Crítica
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Sinopse
Desejando comemorar o fim do ensino médio, Karina viaja com seus amigos até uma casa de praia situada numa pequena ilha na costa do nordeste brasileiro. Em meio a festas, conversas e recordações, a garota percebe que há algo fora do lugar: uma sensação profunda de estranheza toma conta de si. Algo espreita a todos enquanto uma morte silenciosa os aguarda.
Crítica
Um começo aparentemente banal pode levar qualquer um aos seus piores pesadelos. Assim se estrutura a jornada de A Noite Amarela, do diretor e roteirista Ramon Porto Mota. O jovem realizador, que havia dirigido antes um dos episódios do coletivo O Nó do Diabo (2017), agora assume para si a responsabilidade de comandar do início ao fim uma produção de gênero, disposta não apenas a brincar com alguns dos seus conceitos mais tradicionais, mas também subvertê-los diante de uma proposta ao mesmo tempo ousada e familiar. O contexto exibido em seus primeiros minutos é absolutamente reconhecível. No entanto, os caminhos que se desenham a partir desse ponto levam a cenários que perturbam mais pelo que escondem do que por aquilo que revelam. E está neste jogo de sombras o seu maior mérito.
Sete amigos rumam a uma ilha no litoral da Paraíba para um feriado na casa do avô de uma das garotas. Estão no último ano do colegial, e querem apenas curtir os momentos derradeiros de liberdade, entrega e um pouco de irresponsabilidade. Os meninos respondem pelos clichês mais facilmente identificáveis: o esperto, o galã e o bobão. Já as meninas se confundem em suas obviedades, com uma notável exceção: a de olhos carregados e expressão sisuda, responsável pelo mistério que conduzirá os acontecimentos a seguir. Com o seu desaparecimento, caberá aos demais partir em sua busca. Onde ela estará? Ou melhor, o que poderia ter lhe acontecido? Juntos, são apenas uma massa uniforme de risos e reclamações. Separados, se mostram donos de medos sem disfarces, deixando claro o quão frágeis podem ser em suas individualidades.
Porto Mota é hábil em lidar com suas limitações estruturais. Apesar de estarem numa praia, os ambientes que frequentam são geralmente soturnos e enclausurados. Dentro da casa abandonada, nunca se tem a real noção do espaço que encontram a seu dispor. Há escadas que levam a lugar nenhum e salas entulhadas de móveis que não são aproveitados. Mesas sempre repletas de resquícios de uma alimentação que não foi feita, e camas que parecem insuficientes para a quantidade de hóspedes. A luz é controlada, dependendo de pontos de iluminação urbana ou da pequena luminosidade oferecida pelas telas de smartphones – aliás, o uso da tecnologia é no mínimo irônico, pois uma vez que sinal para seu uso não há, resta apenas aproveitá-los como lanternas improvisadas. Ao mesmo tempo, estará na explicação científica grande parte da justificativa para seus destinos. O grupo de amigos embarcou em uma viagem às vésperas de um futuro prestes a começar, mas tudo o que encontram é um olhar a um passado que não está pronto para abandoná-los.
Dividindo-se entre o antes e o agora, a narrativa vai compondo as identidades de cada uma dessas figuras. A rebelde e o apaixonado, a entusiasta e o piadista, o reflexivo e as líderes de torcida. “Sou uma alma velha, estou por aqui apenas para ajudar os amigos”, um deles revela em tom de confissão. Eles precisam desse apoio, mas não sabem de quem, e nem por quê. Estão perdidos, abandonados à própria sorte, sem nem identificar ao certo quais foram as decisões que os levaram até ali. É curiosa também a ausência de energia sexual entre jovens usualmente retratados como se fosse apenas isso que os move. Suas preocupações, como essa constatação é eficaz em apontar, são outras. Estão mergulhados em si mesmos e uns nos outros. A que se foi irá voltar, mas a que custo? E será ela mesma, o uma versão diferente de si? O déja vù é visível, como uma brincadeira que vai adquirindo preocupantes proporções, dada sua incidência e constância. As ilusões estão por todos os lados, e discernir o real do ilusório é apenas o começo de um desafio muito maior.
Com muito pouco, se vai bastante longe em A Noite Amarela. A lua que não se move indica o momento perdido no tempo e no espaço. A comunidade aparentemente abandonada onde foram parar é apenas reflexo de um país que se esqueceu daqueles que virão a ser o próprio amanhã. No indecifrável se esconde os resquícios de uma imaginação que luta para se manifestar. Jogos de câmera e uma montagem simples, porém estudada, são suficientes para construir um tormento que vai além do desespero de seus personagens. As pistas estão por todos os lados, e começam a ser expostas tão logo os primeiros passos são dados. Porém, reuni-las não será tarefa fácil. Pois muito mais do que aquilo que é revelado, estará no subentendido a verdadeira compreensão de uma trama que aposta na simplicidade, e acerta em uma relevância muito mais complexa e duradoura.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 8 |
Chico Fireman | 7 |
Francisco Carbone | 7 |
Leonardo Ribeiro | 8 |
MÉDIA | 7.5 |
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