Crítica


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Sinopse

A rotina de vida dos catadores de papel e materiais recicláveis na cidade de São Paulo.

Crítica

Em À Margem do Lixo, Evaldo Mocarzel mostra a situação dos catadores de lixo em São Paulo, construindo sua narrativa com depoimentos dos trabalhadores das mais diversas cooperativas da capital paulista. Além de contarem sobre seu trabalho, os catadores apresentam sua realidade, contam suas histórias pessoais, os problemas e vantagens desta função. Sofrendo com o preconceito de alguns, mas tendo em mente o valor do seu trabalho não somente pela renda, mas pela importância ambiental, os catadores conseguem mostrar o seu lado da história, pouco enxergado quando os vemos pelas ruas, com seus pesados carrinhos.

Muitos dos entrevistados pelo diretor não são nascidos em São Paulo, tendo chegado à cidade da garoa tentando um futuro melhor. Isso constrói um mosaico de sotaques e de experiências diferentes trazidas por cada catador que conta sua história. A ausência de qualquer tipo de legenda identificando os depoentes dificulta o trabalho da crítica para poder desdobrar algumas das entrevistas. Não poderei citá-los nominalmente, portanto. Uma das catadoras conta que saiu de casa, do nordeste, por não suportar mais os acessos de raiva do marido, sendo obrigada a deixar seus filhos para trás. Outro, pensando que a situação em São Paulo seria mais positiva, resolveu partir para a capital sem pensar muito e passou muitas dificuldades até começar a trabalhar como coletor de lixo reciclável.

Reciclar, aliás, é a palavra chave para muitos dos catadores registrados em À Margem do Lixo. Uma das entrevistadas, inclusive, diz sentir orgulho de seu trabalho, visto que o fato de carregar, separar e reciclar o lixo faz do mundo um lugar menos poluído. O que mais impressiona no documentário de Mocarzel é a força destes trabalhadores, que passam por cima do clima ruim, dos perigos do trânsito, dos riscos com a saúde e das inevitáveis provas de força com as quantidades absurdas de lixo recolhidos. Nenhum deles se queixa de sua situação. Mas todos pedem por melhores condições de trabalho.

Este lado político dos catadores é mostrado pelo cineasta. Eles se reúnem regularmente para buscar estas melhores condições, discutindo desde o dinheiro que recebem até os acordos com prefeituras e governos estaduais que possam lhes trazer algum tipo de prejuízo. Costurando os diversos depoimentos, o filme ainda inclui, de forma bastante impressionista, o processo de reciclagem pelo que passam alguns materiais como o plástico, a lata e o papel. Montado cruamente, sem músicas ou invencionices, Evaldo Mocarzel deixa seus entrevistados contarem suas histórias, colocando-os como protagonistas de seu filme.

Terceira parte de uma tetralogia iniciada em 2003 com À Margem da Imagem, e seguida em 2005 por À Margem do Concreto, À Margem do Lixo estava pronto desde 2008 e penou quatro anos para chegar aos cinemas nacionais. A estreia demorada felizmente não fez com que o longa-metragem perca sua validade, sendo um documentário interessante ao dar voz a trabalhadores que nem sempre tem chance de se expressar.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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