como traidor da própria comunidade, acaba lentamente sendo relegado a um segundo plano, nunca recebendo a reflexão merecida. Colabora para esse sentimento de pesar a edição pouco incisiva de Douglas Crise (indicado ao Oscar por Babel, 2006) e a trilha sonora por demais melancólica do geralmente eficiente Hans Zimmer (dono de dois Oscars, inclusive um conquistado nessa mesma temporada, por Duna, 2021). Entre (poucos) acertos – o comprometimento de Ben Foster é sempre algo a ser destacado – e (muitos) tropeços, A Luta de uma Vida acaba por se confirmar como um dramalhão à moda antiga, que termina por deixar de lado os elementos que conseguiriam elevá-lo do lugar comum, enquanto abraça velhas e desgastadas fórmulas, apostando no seguro ao invés de assumir riscos necessários. Algo que tanto a figura histórica retratada quanto o ator que a interpreta parecem entender melhor do que aqueles por trás das câmeras.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 5 |
Ailton Monteiro | 4 |
Francisco Carbone | 3 |
Alysson Oliveira | 7 |
MÉDIA | 4.8 |
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