A Luz é para Todos
Crítica
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Sinopse
Gregory Peck é um jornalista encarregado de escrever uma série de artigos sobre o anti-semitismo. Procurando a abordagem adequada, ele resolve se passar por judeu, e logo descobre como é ser vítima da intolerância religiosa. Dorothy McGuire, John Garfield, Dean Stockwell e June Havoc também estrelam este clássico sobre o pós Guerra.
Crítica
Não deixa de ser impressionante que A Luz é para Todos tenha sido realizado em 1947 e continue tão atual. O preconceito que permeia os personagens do longa-metragem dirigido por Elia Kazan é observado até hoje. Se no filme a questão é centralizada no antissemitismo, poderíamos facilmente trocar os judeus por outros grupos que sofrem com a intolerância da sociedade e ainda teríamos um enredo cruelmente contemporâneo. A história reverberou à época, talvez pela polêmica, mas muito pela qualidade das atuações e da importância da trama a ser contada. Indicado a 8 prêmios da Academia, levou 3 Oscar para casa: Melhor Filme, Diretor e Atriz Coadjuvante (Celeste Holm).
Com roteiro de Moss Hart, A Luz é para Todos acompanha a trajetória de Schuyler Green (Gregory Peck), jornalista recém-chegado a Nova York que precisa escrever uma matéria a respeito do antissemitismo, na revista em que trabalha. Quem deu a ideia deste tópico foi a sobrinha do editor da publicação, Kathy Lacey (Dorothy McGuire), que logo engata um romance com o escritor. Green procura diversas abordagens diferentes, mas demora a encontrar uma maneira inovadora de tocar no assunto. Até que se dá conta: a forma mais correta é vivenciar na pele aquele preconceito. Uma matéria do tipo: "Fui judeu por três meses, saiba como foi". Para tanto, adota o sobrenome Greenberg e começa a espalhar a todos suas raízes judaicas. A partir daí, o preconceito velado (e o nem tanto) acaba aparecendo para ele, respingando no seu filho pequeno, Tommy (Dean Stockwell), no seu relacionamento com Kathy e, na esteira disso, o fazendo compreender melhor pelo que passa seu amigo judeu Dave Goldman (John Garfield) que, de volta da guerra, não consegue lugar para morar.
Elia Kazan habilmente busca diversos ângulos a respeito do preconceito para costurar sua trama. Com isso, acompanhamos exemplos de como as portas fecham apenas por alguém ser judeu. Seja dificuldade de conseguir emprego, moradia, respeito. O cineasta vai montando sua trama ilustrando com os personagens cada um destes percalços pelos quais o povo judaico passou. Gregory Peck, por sua vez, sente na pele cada novo golpe, dando muito caráter a um personagem que nas mãos de algum ator menos competente soaria facilmente como um impostor, alguém que usa a condição de outro para algum ganho. Peck foi indicado ao Oscar por sua atuação, concorrendo ao lado de seu parceiro de elenco, John Garfield, que foi lembrado pelo filme Corpo e Alma (1947). Ambos saíram de mãos abanando da festa.
O mesmo não pode ser dito da talentosíssima Celeste Holm, que enche a tela cada vez que aparece, e que venceu merecidamente a categoria de Atriz Coadjuvante. Vivendo uma espevitada jornalista, colega de trabalho de Green, Holm é aquele tipo de pessoa que não tem papas na língua, possui resposta para tudo e para todos. Mesmo muito prática, não passa de uma romântica, sofrendo de amores por um sujeito comprometido. A performance da atriz é tão solar e tão superior ao trabalho de Dorothy McGuire que é difícil para o espectador não torcer por um romance entre ela e o protagonista.
É verdade que McGuire tem um papel mais difícil. Kathy é a personagem que vive um grande arco na história. Ela é quem sugere a temática antissemita para a revista, acreditando ser uma história que renda boas vendagens. No entanto, ela não se enxerga como alguém preconceituoso até que a questão aparece em sua frente. Quando seu namorado Schuyler decide passar por judeu, ela acaba ficando envergonhada da situação perante sua família. Por mais que tente esconder, o preconceito ali existe, enraizado, e ela terá de aprender a expurgar este sentimento. Esta mudança será decisiva para o futuro do relacionamento entre ela e Green.
A Luz é para Todos possui, sim, momentos bastante ingênuos, que para plateias atuais podem soar verdadeiramente datados. Mas como o tema central é a intolerância, é inegável (e triste) que estejamos vivendo ainda uma época não tão diferente da retratada no ótimo trabalho de Elia Kazan. Bom seria se tudo aquilo ali mostrado não existisse mais, sendo apenas uma polaroid de um tempo distante e esquecido. Não é o que acontece, infelizmente.
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