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Sinopse

Karina sonha em conhecer o mundo e ser atriz. Ela mora numa pequena cidade nordestina gradativamente abandonada por seus moradores. Para realizar o desejo de sua amada, Antonio aceita até os contratempos de uma jornada completamente arriscada.

Crítica

O que você seria capaz de fazer em nome de um amor verdadeiro? Tem gente que já tentou as mais diversas loucuras, mas poucas se aproximam do que Antônio resolveu fazer para conquistar Karina, sua paixão desde a infância: saiu de Nordestina, a pequena cidade onde moram, e foi buscar o mundo para ela. Isso mesmo, nada mais, nada menos do que o mundo todo, inteiro, vibrante, completo. Era isso que ela queria, era atrás do mundo que estava? “Então está bem, não precisa ir atrás dele, eu vou lá e o busco para você!” disse ele, decidido. E acompanhar esta insólita jornada é o que fazemos com imenso deleite ao assistirmos A Máquina, estréia na direção do dramaturgo, músico, cineasta e roteirista João Falcão.

Baseado no livro homônimo de Adriana Falcão (esposa de João), A Máquina foi primeiro adaptado para uma peça de teatro, antes de chegar às telas. Foi este espetáculo que revelou nomes como Lázaro Ramos, Wagner Moura e Vladimir Brichta, todos também presentes no filme, porém em pequenas, mas irresistíveis, participações. Como protagonista está Gustavo Falcão, sobrinho do diretor e que também marcava presença no palco, agora no seu primeiro papel de destaque no cinema, num trabalho que justifica sua escolha. Ele tem ingenuidade, segurança, vibração e fragilidade suficiente para compor um Antonio pelo qual é impossível não se deixar levar. Mesmo com uma premissa absurda – como ele irá trazer o “mundo” para a amada? – em nenhum momento duvidamos do seu propósito. E é este talento e capacidade de convencimento que o ator nos oferece. Ao seu lado está uma delicada Mariana Ximenes, compondo mais um desempenho de destaque no seu destacado currículo cinematográfico. E, pra completar, somos gratificados com uma das últimas aparições em cena do inesquecível Paulo Autran, que surge como Antonio na velhice, uma adição que complementa a trama de modo ainda mais intenso.

A Máquina é uma experiência única e mágica, que transborda criatividade e sabedoria em cada diálogo. A cada cena somos convidados a compartilhar da loucura e da paixão, do desejo e das esperanças dos personagens. A música, composta por Chico Buarque, DJ Dolores e Robertinho do Recife (que grupo!), auxilia ainda mais na construção desse sentimento onírico, com belas melodias e um ritmo contagiante. Isso sem mencionar a banda The Sconhecidos, que contribui com o clímax de forma decisiva. O diretor de fotografia Walter Carvalho nos oferece imagens de extrema beleza, que não escondem a origem teatral e literária, mas são hábeis em combinar estes mundos num outro, como só a sétima arte consegue. O melhor, no entanto, é mesmo a mão segura de Falcão, que respeita o enredo que está lidando, porém sem subserviência, mas com sabedoria e habilidade, criando algo novo e original.

Brincando com passado e futuro, com o moderno e o tradicional, o novo e o antigo, A Máquina viaja no tempo e mostra que o amor, acima de tudo, é o que move o mundo, o verdadeiro combustível que nos guia diariamente. É um filme, já foi livro e peça teatral, mas é acima de tudo poesia, de movimentos, de emoções e de verdades. Uma declaração de amor e de vida, numa realidade que tanto carece disso. E, acima de tudo, mais uma prova recente de que a produção nacional pode ir além do convencional, bastando para isso determinação em ousar, coragem em arriscar e competência em inovar.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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