Sinopse
Nos misteriosos e desconhecidos desertos do Egito, uma antiga rainha, cujo destino lhe foi injustamente negado, encontra-se mumificada. Apesar de estar sepultada, ela desperta em 2017. Com uma maldade acumulada ao longo de milhares de anos, ela espelha terror desde as areias do Oriente Médio até os becos de Londres.
Crítica
Este A Múmia está longe de ser a primeira releitura do icônico ser egípcio que volta à vida após séculos dado como morto, e também dificilmente será a última. No entanto, o que a diferencia das investidas anteriores é a responsabilidade que carrega ao chegar às telas neste primeiro semestre de 2017. Afinal, assim como a Disney possui um Universo Cinematográfico Marvel e a Warner começa a firmar o Universo Estendido DC, em que super-heróis das mais diversas origens interagem um com os outros em múltiplos filmes, também a Universal decidiu (re)criar seu contexto. E para isso, voltou às origens do próprio estúdio, resgatando os maiores monstros que a companhia deu vida e cujo sucessos obtidos entre os anos 1930 e 1950 repercutem até hoje. O longa dirigido por Alex Kurtzman é, portanto, o primeiro capítulo do anunciado Dark Universe (ou Universo Sombrio), e deverá ser seguido por títulos estrelados por figuras conhecidas como o Conde Drácula, o monstro de Frankenstein, o Lobisomem e o Homem-Invisível, entre outros. Este futuro, é claro, diz muito mais a respeito da vontade dos executivos no comando das contas do que pelo que agora podemos ver na tela, pois se dependesse apenas desse longa dedicado à criatura esfarrapada, o mais correto seria abortar a missão com a maior urgência possível.
As últimas vezes em que Tom Cruise apareceu no elenco de um filme em que seu nome era uma marca menor do que o coletivo ao seu redor foram no musical Rock of Ages (2012), um terrível fracasso de público e de crítica, e no drama espiral Magnólia (1999), que lhe rendeu sua terceira – e até hoje, derradeira – indicação ao Oscar. Como figura principal de A Múmia, é triste perceber que o resultado está mais próximo do primeiro caso do que do segundo aqui apontado. Chega a ser curioso divagar a respeito de quais teriam sido suas motivações para integrar este projeto, uma vez que seu personagem, o caçador de tesouros Nick Morton, é tão genérico que poderia ter sido feito por qualquer outro ator razoavelmente competente, sem muito esforço. Não há nada que o torne típico de Cruise, como um Ethan Hunt, um Jack Reacher ou um Maverick – apenas para ficarmos nos mais facilmente reconhecíveis. Assim, chega-se a provocar risos involuntários constatar que o astro dono de três indicações ao Oscar acaba se saindo pior do que o sumido Brendan Fraser, quando esse assumiu o mesmo desafio no homônimo A Múmia (1999).
Morton e seu auxiliar, Chris Vail (Jake Johnson), estão no Iraque atrás de relíquias históricas que possam ser contrabandeadas quando se deparam com uma inestimável descoberta arqueológica. Lá está o sarcófago de Ahmanet (Sofia Boutella), que foi enterrada viva após um pacto com Set, o Deus da Morte, que a levou a matar o pai, o faraó. Uma vez ressuscitada, ela passa a se alimentar da força vital daqueles que dela se aproximam, tudo para adquirir força suficiente que a permita concluir um ritual milenar e se unir de corpo e alma ao seu escolhido – no caso, aquele que a despertou, ninguém menos do que o protagonista. Ao se dar conta da maldição que está sob si, ele terá ao seu lado apenas a pesquisadora Jenny Halsey (Annabelle Wallis), que trabalha sob as ordens do doutor Henry (Russell Crowe), cujo sobrenome, “Jekyll”, já antecipa o que pode estar por vir nos próximos capítulos.
Partindo de uma sinopse absurdamente linear, o diretor Alex Kurtzman dá a impressão de estar imbuído de um espírito capaz de proporcionar o maior número de empecilhos para que o projeto seja bem-sucedido. Conhecido pelo enredo de filmes como Transformers (2007), Kurtzman havia tido até então apenas uma única experiência como realizador, no drama familiar Bem-Vindo à Vida (2012) – o que, obviamente, não lhe deu condições para encarar uma tarefa da magnitude de A Múmia. E ao escolher ter ao seu lado nomes como David Koepp (Mortdecai: A Arte da Trapaça, 2015), Christopher McQuarrie (Jack: O Caçador de Gigantes, 2013) e o desconhecido Dylan Kussman para a construção do roteiro definitivamente não foi a atitude mais sábia. Como resultado, percebe-se o exagero como força motora, seja na trilha sonora onipresente, cuja função é de apenas reiterar o que já está explícito na tela, ou nos efeitos visuais pouco criativos e aparentemente feito às pressas, buscando no espectador uma contrapartida oferecida mais pelo cansaço do que pelo encantamento.
Além do esforço egocêntrico de Cruise, que continua, aos 53 anos, tentando ser o mesmo super-herói invencível de duas décadas atrás (por exemplo, seu par romântico é duas décadas mais nova do que ele) – escolhê-lo como o “ser ideal” é forçar demais a barra, por mais brilhante que permaneça seu sorriso – pouco se salva também no resto do elenco. Sofia Boutella, como vista em Kingsman: Serviço Secreto (2014) e Star Trek: Sem Fronteiras (2016), parece ser incapaz de atuar com a cara limpa – e um histórico como dançarina de videoclipes de Madonna apenas confirma essa impressão. Jake Johnson é o alívio cômico sem graça – suas intervenções são completamente desnecessárias – e Annabelle Wallis é a loira caucasiana igual a milhares de outras, e com tal visual torna ainda mais complicada a exigência de se acreditar na figura que tenta defender, uma cientista renomada que dificilmente teria tempo para malhar o corpo e cuidar da pele e dos cabelos com o mesmo esmero da atriz. Mas deste conjunto, nada pior do que o rotundo Crowe, inadequado tanto como Dr. Jekyll (cadê a fragilidade?) quanto como o Sr. Hyde (sua monstruosidade deveria ser mais uma questão de atitude do que de maquiagem). Imaginar a possibilidade de um filme inteiro dedicado a ele num futuro próximo é, literalmente, de causar arrepios – e pelas razões erradas.
O Dark Universe teria tudo para dar certo. Porém, as já anunciadas contratações de Johnny Depp (Homem-Invisível) – um ex-astro em franca queda – e Javier Bardem (Monstro de Frankenstein) – um talentoso artista que, como mostra o recente Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar (2017), tem se rendido ao clichê com pouca resistência – apenas indicam um desejo mais pelo espetáculo do que um respeito pela essência destes personagens. Dentro da mesma linha lógica, A Múmia recai sobre um mal igual ao do recente Esquadrão Suicida (2016) – um filme sobre bandidos em que todos eram bonzinhos – buscando a todo instante justificar com explicações didáticas – faz-se questão de que tudo seja esclarecido nos mínimos detalhes, até as ideias mais absurdas – a ‘real natureza’ de cada um, como se o mal por si só não pudesse existir. Bom, estamos falando de um universo de monstros em que monstruosidades parecem não ser permitidas. Com um primeiro passo nesta direção, é pouco provável uma mudança de rumo a seguir. E assim, monstruoso mesmo é o que se faz não em cena, mas nos bastidores, por trás das câmeras.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 4 |
Matheus Bonez | 1 |
Yuri Correa | 3 |
Rodrigo de Oliveira | 4 |
MÉDIA | 3 |
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