Crítica
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Sinopse
Eve Harrington é uma fã obcecada pela grande atriz Margo Channing. Na verdade, ela é obcecada pelo sucesso de Margo. A novata faz manobras eticamente questionáveis e não mede esforços para tomar o lugar da diva do teatro.
Crítica
É por demais irônico a constatação de que um dos maiores filmes da história do cinema seja sobre... o teatro! Mas, de fato, um olhar mais detalhado sobre A Malvada irá perceber que o palco é apenas o cenário dessa história sobre fama, confiança, sedução, intriga e dissimulação. Poucas vezes foi mostrado na tela grande um conto tão perfeito sobre conquista e traição, sobre as delícias do estrelato e as fragilidades destes egos mimados pelo carinho e dedicação de fãs e curiosos. Lançado exatamente na metade do século XX, é uma obra que até hoje permanece vívida e atual, com diálogos bem elaborados e deliciosamente afiados, além de atuações estelares e uma direção nunca menos do que primorosa. Completamente atemporal, permanece tão pertinente hoje quanto que na época em que chegou aos cinemas pela primeira vez, e ter essa certeza é ainda mais surpreendente.
A Malvada é um verdadeiro duelo entre duas intérpretes, tanto na vida real quanto que na ficção. Apesar da fama de difícil de Bette Davis, a personagem-título é Eve, interpretada por Anne Baxter. Ela é a fã devota de uma grande estrela, Margo Channing (Davis). Após conseguir se aproximar da atriz, Eve passa a dedicar toda sua existência à ela: torna-se sua secretaria, ouvinte, confidente. Isso desperta a atenção daquela que era o braço direito de Margo até então, Birdie (Thelma Ritter). Os constantes alertas dessa finalmente provocam efeito naquela que acreditava estar apenas sendo vítima de bajulação e carinho. O que ela nota a partir desse momento é que um outro jogo vem sendo desempenhado pela novata, que visa simplesmente tomar o lugar dela: no trabalho, entre os amigos e até no coração do namorado. Eve não deseja ser como Margo. Ela simplesmente quer ser Margo!
Os protagonistas desta rede de intrigas e mentiras são os tipos mais comuns ao ambiente enfocado: a atriz, o diretor, o autor, a camareira, a fã e a melhor amiga. Mas o genial é que estão longe de se comportarem como estereótipos, adquirindo profundidade e relevância à medida que a trama se desenvolve. Cada um acaba, de uma forma ou de outra, desempenhando papel fundamental no plano traçado por aquela que desde o primeiro momento escondeu suas verdadeiras intenções, deixando todos – na trama e na audiência – envolvidos por algo que não conseguirá se sustentar por muito tempo. E quando tudo vier à tona e as máscaras caírem, quem irá se salvar no final? Aquela que obtiver os flashes dos fotógrafos e o som dos aplausos ou a que finalmente encontrar paz de espírito? O sucesso é algo muito relativo, ainda mais em um mundo em constante movimento e, acima de tudo, circular, em que tudo que vai, um dia, retorna.
Há outro fator que se destaca em A Malvada: este é um dos poucos filmes em que a narração em off está perfeitamente adequada. Quem desempenha esse papel, aqui, é o crítico teatral Addison DeWitt (George Sanders, em desempenho premiado com o Oscar de Ator Coadjuvante). Ele é responsável pela visão cínica, cruel até certo ponto, mas nunca desacreditada, que o longa assume desde o início. É o único que consegue vislumbrar todos os acontecimentos antes mesmo deles se desenrolarem, como se fosse apenas mais um drama encenado dentre os tantos que, profissionalmente, já conheceu. E é com essa distância crítica que analisa os fatos e consegue seus próprios ganhos. Afinal, todo mundo possui uma agenda própria, e somente os que derem os passos certos serão recompensados no final.
Além de Davis e Baxter (ambas já premiadas com o Oscar e dessa vez indicadas como protagonistas), Celeste Holm e Ritter também concorreram ao prêmio máximo do cinema mundial por estes desempenhos (as duas na categoria de Coadjuvantes). A Malvada, num todo, somou 14 nominações, recorde absoluto somente igualado 47 anos depois com Titanic (1997), e ganhou em seis delas, inclusive como Melhor Filme e Direção, para Joseph L. Mankiewicz (que havia ganho também dois prêmios no ano anterior, pelo roteiro e direção de Quem é o infiel?, 1949). Mas é curioso perceber que este filme foi o clímax das carreiras de praticamente todos os envolvidos, que nunca mais conseguiram repetir tamanho acerto. A única – e destacada – exceção é Marilyn Monroe, que não soma mais do que 10 minutos em cena num papel minúsculo e quase cômico, interpretando praticamente a si mesma: uma estrela no início da carreira. Sendo quase impossível de errar, ela fez tudo certo, aqui e adiante. De qualquer forma, ela não é mais do que uma nota de rodapé de um clássico imortal, que até hoje ressoa como uma das obras referenciais do cinema mundial.
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