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Sinopse
No outono de 1960, os padres Thomas Riley e John Thornton são enviados pelo Vaticano para investigar um evento milagroso em um lar irlandês para mulheres órfãs, grávidas solteiras ou com distúrbios mentais. Lá encontram uma adolescente grávida com sinais de possessão demoníaca e acabam descobrindo algo terrível.
Crítica
O (quase inacreditável) sucesso de A Freira (2018), quinto episódio da saga Invocação do Mal que se tornou, mundialmente, o mais bem-sucedido nas bilheterias de todos os capítulos da série, não deixaria de gerar consequências. E uma das mais evidentes é esse A Maldição da Freira, título nacional um tanto aproveitador para o original The Devil’s Doorway, ou seja, A Porta do Demônio. Não que o batismo brasileiro não faça sentido – apenas não possui uma relação tão direta com o argumento a ser desenvolvido em cena. O que o longa escrito e dirigido pelo estreante Aislinn Clarke pretende é se debruçar não sobre uma religiosa em particular ou sobre uma maldição específica, mas, por sua vez, em um episódio de possessão e elementos sobrenaturais que teriam encontrado repercussão até mesmo no Vaticano. Ou seja, até parece ser algo feito às pressas para aproveitar um fenômeno particular, mas há outros pontos de interesse que não podem ser observados levianamente.
Para começar, A Maldição da Freira é uma produção irlandesa, feita longe do esquema monótono dos grandes estúdios hollywoodianos. Em pouco mais de 70 minutos, se ocupa em narrar o que acontece ao padre Thomas Riley (Lalor Roddy, de Game of Thrones, 2011) e seu auxiliar, o padre John (Ciaran Flynn, de Robin Hood, 2010) quando são enviados para investigar o que estaria acontecendo num convento do interior comandado exclusivamente por mulheres. Ao chegarem lá, se deparam com a Madre Superiora (Helena Bereen, de Fome, 2008), que tenta a todo custo dissuadi-los de suas intenções, afirmando não haver nada de estranho por ali. No entanto, basta olhar para sua expressão dissimulada e a contrariedade que rapidamente expressa ao ser questionada para perceber que nada no seu discurso é verdadeiro.
Não está, portanto, em descobrir o que de fato está por se passar por ali – ainda que, inevitavelmente, isso acabe se esclarecendo – o cerne da questão da história desenvolvida por Clarke em parceria com o roteirista Martin Brennan e Michael B. Jackson (ambos também produtores deste projeto, e cujas experiências anteriores estavam no desenvolvimento de videogames). Como logo fica evidente, os dois possuem uma visão mais mercadológica a respeito do que se envolvem. A Maldição da Freira não é mais do que isso, uma estrutura narrativa construída a partir de etapas – tal qual jogos eletrônicos, nos quais cada nova revelação permite o avanço para um estágio adiante – que, em uma última instância, tem como objetivo apenas prender a atenção do espectador pelo tempo suficiente até que se julgue satisfeito, servindo como entretenimento passageiro, nada que perdure, mas também longe de gerar insatisfação.
Porém, mesmo tendo sido realizado em um cenário a princípio propício para novidades, algumas opções um tanto questionáveis insistem em apenas reincidir em recursos um tanto desgastados. Dentre estes, nada parece ser pior do que a escolha do fotógrafo Ryan Kernaghan (O Sobrevivente, 2015) em seguir o estilo found footage, ou seja, colocando a câmera nas mãos de um personagem e oferecer à audiência apenas aquilo que esse consegue registrar – algo que parecia inovador em A Bruxa de Blair (1999), há exatos vinte anos, mas que hoje soa apenas preguiçoso. Além de ser nitidamente inverossímil em mais de um momento – há situações em que seria pouco provável que alguém seguisse filmando – também serve para colocar o cansaço em evidência, seja entre os seres ficcionais como, principalmente, junto àqueles do lado de cá da tela. Sem algo que justifique o uso de tal recurso, o que deveria ser não mais do que a forma termina por se sobrepor ao próprio discurso, e ao invés de contribuir com o seu intuito, acaba por se revelar mais uma distração.
Entre altos e baixos, A Maldição da Freira ganha pontos pela curta duração – felizmente, a trama chega ao fim (mesmo que não de forma conclusiva) antes de se tornar repetitiva – e pela boa atuação de seus protagonistas, principalmente Roddy e Bereen, dois veteranos coadjuvantes que aqui emprestam uma verdade profunda ao assumirem o centro da ação. Pode não ser a história mais original e nem mesmo algo que irá provocar grande impacto no gênero, mas ao menos cumpre o que promete de forma direta e objetiva. E numa seara cada vez mais desprovida de boas ideias ou profissionais dedicados, se deparar com um exercício minimamente eficiente já parece estar bom demais. Para tanto, é importante evitar comparações e manter as expectativas em baixa – tudo o que, tristemente, parece ser a intenção da distribuidora nacional, que ao invés de se esforçar para criar o melhor cenário para sua recepção, acaba por fazer o contrário, jogando mais contra do que a favor.
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