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Sinopse

Depois de alguns anos de casamento com Pedro, Joana descobre que está sendo traída, mas decide fingir que não sabe de nada para prosseguir com a relação. Quando se dá conta de que o caso extraconjugal dele é com Pilar, começa a se relacionar com o marido da amante secreta.

Crítica

Variação de O Quatrilho (1994), A Mulher do Meu Marido – cujo argumento é da autoria de Fábio Barreto, o diretor do longa-metragem referencial que disputou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro – aborda também relações extraconjugais. Especificamente, lança luz sobre o caso que Pedro (Paulo Tiefenthaler) mantém com Pilar (Aylin Prandi). A esposa dele, Joana (Luana Piovani), começa a se relacionar com o marido dela, Martin (Francisco Andrade). A coincidência não é maior problema, sobretudo diante da oscilação entre combater certos estereótipos e, concomitantemente, alimentar outros ao ponto de indefinir os personagens. Para começo de conversa, a traição é frequentemente colocada numa perspectiva menos moralista e enquadrada por hipocrisias. Ainda que algumas pessoas demonstrem dificuldade para lidar com a situação, especialmente Joana sai-se melhor, demonstrando atitude menos reativa. Seria algo bem-vindo, não fosse mal conjurado.

Por um lado, A Mulher do Meu Marido mostra a esposa traída colocando em primeiro lugar a manutenção do ambiente doméstico diante das puladas de cerca do cônjuge. Mas a protagonista possui tão pouca consistência que fica difícil compreender a natureza do posicionamento, se entendimento das vicissitudes dos elos afetivos ou concessão por conta do apego à configuração burguesa da família abastada. O cineasta Marcelo Santiago não disponibiliza tempo e espaço suficientes para que complexidades se desprendam dessas dinâmicas, atravessadas por tentativas sucessivamente falhas de gerar humor a partir de componentes cotidianos. Pedro é uma figura praticamente burocrática na trama, com comportamentos esquemáticos e respostas fáceis às circunstâncias que envolvem, inclusive, o outro casal, o de estrangeiros que cultiva o desejo de ter seu primeiro filho. Aliás, o trabalho do elenco é sabotado pelo texto frágil e pela direção não menos cultora da obviedade.

A Mulher do Meu Marido tem em Paula (Gabi Lopes), filha de Pedro e Joana, a coadjuvante definida pela implicância com os genitores e suas escapadelas. Ciumenta ao detectar os segredos, ela entra em atrito com o pai por conta do namoro com um malabarista. Todavia, esse conflito sucessivo não dá em muita coisa, senão em meia dúzia de episódios nos quais Paulo Tiefenthaler tenta construir um tipo próprio das elites, portanto incapaz de vislumbrar algo que não seja o sucesso financeiro dos pretendentes a ser seu genro. O núcleo argentino é mais bem resolvido, embora igualmente seus integrantes sejam repetidamente prejudicados pelas debilidades de um enredo que não se equilibra bem, sequer, nos lugares-comuns disponíveis. Sobram belas imagens de cobertura, verdadeiras odes aos principais cartões postais do Rio de Janeiro, e faltam espessura cômica e profundidade dramática para que tudo vá para além da mera observação sem potência definida.

Porém, o grande problema de A Mulher do Meu Marido é o pretenso refute dos estereótipos. Na verdade, é a reafirmação deles o principal alimento do conjunto. O desfecho reservado a Martin, por exemplo, é um forte indício disso. Maria Clara Gueiros tem seu talento subaproveitado no papel de uma mulher dada a zombar de si mesma por conta do “encalhe” em que se encontra, claro, ao contrário da amiga que faz um sucesso danado com os homens. Personagens que gradativamente perdem qualquer interesse, idas e vindas amorosas com escassa densidade, parcos momentos de comédia genuína e uma vistosa inclinação por reforçar conveniências fazem do filme de Marcelo Santiago, se muito, um passatempo leve e despretensioso, mas sem vivacidade e graça. Os atores e atrizes, considerando pontuais exceções, parecem completamente no piloto automático, o que acaba deixando exposto o restante dos problemas, tanto os de abordagem quanto os de execução.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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