Crítica
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Sinopse
Henry Sawyer é um pai que luta para se conectar com o filho Gabriel, que descobre um tumor no cérebro que o impede de produzir novas memórias. Os dois tentam superar uma distância emocional e acabam encontrando uma forma de se relacionarem através da música.
Crítica
O poder de cura atrelado à música é espantoso. Exemplos reais existem para provar esta afirmação – talvez o mais conhecido no Brasil seja a miraculosa recuperação de Herbert Vianna, líder dos Paralamas do Sucesso, que através de sua aptidão musical conseguiu dar a volta por cima após um sério acidente. A musicoterapia tem se mostrado também uma boa alternativa para ajudar na comunicação entre um paciente e seus parentes, quando o elo se perde por algum acidente, doença ou trauma. A Música Nunca Parou, longa-metragem dirigido por Jim Kohlberg, mostra o caso de uma família que utilizou a musicoterapia exatamente para isto. E, no processo, atritos antigos que prejudicavam o relacionamento entre um pai e um filho são paulatinamente apagados.
O roteiro é assinado por Gwyn Lurie e Gary Marks, baseado no artigo “The Last Hippie”, escrito por Oliver Sacks, famoso neurologista britânico. O doutor tratou de um rapaz (Greg F) que o inspirou a escrever o personagem Gabriel Sawyer, interpretado no longa por Lou Taylor Pucci. Na trama, ambientada na década de 1980, Gabriel é encontrado e tratado em uma clínica neurológica anos depois de ter perdido contato com os pais. Um tumor no cérebro o previne de criar novas memórias, o que deixa seu pai, Henry (J. K. Simmons), e sua mãe, Helen (Cara Seymour), sem saber o que fazer. Existe um abismo entre os homens da família Sawyer, uma ferida antiga que ainda é carregada pelos dois. Quando um membro do staff da clínica percebe que Gabriel responde a estímulos musicais, a musicoterapeuta Dianne (Julia Ormond) é chamada para ajudar. Através de canções dos Beatles, Bob Dylan, Buffalo Springfield e, principalmente, Grateful Dead – a banda preferida do rapaz – pai e filho experimentam uma reconciliação até então impensada.
A narrativa de A Música Nunca Parou é fragmentada, costurando a ação entre a década de 1980 e os acontecimentos que levaram ao afastamento de Gabriel e sua família vinte anos antes. A maquiagem utilizada não convence muito e a direção de arte é visivelmente limitada. No entanto, a força da história acaba por fazer o espectador não se apegar a estes detalhes. Ainda mais quando somos presentados com versões originais de clássicos como All You Need is Love, Mr. Tambourine Man, For What it’s Worth e Uncle Joe’s Band, podemos deduzir para onde foi o dinheiro do orçamento do longa-metragem. Não é barato licenciar canções como essas e a força destas interpretações são justificativas suficientes para o investimento dos produtores. Quando vemos Gabriel emocionado ao ouvir os primeiros versos do hino ao amor dos Beatles, nos enternecemos junto com ele, pois todos temos histórias pessoais com canções das mais variadas. Talvez por isso o trabalho de Jim Kohlberg funcione tão bem.
Lou Taylor Pucci consegue nos mostrar a evolução de seu personagem, passando de um estado catatônico desolador e chegando a um saudável senso de humor jovial. No entanto, o verdadeiro motor do filme é J. K. Simmons, como o patriarca da família Sawyer. Henry costumava brincar com seu filho quando jovem, lhe ensinando sobre suas músicas favoritas e testando a memória fotográfica do menino a respeito de compositores e canções. Quando o conflito de gerações se mostrou intransponível na década de 60, com o flower power, a guerra do Vietnã e o rock’n’roll, pai e filho colidiram de frente. Henry não entendia os gostos do filho e pensava que a música o transformava em um rapaz difícil – sem perceber que, como Bob Dylan cantava, the times they are a-changin’. Era a mistura da época, da puberdade e do desejo de liberdade que impulsionavam o jovem Gabriel. A música era apenas uma forma de extravasar tudo aquilo. Quando Henry consegue entender isto e se entregar ao poder daqueles grupos tão queridos pelo filho, uma comunicação finalmente acontece. A performance do veterano é comovente e a jornada do personagem tem tudo para emocionar o público.
Mesmo com um jeitão de filme para tevê, A Música Nunca Parou é um belo trabalho de estreia de Jim Kohlberg, conseguindo demonstrar que cicatrizes antigas podem ser curadas com um pouco de comunicação. No caso de Henry e Gabriel, este diálogo se dá através das canções. Um grande exemplo do poder transformador que a música tem.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Rodrigo de Oliveira | 8 |
Edu Fernandes | 7 |
MÉDIA | 7.5 |
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