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Crítica


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Sinopse

Quando a Fenda do Biquíni e todos os seus habitantes são subitamente retirados do oceano, Sandy Bochechas e Bob Esponja Calça Quadrada viajam para o Texas, EUA. Lá, devem salvar a cidade de um plano maligno.

Crítica

Sandy Bochechas é uma das personagens principais do universo Bob Esponja. Esquila amante da ciência, ela respira embaixo d’água com a ajuda de um sofisticado traje que mais parece a roupa de um astronauta. Quando a Fenda do Biquini é literalmente sequestrada pela garra de uma máquina gigante, cabe a ela liderar os esforços para resgatar o lar subaquático e ainda entender como o laboratório para o qual trabalha está envolvido nisso. Misto de animação em 3D e live-action, A Missão de Sandy Bochechas é o primeiro longa-metragem derivado da série animada Bob Esponja: Calça Quadrada (1999-) a ser lançado diretamente em streaming – todos os demais tiveram estreia nas salas de cinema. Embora o título do filme dê a entender que Sandy será a protagonista da aventura, quem sabe com o próprio Bob Esponja fazendo apenas aparições esporádicas, as coisas não são bem assim. Ainda que Sandy arquitete o plano para ir ao Texas, na superfície, a fim de resgatar o pessoal e o território surrupiado do fundo do mar, Bob Esponja está sempre ao seu lado. Além do mais, muitas vezes ele é o responsável pelo humor tresloucado característico da série animada, como nas vezes em que seca completamente, voltando ao normal ao ser borrifado com uma loção especial para hidratar esponjas do mar. Então, ainda que seja a protagonista de fato, a esquilinha depende muito do Calça Quadrada para o filme decolar.

Enquanto Sandy e Bob Esponja se deslocam de maneira improvável até chegar ao laboratório – pegando carona em explosões de água, na carenagem de aviões comerciais e até mesmo em tornados, Patrick, Garry, Lula Molusco e Seu Sirigueijo são observados pela vilã, Sue Nahmee (Wanda Sykes). Ela pretende transformar as criaturas da Fenda do Biquini em pets colecionáveis resistentes a crianças encapetadas. O roteiro de A Missão de Sandy Bochechas é preguiçoso, pois sempre oferece explicações detalhadas dos acontecimentos, bem como acerca dos planos que poderiam dar um toque mais misterioso à aventura. Evidente que num produto voltado para crianças é preciso ficar atento à clareza, não escondendo demais as coisas sob o risco de perder parte significativa da plateia cuja atenção dispersa nem sempre combina com as sutilezas ou algo assim. Mas, deixando um pouco de lado a condescendência com a fatia infantil do público, o filme aproveita mal isto de ter histórias paralelas. De um lado, os heróis lutando contra as adversidades. Do outro, as vítimas tentando fazer alguma coisa para não terem a sua natureza drasticamente alterada para fins mercantis. Porém, os prisioneiros não fazem muita coisa, somente se lamentam por estarem com os pés e as mãos atados. As cenas no laboratório são dominadas pelas falas da vilã e de seus dois ajudantes sobre como chegar ao resultado maléfico.

Já na parcela mais movimentada de A Missão de Sandy Bochechas, na qual Sandy e Bob Esponja se encontram, o mais importante é a conexão da esquilinha com a sua família circense. Pelo que dá a entender, Sandy quebrou um ciclo de artistas do picadeiro para se dedicar à ciência, com isso deixando para trás a possibilidade gloriosa de seguir a trilha de seus antepassados. O filme até ensaia brincar com uma diferença geracional, especialmente quando os pais da amiga de Bob Esponja mencionam que gostariam da presença da filha novamente na trupe. O cenário está pronto para uma daquelas jornadas em que alguém precisa reafirmar a sua individualidade, cortando o cordão umbilical com a família para amadurecer e conseguir a sua emancipação. Mas, a cineasta Liza Johnson não avança muito nesse sentido, preferindo focar no carisma dos pais, da avó e dos demais parentes de Sandy quando é preciso uma turma animada para resolver algum problema cabeludo. Diferentemente de outros filmes nos quais a relação entre live-action e animação cria um visual híbrido interessante, aqui a produção tem mais cara de especial feito para a televisão – será por isso que ele não teve uma chance no circuito das salas de cinema? Além disso, os personagens de carne e osso não são particularmente bem apresentados e desenvolvidos. Os três são meras reproduções de clichês vilanescos repletos de caras e bocas.

O arco dramático de Sandy é construído de maneira frágil em A Missão de Sandy Bochechas. Sempre recorrendo às palhaçadas de Bob Esponja para chamar atenção à esquilinha, Liza Johnson não desenvolve bem a felicidade por ela reencontrar a família, não elaborando muito melhor a relação com os cientistas do lado “obscuro da força”. Outros aspectos fundamentais que ganham pouca atenção da realizadora são os dilemas que poderiam embaralhar a cabeça da protagonista. Ficar com a família biológica no Texas ou voltar à Fenda do Biquini onde moram os amigos mais próximos? Combater o laboratório, mesmo que os colegas cientistas estejam empenhados em expandir o conhecimento do mundo? Nada disso é relevante como poderia nessa história que vai diluindo os elementos conflituosos da aventura numa correria dispersiva. Quais os sentimentos estão realmente em jogo? Não sabemos, pois os personagens parecem estar mais se divertindo na luta contra o mal do que necessariamente na expectativa para saber se ainda terão amigos e um lar para onde voltar. Nesse sentido, a bravura de Sandy não é enfatizada, apenas a sua capacidade (já conhecida) de calcular probabilidades, raciocinar e tirar cartas da manga para garantir a segurança da Fenda do Biquini. Pode-se dizer que a novidade é um encontro parcialmente divertido com essa turma que boa parte do público conhece de cor.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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