Crítica
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Sinopse
Entre as novas configurações da sociedade árabe contemporânea, a vida de três pessoas completamente distintas irão se interligar inesperadamente. Um corretor de imóveis rico, um médico neurologista ambicioso preso ao seu passado e uma bela jovem totalmente dividida entre a razão e a emoção se unem por um propósito em comum.
Crítica
Primeiro longa-metragem do cineasta Karim Moussaoui, A Natureza do Tempo acompanha o percurso de três núcleos de personagens em uma Argélia contemporânea marcada por dificuldades socioeconômicas. Porém, nesse road movie árido, que se desenrola entre o confinamento das cidades e a vastidão do deserto, os contextos sociais são apenas pano de fundo para os dramas pessoais vivenciados pelos protagonistas. Se a estrada dinamiza a narrativa, a imagem do desvio é ainda mais pregnante. Obrigados a tomar rotas alternativas em seus trajetos, os personagens do filme acabam colidindo com o inesperado capaz de provocar mudanças substanciais em suas condutas. Esses pontos de inversão que alteram a narrativa reorganizam igualmente a ordem dos fatos interligando três histórias de vida.
O pai separado que lida com um filho sem perspectivas e a nova esposa francesa que quer voltar ao seu país é também patrão de um motorista que conduz a ex-namorada e sua família para a cidade vizinha, onde ela deverá casar com um homem que mal conhece. No caminho, ambos se reaproximam inesperadamente, apesar da relação interditada. Na despedida final dos dois, o táxi que a leva faz uma parada na rodovia para ajudar um médico cujo carro enguiçou. A partir de então, o filme de se concentra na problemática desse doutor acusado de omissão ao presenciar um crime grave. Finalmente, o mesmo médico fecha o círculo narrativo ao encontrar aquele pai separado que dá início à trama.
É bastante interessante o segmento relativo ao pai citado, Mourad (Mohamed Djourhri), perdido entre a necessidade de boa orientação ao seu filho, em termos de estudo e profissão, e seus próprios embates em um mercado de trabalho renovado que tende a valorizar mais os jovens do que os mais velhos. Moussaoui trata a questão de forma inteligente, abordando essa problemática sem ser panfletário. Ainda mais impactante é a forma como o cineasta expôs o relacionamento dúbio entre os ex-namorados Djalil (Mehdi Ramdani) e Aicha (Hania Amar), que precisam lidar com a presença da família dela enquanto a paixão reaflora no percurso da viagem em direção ao futuro noivo. Aicha é uma garota condescendente que atende as vontades de pai e mãe enquanto está com eles, e que muda completamente quando sozinha ou ao lado de seu antigo amor, demonstrando a autonomia que lhe é tolhida socialmente. Entre ela e Djalil há movimentos nítidos de atração e repulsa, jogo que acaba justamente quando o afeto assume o espaço que havia sido perdido. Novamente, Moussaoui rege muito bem esse núcleo do longa, com emoção e sem sentimentalismo.
Porém, o cineasta perde a mão ao lidar com o segmento do médico omisso (Hassan Kachach), alongando muito a narrativa sem ter a necessidade de explorar tanto o caso que o envolve – e que, ainda assim, se coloca como parte importante da trama. Entretanto, poderia ter sido mais comedido, evitando sequências inteiras que não fariam falta ao filme. De qualquer forma, a omissão do medico é uma constante entre os outros personagens do longa, característica sutilmente trabalhada por Moussaoui em um filme muito mais interessado em contar casos do que em julgar sujeitos. Com bela fotografia e protagonistas curiosos, o filme exibido na mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes de 2017, e também no Festival de Cinema de Gramado poderá, entretanto, ter dificuldades em encontrar seu público em função de uma narrativa lenta e contemplativa.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Danilo Fantinel | 6 |
Robledo Milani | 6 |
Filipe Pereira | 5 |
Francisco Carbone | 6 |
Leonardo Ribeiro | 7 |
MÉDIA | 6 |
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