Crítica
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Sinopse
Marta quer se dar a chance de viver uma nova vida, em uma nova cidade.
Crítica
Marta abre os olhos. Está cansada. A viagem foi longa. Mas o que tem pela frente pode ser ainda mais difícil. Ou não. Vai depender, afinal, do modo como irá encarar o que ainda está por vir no seu caminho. Ela sabe que o que está por vir não será fácil. E apesar da canseira, da enxaqueca que a imobiliza, da filha que está ao seu lado – e que conta com sua responsabilidade – está disposta a fazer o movimento necessário para seguir em diante. Assim somos apresentados à protagonista de A Mulher Que Sou, quarto curta-metragem de Nathália Tereza, exibido na mostra competitiva nacional do formato no 47o Festival de Cinema de Gramado. A obra é singela, até mesmo simples. Mas fala mais em suas entrelinhas do que no pouco que exibe em sua tímida dramaturgia.
Diretora de De Tanto Olhar o Céu Gastei Meus Olhos (2017) – indicado ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro – e A Outra Margem (2015) – premiado no Festival de Brasília como Melhor Filme – Nathalia Tereza volta, mais uma vez, o seu olhar à mulher negra na sociedade brasileira de hoje. Mas a protagonista de A Mulher que Sou não está acomodada com esta condição. Ela ambiciona mais, seja lá qual for o preço a ser pago por esta mudança. Após uma jornada cansativa, de uma noite mal dormida e muitos quilômetros de estrada, aporta na cidade que decidiu chamar de sua a partir de agora. A primeira parada é o quarto de hotel onde deverá recuperar as energias. A segunda, é a visita ao imóvel que pensa em alugar (ou quem sabe adquirir?) para fazer dele o lar da sua família. A terceira vai ser dedicada ao lazer, e sabe-se lá que portas poderão ser abertas a partir de então.
O processo narrativo é desvia do didático pelo minimalismo. Os diálogos, aparentemente banais, dizem o suficiente para que cada situação seja desenhada. Ela menciona brevemente a dor de cabeça, diante do corretor de imóveis deixa transparecer um vislumbre de excitação com a possibilidade da casa própria, com a filha faz pouco caso do desânimo dessa, e no jantar supostamente romântico, no qual fala de amor acima de todas as coisas com um homem que conheceu naquele mesmo dia, ambos sonham mais consigo mesmos do que um com o outro. Há pouco com o que se trabalhar. Se tal constatação soa intimidante, por outro lado abre um universo de possibilidades. Se é não apenas o que se foi, mas também – e até principalmente – aquilo que se almeja ser.
É estimulante o momento em que se atravessa o cinema brasileiro, cada vez mais atento ao perfil multifacetado da população deste país. Esta verdade, no entanto, se ainda não é uma constante entre os longas-metragens, pulsa com determinação entre os curta-metragistas. A Mulher Que Sou é um exemplo que comprova este fato. A protagonista, vivida pela curitibana Cássia Damasceno – em um desempenho sensível, ao mesmo tempo que arrebatador – é uma lutadora que não teme mudar o cenário que a cerca frente a uma situação que lhe desagrade, seja por falta de valorização ou pela ausência de desafios. De cabeça erguida, demonstra-se apta para dar o passo seguinte. Tanto hoje como no dia de amanhã, aquele que se forma tanto no presente quanto no sonho por um futuro melhor.
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