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Sinopse

Diferente das outras crianças, Sofia descobre em meio as suas habilidades de pintar o dom de conseguir curar doenças. A notícia acaba se espalhando e chega nas mãos de uma jornalista sensacionalista. Para proteger a garota, seus pais separados precisam se unir.

Crítica

Sofia (Letícia Braga) se tranca na sala de artes, pintando-a quase totalmente diante dos olhares perplexos das educadoras mantidas do lado de fora. A ludicidade da cena, que busca deflagrar algo de especial na menina, se estabelece de maneira desajeitada, sem algo para lhe tornar mais que mero artifício expositivo. Mas logo se percebe que esse é o tom predominante em A Menina Índigo, filme que mira desleixadamente em diversas direções, desperdiçando conflitos potenciais em função de uma abordagem ingênua do ponto de vista cinematográfico. Nem mesmo a singeleza da trama consegue encontrar caminhos menos simplórios para respirar. Falas são ditas burocraticamente e personagens surgem subaproveitados em meio à necessidade de enfileirar assuntos diluídos rapidamente. Da encenação à interação entre os atores, praticamente tudo soa mecânico, endurecido pela representação incapaz de esconder fragilidades e um olhar deveras pueril.

O primeiro viés do qual o diretor (também roteirista e produtor) Wagner de Assis se vale é o tempestuoso relacionamento entre os pais divorciados de Sofia, Ricardo (Murilo Rosa) e Luciana (Fernanda Machado). Qualquer encontro entre eles acaba em briga. Logo, a escola culpa a instabilidade familiar pelo comportamento incomum da menina. Aliás, as cenas com as professoras e pedagogas beiram o caricatural. Temos, então, o segundo elemento supostamente importante, exatamente a dificuldade das instituições de ensino deparadas com alunos longe do padrão. Não há retroalimentação ou um imbricamento efetivo dos expedientes que o realizador lança mão para edificar o caminho de descoberta das qualidades latentes da infante protagonista. Fosse apenas inábil em costurar as abordagens, A Menina Índigo não seria tão frágil. Todavia, o engessamento do elenco, a pouca criatividade das esferas imagéticas e sonoras – debilidades diretivas – tratam de tornar o conjunto inócuo.

Wagner de Assis conduz o espectador mais ou menos em paralelo a Ricardo. As descobertas desse pai acerca das faculdades especiais da filha propiciam ao longa-metragem adentrar em determinadas esferas, algumas inclusive místicas. Depois de passar com Sofia por especialistas que receitam facilmente remédios de tarja preta para “adequá-la” – outro componente tangenciado sem maior efeito expressivo –, Ricardo é gradativamente afrontado pela verdade que dá conta dos poderes curativos dela. Deus entra na jogada, já que a falta de fé dos genitores não reverbera na filha abençoada com o dom. Contudo, o filme não assume, de fato, um discurso religioso. A conduta jornalística também é colocada nesse caldo ralo, cheio de ingredientes mal misturados. Os colegas de Ricardo são homens inescrupulosos que privilegiam a notícia em detrimento da amizade, como um deles chega a verbalizar. Sem contornos críticos definidos, essa perspectiva acaba caindo na vala comum do estereótipo.

A Menina Índigo ainda subaproveita evidentemente o conflito ético de Ricardo – denunciar na revista, conforme preconiza sua profissão, o pai corrupto ou protege-lo? –, bem como o sensacionalismo da imprensa. Algumas sequências chegam a beirar o risível, como a remoção do avô sofrendo um ataque cardíaco, ação interrompida para que o doente veja sua neta “dar uma lição” nos repórteres com frases de efeito e a letra musical que prega a disseminação do amor. Sofia é uma personagem sobremaneira idealizada, representante de uma nova geração que pretensamente traria alegria ao mundo, claro, para isso precisando ser imaculada. São diversos arquétipos passeando na telona num emaranhado de enfrentamentos sem substancial peso dramático. A arte, encarada como uma espécie de reflexo da singularidade da protagonista mirim, é utilizada gratuitamente, não se prestando a ancorar leituras poéticas, sendo mais uma nota errática neste filme absolutamente debilitado por sua postura tortuosa.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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