Crítica
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Sinopse
Vivendo há anos em Nova York, Brittany sente-se constantemente cansada, além de chateada por perceber que sua rotina angustiante possui um peso cada vez mais forte nas decisões que toma. Disposta a dar um fim nisso, decide que tomará o controle da própria vida, um passo de cada vez.
Crítica
Baseado em uma história verídica, A Maratona de Brittany é mais um capítulo numa informal trilogia hollywoodiana de atrizes acima do peso que, ao mesmo tempo em que lutam para encontrar espaço como protagonistas, assim se propõem a fazer num misto de ir e ficar, mudar e permanecer. Ou seja, é quase como se quisessem propor algo novo, sem deixar de fazer o que há muito tem sido o padrão. Esta diferença entre discurso e ação percorre a trama escrita e dirigida pelo estreante no formato Paul Downs Colaizzo (um dos produtores da série MacGyver, 2016-2019), que faz uso do talento e da imagem da comediante Jillian Bell, que aqui tem sua primeira oportunidade à frente de um projeto. Ela está esforçada, e isso se vê com nitidez em cena. A se lamentar, no entanto, é perceber que o terreno pelo qual transita é árido de melhores oportunidades.
Assim como aconteceu com Amy Schumer (Sexy por Acidente, 2018) e Rebel Wilson (Megarromântico, 2019), Bell surge como a gordinha infeliz com todas as suas curvas. Ou seja, ao mesmo tempo em que discursa que cada um deve ser feliz com o corpo que tem, logo após traçar um cenário de noitadas quase todos os dias da semana, bebidas e doces sem controle e uma rotina de muito conforto e pouco esforço, ela começa a se lamuriar por não ter conquistado nada de significativo na vida, além de lhe faltar também maiores propósitos. A resposta para seus dilemas se manifesta quando descobre que a própria calçada em frente ao seu prédio pode lhe guardar melhores oportunidades. Para tanto, basta vestir um abrigo surrado, um tênis confortável e começar a correr. Se tantos assim o fazem, por quê com ela seria diferente?
Se por um lado as motivações soam um tanto rasas, deixando de lado o cerne de suas complexidades, por outro os personagens aqui dispostos ganham em humanidade – em especial aquela que dá título à trama. Brittany é uma figura concreta, e este mérito é mais da atriz que a defende do que do realizador que deveria ser capaz de fazer o mesmo com os demais do elenco, mas tudo o que consegue é reduzi-los a estereótipos um tanto gastos, como o gay que pratica esportes para não se mostrar afeminado aos olhos do filho, a workaholic incansável que por trás de cada demonstração de eficiência guarda problemas familiares, ou a melhor amiga que pensa apenas em si. A despeito desses, é possível ao espectador se conectar com os dilemas da menina que encontra na corrida a possibilidade para que a tão esperada mudança finalmente aconteça. Ela pode continuar com todos os seus outros problemas, mas o segredo é um passo de cada vez, certo?
Ou não. Afinal, não basta colocar o corpo em movimento, é preciso que também a cabeça faça a sua parte. Nesse ponto, A Maratona de Brittany transita por trilhas escorregadias, de difícil evolução, oferecendo uma figura quase antipática, tamanha é sua obtusidade diante daqueles que estão na torcida, muito provavelmente mais do que ela mesma. Soluções simplistas, como a casa onde acaba morando com o improvável namorado – lugar que deveria ser apenas um segundo emprego – ou as alterações de perspectivas – idas e vindas entre Nova Iorque e o abrigo da irmã na Pensilvânia, os interesses profissionais que nunca chegam a ser aprofundados – vão, gradualmente, se mostrando mais do que pedras no caminho: são verdadeiros tropeços, que dificultam a real jornada a ser percorrida. Mais uma vez, o carisma de Jillian Bell é que acaba por fazer a diferença, tal qual suas colegas Schumer e Wilson, que seguem à espera por serem vistas no âmbito de suas complexidades, e não apenas como um corpo em busca de transformação.
Enquanto proclama a necessidade de se orgulhar de quem se é, tal qual cada um escolheu se apresentar ao mundo, A Maratona de Brittany opta por posicionar no centro da sua ação uma mulher que só se descobre feliz – profissionalmente, afetivamente, sexualmente – quando consegue, enfim, emagrecer. Sua meta é percorrer uma maratona, e como outros competidores dizem, “o que importa não é vencer, mas, sim, completá-la”. Para que algo assim seja alcançado, no entanto, é necessário mais do que fôlego, mas também determinação e comprometimento. É claro que muito deve ter mudado na vida de Brittany – seja na ficção ou na realidade – mas mais importante é a certeza de que essas novidades foram além do peso registrado na balança. E é todo esse resto que, com maior destaque, poderia, de fato, fazer a diferença. A discussão aqui proposta permite vários desdobramentos: é de se lamentar, como se vê, que o caminho mais fácil – e simplista – tenha sido o escolhido.
Filme visto na 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em outubro de 2019
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 5 |
Chico Fireman | 6 |
MÉDIA | 5.5 |
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