Crítica


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Sinopse

Um antropólogo de Harvard é enviado ao Haiti para recuperar um estranho pó que dizem ter o poder de ressuscitar seres humanos. Na busca pela droga milagrosa, o cético cientista conhece o submundo oculto dos zumbis, dos rituais sangrentos e das maldições remotas.

Crítica

Apesar de o título nacional poder causar confusão, esta não se trata de uma produção derivada de A Noite dos Mortos-Vivos (1968), clássico de George A. Romero. A figura dos zumbis também está presente neste longa de Wes Craven, mas apresentada de uma forma bem diferente das criaturas em estado de decomposição e sedentas por carne humana às quais estamos acostumados, pois Craven vai buscar sua inspiração nas lendas haitianas que envolvem a magia negra e o vodu como técnicas capazes de reavivar os mortos.

Na história, somos apresentados a Dennis Alan (Bill Pullman), um antropólogo de Harvard que é enviado ao Haiti para averiguar o caso de um homem dado como morto há anos e que reaparece misteriosamente com vida. Chegando ao país, Dennis conhece a psicóloga local, Marielle Duchamp (Cathy Tyson), e descobre a existência de um pó com propriedades mágicas de ressurreição. Conforme avança na investigação, Dennis se envolve em uma espiral de horror que coloca sua vida em risco.

Craven conduz o filme como um tom extremamente sério, mesmo tendo diversos elementos fantasiosos em mãos, utilizando um livro escrito pelo antropólogo especialista em botânica Wade Davis como fonte. A chancela de uma história baseada em fatos reais, apresentada em seus letreiros inicias e finais, acaba não sendo um fator decisivo para o sucesso do longa, que funciona independente da informação.  E para esse funcionamento é preciso relevar algumas resoluções frágeis do roteiro, bem como sua construção pouco aprofundada dos personagens, além de clichês, como o inevitável romance entre Dennis e Marielle. Há também uma visão estrangeira limitada, para não dizer maniqueísta, na representação da cultura do Haiti, explorando estereótipos que transformam todo povo do país em praticantes/conhecedores de vodu. Estas imprecisões culturais incomodam um pouco, mas felizmente são dribladas pela habilidade de Craven em trabalhar a atmosfera de terror.

Apostando em uma estética barroca de grande impacto, o cineasta cria segmentos realmente aterrorizantes, especialmente ao retratar os rituais e as alucinações causadas pelos efeitos da magia negra. Os belos trabalhos de direção de arte e fotografia, somados a efeitos visuais práticos e de maquiagem competentes, proporcionam sequências visualmente muito ricas e com texturas surrealistas. Caso de uma cena no início do longa, em que Dennis tem a visão de seu guia espiritual após o encontro com um xamã da floresta amazônica. Ou ainda do claustrofóbico momento em que um personagem é enterrado vivo. Com isso, Craven retoma uma das principais qualidades de seu trabalho mais conhecido até então, A Hora do Pesadelo (1984), com a construção de um universo onírico marcante, e que tem no feiticeiro capaz de entrar nos sonhos uma figura que remete diretamente à de Fred Krueger.

Todos estes momentos exigem uma entrega bastante física de Bill Pullman que corresponde ao conseguir transmitir a angústia e o desespero de Dennis frente a estas situações de pavor, ainda que a falta de complexidade do personagem não permita o mesmo desempenho em outros âmbitos dramáticos. O ar caricatural se estende aos personagens secundários, mas no final das contas acaba funcionando, como no caso do vilão interpretado por Zakes Mokae, que surge como uma presença ameaçadora.

Voltando à trama, é interessante ressaltar que Craven também adiciona um contexto político ao filme, mostrando o vodu como uma arma para derrubar adversários e situando a ação no ano de 1985, quando o ditador Jean-Claude Duvalier governava o Haiti através da opressão e da truculência de sua guarda civil, os tontons macoutes, até ser tirado do poder por uma grande revolução popular. Mesmo que tratado de forma superficial, este elemento aproxima o filme de Craven dos filmes de zumbi de George A. Romero, que sempre continham um subtexto sócio-político. O resultado final pode até não figurar entre os trabalhos mais lembrados do diretor, mas com certeza é um de seus mais inventivos.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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Leonardo Ribeiro
7
Filipe Pereira
5
MÉDIA
6

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