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No documentário A Música do Tempo, o cineasta João Velho registra parte da história do Grupo de Música Antiga da Universidade Federal Fluminense. Criado nos anos 80 do século passado, no Rio de Janeiro, esse time de artistas se debruça sobre a musicalidade medieval e renascentista, não apenas oferecendo performances, mas também realizado pesquisas de sonoridades e entrelaçamentos, mantendo viva a tradição ibero-americana. Em certo momento do filme, alguém menciona que a ideia inicial de realizar o registro audiovisual para um DVD comemorativo se desdobrou no longa-metragem em questão. Tal informação é importante, especialmente para a compreensão do caráter de boa parte da estrutura narrativa resultante, feita, exatamente, de vislumbres de apresentações, como se elas fossem realmente capturadas como algo meramente sintomático do virtuosismo musical. Isso não seria problema caso houvesse dinamismo ou o que o valha.
A Música do Tempo, atento a uma iniciativa que merece, além de preservação, a luz do cinema para engrandecê-la em outro suporte, infelizmente é muito cansativo. Isso acontece, principalmente, por conta da ausência de eixos temáticos sólidos e da capacidade do roteiro para promover um percurso estimulante, inclusive por entre os meandros de uma formação que está junta há algumas décadas. Num instante se está falando sobre herança cultural e no subsequente, sem mais aquela, integrantes são questionados acerca de possíveis atritos internos. Ambos os assuntos voltam em pontos diferentes adiante, o que aponta a uma falta flagrante de consistência e até de coerência na sintaxe do filme. Ao invés de trabalhar de modo aproximado os temas, dando-lhes relevância, o realizador prefere costurar aleatoriamente seus retalhos e ver no que dá.
Outro problema grave de A Música do Tempo é a disposição esquemática dos números musicais. O filme é, basicamente, feito de pequenas apresentações, demarcadas por um bem-vindo didatismo que auxilia o espectador na compreensão do universo que permeia aquela musicalidade entremeada por toda sorte de questões que tangem ao grupo. A parte em que os membros falam das rusgas é completamente descartável, senão como um comentário banal acerca da convivência desgastada pelo tempo. Em várias passagens, João não integra satisfatoriamente o talento dos músicos e herança histórica por eles resgatada em prosa e verso. O andamento do conjunto é trôpego e repetitivo, sem a devida valorização dos componentes observados ora frontalmente, ora de maneira colateral. Tampouco são efetivas as curtas encenações com intenção plástica.
O Grupo de Música Antiga da Universidade Federal Fluminense tem espaço para contar a sua trajetória em A Música do Tempo, contudo não encontra nele um veículo pujante. No que concerne à fotografia, ela se vale do preto e branco, no mais das vezes, e recorre ao colorido no testemunho dos números executados. Essa alternância burocrática, sem qualquer razão de ser, se configura mais como um ruído estético. João Velho não logra êxito ao tentar criar camadas por meio de perspectivas múltiplas, com ângulos flagrando câmeras oferecendo outa dimensão do testemunho audiovisual. Essa miríade de recursos soa como uma hipertrofia desnecessária, um indicativo ainda mais ostensivo dos problemas de um filme que tem bons momentos, se posta diante de um objeto de estudo potencialmente fascinante, mas fica girando em círculos até perder-se.
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