Crítica
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Sinopse
Professora que se relaciona estavelmente com Xavier, Sophia tem cerca de 40 anos quando sua vida vira de pernas para o ar. Ela conhece Sylvain, o rapaz contratado para reformar a sua casa de campo, por quem inesperadamente cai de amores.
Crítica
O amor é uma coisa complicada. Por mais que tentemos compreender as suas regras por meio de fórmulas e padrões relativos à sua linguagem geral, cada indivíduo o percebe e o vivencia de maneira particular. Há quem precise de mais ou menos doses diárias de romance, existem os amantes desesperados por sinais e aqueles avessos às manifestações de afeto. Enfim, o amor é heterogêneo. Ao fim de A Natureza do Amor, percebemos que a roteirista e diretora Monia Chokri tem uma tese principal sobre esse tema que mobiliza filósofos e artistas: a de que ser completamente feliz num relacionamento romântico é uma tarefa impossível e que estamos fadados à contínua busca marcada pelas euforias iniciais logo substituídas por frustrações. A protagonista é Sophia (Magalie Lépine Blondeau), professora de filosofia que leciona para uma turma de idosos enquanto aguarda sua recolocação profissional. No entanto, essa condição transitória e expectativa não é importante. As cenas de aula servem somente para a diretora mostrar que diversos pensadores ao longo da História encararam os labirintos do discurso amoroso e não chegaram a uma conclusão. Curiosamente, mesmo que afirme a todo o momento que esse tema é difícil de ser enquadrado em modelos, a realizadora opta por um antagonismo simples para comprovar a incapacidade da personagem principal de alcançar a plena felicidade.
Sophia vive um relacionamento estável e pouco intenso com Xavier (Francis-William Rhéaume), assim como ela, um membro da classe média intelectualizada e orgulhosa da sua suposta sofisticação. Eles são urbanos, inteligentes, falam coisas espertas em jantares regados a vinhos escolhidos por sommeliers amadores. Presas fáceis do tédio. Da forma como a diretora constrói esse universo, trata-se de um ecossistema em que a sabedoria causa certa apatia. Tudo muda quando Sophia conhece Sylvain (Pierre-Yves Cardinal), o empreiteiro cotado para consertar o chalé interiorano recém-adquirido. O terceiro elemento desse triângulo amoroso é um caipira tão estereotipado quanto a esquerda chique e pseudo-consciente. É um homem físico que fala errado e se vangloria do próprio “bom coração” enquanto cala diante das manifestações politicamente incorretas da família que não reflete sobre suas conversas. Monia Chokri opta por trabalhar com matrizes bem definidas, colocando em rota de colisão mundos completamente diferentes e inconciliáveis a fim de comprovar a tese de que não basta desejar e/ou amar alguém loucamente para “dar certo” ou ser “feliz para sempre”. Então, de um lado a diretora nos diz que o amor é complexo e difícil (praticamente impossível) de compreender, mas de outro simplifica as paisagens humanas e as relações de classe para garantir que sua proposição seja confirmada.
A Natureza do Amor é um filme fácil de ser assistido, principalmente porque as mensagens são bastante claras. Monia Chokri não propõe um diálogo com o espectador, mas o condiciona a chegar às mesmas conclusões que ela, a propositora da dissertação. Dividida entre dois homens completamente diferentes, um sendo a segurança do relacionamento sólido, mas pouco fogoso, e o outro representando uma carnalidade intensa ao ponto de limitar o restante, Sophia está fadada à insatisfação. Enquanto permanece na companhia de Xavier, a protagonista conversa sobre assuntos interessantes, destila seu humor sofisticado e pode fazer citações eruditas, pois o seu parceiro estará na mesma sintonia intelectual. Mas falta o sexo excitante. Ao lado de Sylvain, é totalmente satisfeita no âmbito sexual, mas tem muita dificuldade para manter esse contentamento, por exemplo, numa reunião social com seus amigos, ocasião em que os abismos ficam claríssimos. A diretora não trabalha com sutilezas, criando situações e personagens arquetípicos/estereotipados para comprovar a sua tese, a único objetivo contemplado por aqui. A própria Sophia não é aprofundada, estando mais próxima de um protótipo de mulher atingida pelo dilema romântico que a leva à eterna busca. Somando a isso os universos antagônicos de seus amados e o resultado é um paradoxo: a simplificação do cenário para falar de algo obscuro.
Monia Chokri não explora as naturais contradições de sua protagonista, mantendo-se fiel a esse esquema bem definido no qual os personagens têm poucas nuances num ambiente repleto de garantias frágeis. Os casais duradouros são vistos como fontes de um tédio conformado, nada mais do que isso. Os amantes recentes são encarados como condenados à frustração quando o sexo perder a primazia, afinal de contas relacionamentos envolvem mais departamentos. A classe média urbana é fútil, discursa às vezes de modo vazio e até as novas gerações ganham a sua estereotipia com a garota não binária tatuada no rosto e de comportamento letárgico. Já os interioranos são caipiras ignorantes que trajam necessariamente roupas xadrez, ouvem música country e exibem seus modos grosseiros. Evidentemente, lidar com estereótipos de maneira tão escancarada é uma opção da realizadora, provavelmente para evitar que a mensagem final se perca em investigações que a questionem como uma sentença. Portanto, há uma tensão mal resolvida entre a observação do amor como algo complexo, de difícil definição, e essa estratégia de simplificar cenários, contextos e amostragem humana a fim de chegar a um resultado que dá pouca margem à reflexão. No fim das contas, ficamos com a visão determinista da diretora, a de que inexistem modelos seguros no amor, principalmente quando dois polos distintos se atraem.
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