Crítica
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Sinopse
Uma mulher fica amiga da faxineira que tem o rosto desfigurado por várias queimaduras. Logo ela descobre, da pior maneira, que essas marcas escondem algo muito mais assustador do que ela imagina.
Crítica
A primeira cena é suficiente para determinar o tom que a narrativa irá assumir a seguir – ou, ao menos, é a impressão que se tem. Após um rato desavisado ser preso em uma gaiola – veja bem, ele não é morto numa ratoeira, mas trancafiado em uma pequena jaula – o espectador é apresentado a uma espécie de viveiro, com vários roedores amontados, uns sobre os outros. Uma mão feminina pega dois ou três deles, pelo rabo, e os coloca dentro de um liquidificador. O que se escuta em seguida é o aparelho ligado – felizmente, tal cena é apenas ouvida, e não presenciada. O bolo líquido resultante é colocado em uma vasilha e levada à geladeira. O que ela irá fazer com a mistura não demorará a ser revelado. Porém, há uma outra figura importante em A Moça da Limpeza, além da personagem-título. Essa, Alice, só irá aparecer mais adiante. E será no embate entre essas duas mulheres que muito do filme dirigido por Jon Knautz irá se apoiar. Uma divisão que na maior parte do tempo não chega a um equilíbrio.
A questão fica mais clara ao se observar os créditos do longa. Alexis Kendra, a intérprete de Alice, é também parceira de longa data de Knautz, e os dois assinam o roteiro deste novo trabalho em conjunto. Isso acaba resultando em um destaque maior para a personagem dela – aquela que, sem muita dissimulação, logo fica claro que será a vítima – e menos atenção para a que dá nome ao filme. Essa falta de harmonia pode até ter sido pensada inicialmente para aumentar o suspense a respeito das motivações de uma em relação ao que acabará fazendo à outra, mas qual o sentido de incentivar esse tipo de sentimento, quando se é bastante previsível quanto ao resultado destas ações? Uma é a estranha, a calada, a traumatizada. A outra é a bela, a estonteante, a invejável. É claro que o encontro da duas não resultará em algo bom. Mesmo assim, uma relação entre elas, por mais inverossímil que possa parecer, forçosamente acaba acontecendo. Mesmo que todo mundo – com exceção da protagonista – saiba bem como tudo irá acabar.
Até poderia ser um conjunto interessante, caso as duas não fossem o que aparentam ser. No entanto, essa é uma verdade que se aplica a apenas uma delas, justo a que mais se esforça para construir uma imagem exterior. Alice é maquiadora profissional, está sempre muito bem arrumada, com o corpo em forma e cuidando da alimentação. Porém, é uma mulher que sofre. E como o cinema mais superficial tanto já reforçou, as causas do seu pesar se resumem a uma única explicação: homem. É apaixonada por um tipo que não poderia ser menos galã – o que torna a união dos dois ainda mais improvável – e que, ainda por cima, é casado. Ele que lhe fez diversas promessas, mas deixa claro que nunca irá largar a esposa. Por não conseguir se desapegar e partir para uma relação mais saudável, frequenta reuniões de “apaixonados anônimos”, ou algo do gênero. Chega inclusive a ter uma “madrinha”, alguém que deveria cuidar para que “recaísse em tentação”. Um esforço que não dá resultado, é claro.
Em uma das tantas tentativas de se afastar do amante, acaba se aproximando da menina enviada pelo condomínio onde mora para cuidar de um banheiro entupido. Em questão de dois ou três diálogos, a desconhecida não apenas é contratada para vir regularmente cuidar da limpeza do apartamento, como também se torna sua confidente. A que a contrata passa a descarregar na garota que recém conheceu todas as suas carências. Logo estarão as duas dividindo jantares e assistindo à filmes juntas. Mas Shelly (Rachel Alig, de Deusa do Amor, 2015), a empregada, tem uma agenda própria. Com um rosto deformado por queimaduras devido a um acidente da infância, passa a observar a moça aparentemente perfeita que começa a lhe dar atenção como um ideal de beleza a ser alcançado. Nem que para isso tenha que ser não igual à quem admira, mas tê-la para si, como uma boneca Barbie pessoal.
O grande problema de A Moça da Limpeza é o psicologismo barato através do qual o enredo criado por Knautz e Kendra tenta justificar cada um dos movimentos e decisões tanto de Shelly quanto de Alice. Uma série de flashbacks que beiram o constrangimento servem apenas para reforçar o que já era evidente – aquela que nada tem sofreu quando pequena, e foram esses abusos que a tornaram a mulher destruída (tanto por dentro quanto por fora) que hoje ela é. Da mesma forma, é a incapacidade da outra em se valorizar e estimular a autoestima que a levam ao triste desfecho que lhe aguarda. No mais, há pouco a ser observado como válido – as interações entre elas são frágeis e forçadas, a fúria que ambas escondem nos seus interiores não são justificadas (ao menos não a quem elas se dirigem) e a conclusão a qual acabam se encontrando, ao invés de ser corajosa ou provocadora como talvez os realizadores gostassem, é somente grosseira, pois investe na compensação do bizarro ao invés de apostar um possível confronto entre elas. Muitas portas chegam a ser desenhadas, mas todas permanecem fechadas, como se não houvesse interesse em explorar um terreno além do óbvio.
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