Crítica
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Sinopse
Acadêmica veterana, Marion tem um comportamento metódico. Casada com um cirurgião renomado, ela aluga um quarto para começar a escrever seu novo livro em paz, mas começa a ouvir, por acaso, as sessões de terapia de uma desconhecida na sala ao lado.
Crítica
Isolada num apartamento alugado a fim de escrever seu próximo livro, Marion Post (Gena Rowlands), protagonista de A Outra, começa a ouvir vozes vindas da sala ao lado. São sessões de psicanálise das quais em princípio se nega tomar parte, lacrando o duto de onde os sons vêm. Por obra do acaso, numa noite após adormecer de tanto trabalhar, ela escuta o relato desesperado de uma mulher (interpretada por Mia Farrow) em profunda crise consigo mesma, questionando o casamento, entre outros rumos que sua vida tomou. A vulnerabilidade alheia cativa Marion, sem que ela perceba num primeiro momento a dor do outro como espelho da sua. Mulher bem-sucedida profissionalmente, casada com um médico proeminente, amiga da enteada, isso tudo é superficial. No fundo, Marion é uma ilha.
Ter contato com a tristeza ao lado é o gatilho para Marion começar a questionar seus relacionamentos, mais precisamente as fundações sobre as quais eles se encontram. Assim, o prosaico relato de um casal de conhecidos sobre fazer sexo no chão da sala faz com que ela perceba seu casamento com o doutor Ken (Ian Holm) sem a mesma paixão de antes. O caso mantido anos atrás com um amigo de seu marido, interpretado por Gene Hackman, não lhe soava até então mais que uma aventura corriqueira. Agora, até mesmo essa memória é um fardo pesado, não tanto pela culpa do ato em si, mas pela sensação cada vez mais latente de que, ao acabar com aquilo, talvez tenha deixado para trás a chance de viver um amor intenso, menos cerebral. Marion, pouco a pouco, entende que ela própria construiu os muros que represam seus sentimentos, não deixando estes aflorarem por medo.
O tenso encontro com uma amiga de infância é apenas outro indício de que não apenas Marion se pôs emocionalmente estéril em virtude dos outros objetivos, sendo o principal deles a carreira, como também magoou a maioria das pessoas ao redor, passando por cima de seus sentimentos com a mesma voracidade com a qual se preservou de tudo que pudesse quebrar o invólucro hermeticamente fechado construído para isolar-se. Woody Allen, cineasta muito reconhecido por ora fazer graça, ora mesclar drama e comédia para observar as coisas da vida, aqui trabalha essencialmente no infortúnio da protagonista, que acaba por deflagrar os dos demais personagens. Não há uma piada sequer, um momento de refresco nessa jornada dolorosa de autoconhecimento e reinvenção pela qual Marion passa.
A aridez de A Outra não é demasiada, é exata. Woody Allen demonstra com esse filme tanto domínio da técnica, ele que muitas vezes é injustamente acusado de ser “pouco cinematográfico”, quanto do pathos. A história de Marion também reproduz a visão de Allen acerca de uma burguesia alienada, cujas interações são calcadas nas aparências cultivadas em festas insossas e encontros sociais protocolares. A personagem de Gena Rowlands - um papel que não deve nada aos que interpretou sob a direção de seu então marido John Cassavetes -, passa por um árduo processo de reconstrução. Sim, pois se antes do contato com a voz angustiada da sala vizinha ela agia quase dissociando sentir e fazer, agora parece disposta a uma perspectiva totalmente nova. Não é de se estranhar, portanto, que encerre o filme dizendo-se, enfim, num momento de paz.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 10 |
Chico Fireman | 7 |
Francisco Carbone | 7 |
Ailton Monteiro | 10 |
Wallace Andrioli | 6 |
Bianca Zasso | 8 |
MÉDIA | 8 |
Ótmo comentário, adorei... como de costume!