Crítica
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Sinopse
Crítica
Até pouco tempo atrás, apenas a presença de um nome de destaque no elenco já servia como garantia da qualidade do longa em si. Afinal, ninguém com uma carreira estabelecida, reconhecido por seu talento e com vasta experiência profissional iria se aventurar em algum projeto que não reunisse as condições mínimas para gerar boas expectativas a respeito. Pois bem, a realidade de hoje, é outra. E muito se deve ao advento das plataformas de streaming e dessa necessidade cada vez maior, principalmente por parte do público, de apenas consumir, sem refletir sobre o que tem sido visto. Filmes e séries precisam ser feitos com maior agilidade, e a principal vítima nesse processo, obviamente, é a qualidade. Um bom exemplo disso é o mexicano A Marca do Demônio, distribuído no mundo todo pela Netflix. Afinal, trata-se de um filme tão amador, que se revela carente de todos os pré-requisitos que poderiam torná-lo sequer apresentável. O conjunto vai além do constrangedor, resignando-se como uma vergonha completa, do início ao fim.
Isto posto, chama atenção as presenças de Lumi Cavazos e, principalmente, Eduardo Noriega, no elenco. Ela foi premiada internacionalmente – inclusive no Brasil, no Festival de Gramado – por sua atuação no fenômeno Como Água Para Chocolate (1992), que a impulsionou até por uma tímida carreira em Hollywood, mas há alguns anos não aparece em um título de maior prestígio. Como caiu a esse ponto segue sendo um mistério. Pior, no entanto, é o caso dele. Afinal, o astro espanhol já foi indicado duas vezes ao Goya e recebeu prêmios em diversos festivais ao redor do mundo, de Berlim a Miami, entre tantos outros. Em quase três décadas de carreira, atuou ao lado de nomes como Arnold Schwarzenegger, Ricardo Darín, Sigourney Weaver, Penélope Cruz, Leonardo Sbaraglia, Marisa Paredes, Viggo Mortensen, Ben Kingsley e Vincent Cassel. É, sem dúvida alguma, um artista de respeito. O que o teria atraído a participar de um filme como A Marca do Demônio é algo que talvez nem ele próprio consiga responder de forma convincente.
Pra começar, ambos são coadjuvantes – ou seja, nem mesmo aparecer como protagonistas conseguiram. Esses espaços foram ocupados pelos novatos Eivaut Rischen, Arantza Ruiz e Nicolasa Ortíz Monasterio. As duas são filhas da professora De La Cueva (Cavazos), que, sem saber o que estava fazendo, leva para casa um antigo manuscrito há muito desaparecido. As garotas acabam mexendo nele e liberando um espírito maléfico. O mesmo, aliás, que muitos anos atrás havia possuído o pequeno Karl (Diego Escalona Zaragoza). A criança passou por um exorcismo, que todos ao seu redor acreditaram ter terminado com a sua morte. No entanto, após ser deixado para trás em uma vala abandonada, ele não só recupera suas forças, como parte para se vingar do padre que o enfrentou. Adotado por outro pároco, ele cresce para se tornar também um caçador de demônios (Rischen).
Não precisa ser nenhum gênio para antever o que irá acontecer a seguir. Apenas uma das irmãs se vê possuída de imediato, e o que a outra faz? Recorre à internet para encontrar ajuda, e é claro que a primeira opção que irá lhe aparecer será a do padre Tomás (Noriega). Ao lhe relatar pelo que está passando, esse vai da incredulidade à aceitação total em questão de segundos. Os enfrentamentos são tão exagerados que ultrapassam o limite da comicidade. Os pais das jovens se opõem ao que está acontecendo, mas são logo descartados. Os dois homens se unem para o combate final, e se veem diante de um sacrifício. Sim, o roteiro parece ter sido elaborado por um adolescente que passa tempo demais trancado no seu quarto lendo histórias em quadrinhos. E as atuações não colaboram em nada para criar uma sensação, ainda que escassa, de verossimilhança. A impressão é de que a qualquer momento todos cairão na risada. Isso porque, do lado de cá da tela, é a única reação possível.
Sem pompa nem cerimônia, o diretor Diego Cohen – responsável por títulos tão empolgantes quanto esse, como Perdidos (2014), Luna de Miel (2015) e México Bárbaro II (2017) – vai eliminando um a um dos seus personagens, permitindo que apenas os essenciais para uma bastante previsível reviravolta final permaneçam em pé: afinal, tudo o que faz é repetir o mesmo gancho narrativo já empregado lá no começo da trama. Talvez Lumi Cavazos estivesse com alguns boletos atrasados, e é melhor pensar que Eduardo Noriega tenha sido enganado por seu agente, pois absolutamente nada se salva nesse circo esquizofrênico aqui apresentado. Dono de diálogos risíveis, enquadramentos canhestros (quase tudo feito em close-ups, provavelmente para esconder a precariedade dos cenários), uma trilha sonora irritante e intrusiva e um argumento mais furado do que uma peneira, esse A Marca do Demônio caminha a passos largos para se posicionar como um dos piores lançamentos do ano. Os demais atrás dessa mesma marca, que se preparem: a competição será árdua.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 1 |
Francisco Carbone | 1 |
MÉDIA | 1 |
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