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Crítica


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Sinopse

Imagens de arquivo de um comício nazista americano que atraiu 20.000 pessoas no Madison Square Garden em 1939, pouco antes do início da 2ª Guerra Mundial.

Crítica

De maneira sucinta, em cerca de seis minutos, o cineasta Marshall Curry oferece imagens lastimáveis de um comício nazista que aconteceu no Madison Square Garde, no coração de Nova Iorque, em 1939, quando a Alemanha construía seu sexto campo de concentração, exatos sete meses antes da invasão da Polônia. Como certa vez disse o dramaturgo (alemão) Bertold Brecht: “o fascismo é uma cadela que está sempre no cio”. Uma Noite no Madison Square Garden mostra a reverberação vergonhosa em solo estadunidense dos ideais segregacionistas e desumanos que levaram, entre outras coisas, ao Holocausto. A ponte com o presente sob a égide de Donald Trump é automática, uma vez que o conservadorismo vigora nas palavras do mandatário.

Uma Noite no Madison Square Garden é como um observador atônito e impotente diante das cerca de vinte mil pessoas fazendo a saudação nazista, se excitando com as palavras de um líder reafirmando orgulhosamente no palco as bases da doutrina que defendia a dominação branco-gentia. Há, pelo menos, um momento cuja força denota a intenção principal do curta-metragem, que é justamente mirar o passado para constatar a existência, em grandes blocos, de cidadãos norte-americanos que pregaram o extermínio de outrem como forma de “purificar a raça humana”. Quando um manifestante irrompe no palco, ele é prontamente coibido por um sem números de policiais e capangas nazistas. O foco é estreitado nas crianças ao fundo, uniformizadas com as becas do Terceiro Reich, dançando e comemorando enquanto o intruso é retirado do recinto à força.

Marshall Curry, além de diretor, é produtor e montador do filme. Ele embala esse retrato duro e sem firulas com a música pesarosa de James Baxter, uma espécie de sublinhar funesto da indignidade, especialmente para uma terra como os Estados Unidos, historicamente autointitulada “das oportunidades”. Como no Brasil, lá a democracia racial não passa de uma falácia mal sustentada no âmbito superficial. Justo o líder do Eixo, grupo que combateu a Alemanha e seus aliados na Segunda Guerra Mundial, continha em seu território várias pessoas (muitas delas poderosas) simpáticas aos postulados de Adolf Hitler e companhia. A quantidade impressiona, bem como a simbólica imagem da sombra de um braço em riste, pairando sobre a multidão no ginásio como uma síntese daquela adesão a preceitos inomináveis, então defendidos publicamente.

A despeito da curta duração, Uma Noite no Madison Square Garden é contundente, inclusive por não fornecer tempo de sobra para o espectador - de quem exige boas doses de informação prévia - se acostumar à conjuntura. Instados a ambientar-se rapidamente, somos jogados numa reunião revoltante, não muito diferente dos atuais grupos, de volume diluído na virtualidade da internet, que clamam pelo retorno dos “velhos tempos”. Há a nojenta nostalgia de quando a supremacia branca não era posta em xeque pela força da militância negra e/ou de outras populações consideradas minorias, como exatamente a judaica, pelo pouco contingente nas mesas de poder. Marshall Curry deflagra a presença do fascismo em seu país, não na longínqua Europa, mas bem no quintal de uma vizinhança que se gaba da pluralidade que não sustenta.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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