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Sinopse

De acordo com uma lenda urbana, há uma ponte considerada assombrada pelo espírito de uma suicida. Um grupo de adolescentes se atreve a testar a maldição e acaba encontrando o mal sobrenatural.

Crítica

O horror é um dos gêneros mais maltratados do cinema, principalmente devido aos inúmeros lançamentos que banalizam as suas possibilidades. Muitos acreditam que esse riquíssimo jeito de contar histórias se restringe a instrumento para estabelecer mitologias capengas em meio a sustos fáceis. Aposta-se que o espectador é naturalmente suscetível. Filmes como A Maldição da Ponte existem para alimentar a fatia do público confortavelmente anestesiada pelo acúmulo desse tipo de narrativa genérica que oferece muito pouco em termos de experiência. A trama contém um emaranhado de lugares-comuns. Em princípio, não há nada contra a utilização de clichês e afins, desde que se exiba uma vontade de trabalhar esses elementos a partir de certa peculiaridade, seja ela temática e/ou formal. Porém, aqui a turma de adolescentes imprudentes que desafia a lenda urbana da entidade maligna é exatamente igual a tantas; a ameaça supostamente gerada pela tragédia do passado soa como uma comida rançosa e requentada; e o diretor Lester Hsi não vai muito longe no que diz respeito à linguagem empregada, assim, contentando-se com cenários manjados e efeitos bastante batidos.

A Maldição da Ponte mostra duas dinâmicas paralelas. A primeira, a que contém a repórter, não é completamente descartável porque exibe o "às na manga" para encerrar o longa com o mesmo sabor de “já vi isso dezenas de vezes”. No mais, é conveniente termos uma personagem em processo de investigação, na boca da qual o realizador coloca esquematicamente as perguntas que apontam a certos espaços obscuros. Lá pelas tantas, a mulher interessada no caso da morte dos jovens depois do ritual na famigerada ponte assombrada diz que precisa redimir-se, voltar a um espaço proeminente no jornalismo. A partir disso, podemos esperar que, de alguma maneira, sua jornada de expiação possa ter uma relação insuspeita com o caso investigado. Mas, nem isso. Ela existe tão e somente para ser uma espécie de representante da plateia (a que conseguir permanecer acordada no decorrer do filme). Sempre que algo não parece muito bem explicadinho, encontra-se milagrosamente uma pista vital, é feita uma conexão tendo nada como subterfúgio, e assim segue o baile.

Quanto à construção da atmosfera terrífica, A Maldição da Ponte é igualmente sem personalidade e intensidade. Para começo de conversa, a entidade aparece de modo fracionado. Vemos a mão putrefata puxando o ombro de alguém, em outra passagem surge um pé ameaçador (também em processo de apodrecimento), ocasionalmente um olhar demoníaco tenta congelar-nos o sangue. Porém, a presença parcial é mal empregada ao ponto de parecer que contingências de produção ditam essa economia, não uma vontade de trabalhar a potência do suspense, por exemplo. Sobre os personagens há efetivamente pouco a se dizer. A não ser um pequeno subtexto romântico que ensaia criar rivalidade entre duas jovens, não há indícios de real interesse no aspecto humano. Todos ali metem os pés pelas mãos de forma quase inocente, pagando um altíssimo preço por sua curiosidade mórbida. E dá-lhe sequências inteiras de perseguição pelos ambientes postiços dessa universidade que mais parece uma reprodução caricatural de conjunturas caras ao gênero.

Em A Maldição da Ponte chega a ser constrangedora a tentativa reiterada de provocar impacto emocional com base em engrenagens tão desprovidas de veemência. Lester Hsi insiste em truques como jump scares e fake scares – respectivamente, quando algo “pula” na tela repentinamente; nas vezes em que a expectativa de um desses “pulos” é levemente frustrada para logo depois se confirmar noutra parte do quadro. Também são frequentes os efeitos sonoros como se o espírito obsessivo estalasse o pescoço de modo macabro. Não há, de novo, inicialmente nenhum problema com tais expedientes, desde que sejam bem empregados e com variações. O acumulo de repetições, banalidades e aplicação de artimanhas mal enjambradas cria um espaço de insensibilidade. Não mais importa quem morre, se fulano está prestes a ter a vida abreviada ou se beltrana chegar, enfim, ao objetivo de revelar as verdades vitais. Para confirmar a pouca intimidade do cineasta com sutilezas, surge a figura parcialmente revelada, cuja natureza incógnita paradoxalmente implora por atenção.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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