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Sinopse

Uma jovem mulher viaja com seu futuro marido para a casa da família dele. Logo após chegar, ela percebe que a visita pode ter sido um erro terrível. Rodeada por pessoas estranhas, ela passa a ter visões horríveis. As coisas podem piorar ainda mais, já que a família do seu futuro esposo está preparando uma tradicional cerimônia matrimonial.

Crítica

É bastante promissor o prólogo deste A Noiva. Ele propõe uma boa instância terrífica, permitida pela crença popular, no século XIX, na preservação da alma das pessoas em placas do daguerreotipo, o primeiro processo fotográfico a ser anunciado e comercializado com o grande público. A imagem da noiva cadáver sendo devidamente montada à posteridade, com olhos pintados nas pálpebras, recurso para pretensamente ludibriar a morte, traz uma carga prévia de apreensão ao deslocamento da trama à nossa contemporaneidade, quando vemos Nastya (Victoria Agalakova) preparando-se para casar com Vanya (Vyacheslav Chepurchenko). De maneira gratuita, há o enlace, ou o ensaio, não fica claro – captado próximo dos personagens, menos por algum intuito dramático, mais para tornar desnecessária a constituição da cena propriamente dita – e logo vem o chamado dos parentes dele para uma visita à velha casa da família. Importante ao cineasta Svyatoslav Podgaevskiy é o clima evidentemente suspeito.

A Noiva demonstra um desequilíbrio entre as dimensões implícitas e explícitas.  Negando-se a entrar prontamente na esfera do horror, o realizador gasta momentos tentando jogar com a nossa percepção, investindo em convenções do gênero, como barulhos estranhos, portas abrindo e madeira rangendo durante a madrugada. Todavia, a mitologia em torno do clã, da maldição que se abate sobre seus integrantes por conta das experiências extraordinárias de um ancestral tão petulante quanto irresponsável, não é desenvolvida para além de seus dados superficiais. Nastya começa a ter visões angustiantes. A principal é a multiplicação de si mesma, como se a ela (e a nós) fosse necessário anunciar um destino já traçado. Mas, as tentativas, especialmente as visuais, de ampliar a sensação de inquietude param por aí, sendo acudidas, mais adiante, no que tange à missão de provocar medo, pela aparição literal do corpo em estado avançado de putrefação, cujo espírito busca outro hospedeiro jovem para perdurar.

O percurso adotado por Svyatoslav Podgaevskiy é totalmente claudicante. As interpretações não ajudam a adensar o pavor intrínseco à conjuntura. Victoria Agalakova, no mais das vezes, fica devendo na tentativa de criar uma protagonista fortemente acossada pelo entorno. Na medida em que o plano da cunhada se desvela, Nastya se resume a uma pessoa em constante fuga, algo não valorizado pelo comportamento protocolar da câmera e pela montagem, tampouco inspirada. A Noiva subaproveita as possibilidades de seu preâmbulo, caindo, sem delongas, na vala comum dos longas-metragens de terror/horror genéricos e, portanto, sem qualquer personalidade. Nem mesmo a figura assombrosa da noiva é utilizada como um elemento ativo dessa tentativa malfadada de suscitar pavor. Há algumas incongruências gritantes, como a ingenuidade de algozes que creem na virgindade de Nastya, o que faz toda a diferença aos planos de possessão em progresso.

Svyatoslav Podgaevskiy não consegue sustentar por muito tempo o interesse em A Noiva, pois lança mão de procedimentos requentados, como as ameaças saídas das sombras e os estranhos se comportando de forma abertamente duvidosa. Ao invés de propor uma abordagem singular, ainda que se valesse de cânones do gênero, o cineasta prefere navegar em águas paradas, sem propor coisas verdadeiramente instigantes. A fotografia e suas origens, componente com significativo potencial para ser um tempero distinto nesse molho insosso, é colocada completamente de lado a partir do instante em que as cartas são postas na mesa. O filme se torna um exemplar de perseguição puro e simples, sem uma construção dramática que dê conta de engrandecer os aspectos supostamente aterrorizantes da situação. Coloque nessa conta, ainda, uma boa dose de previsibilidade e temos um resultado, sobretudo, esquecível.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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