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Sinopse

O marido de Terry some repentinamente, sem qualquer explicação. Para lidar com a nova realidade, que ainda é caracterizada por constantes brigas com suas filhas, Terry recorre à bebida. Nesse momento, surge Denny.

Crítica

O ator Mike Binder é mais conhecido por ter aparecido em produções como Minority Report: A Nova Lei (2002) e A Conspiração (2000). Foi neste último, aliás, que trabalhou pela primeira vez ao lado da atriz Joan Allen, que viria a ser a protagonista de A Outra Face da Raiva, o mais eficiente trabalho dele como diretor. Também autor do roteiro, Binder consegue equilibrar nesta história aparentemente dramática seqüências de bom humor, suspense e romance, abrindo o leque de interessados sobre sua obra sem fazer com que esta se rebaixe a um nível medíocre. Esta habilidade é o maior mérito do filme, ao lado dos convincentes desempenhos de todo o elenco principal.

Terry (Allen) foi abandonada pelo marido, que a trocou por uma amante mais jovem. Sem forças para encarar a responsabilidade de cuidar das quatro filhas adolescentes, ela acaba se entregando ao vício da bebida. E para isso encontra companhia no vizinho Denny (Kevin Costner, numa boa participação), um ex-jogador de beisebol que ganha a vida como comentarista de rádio. Entre os problemas cotidianos de uma casa abandonada e de quatro garotas em busca de independência, os dois fracassados encontrarão um no outro o apoio necessário para, talvez, se reerguerem e partirem para outros caminhos. Quem sabe, juntos.

O drama do alcoolismo já foi diversas vezes abordado no cinema, geralmente pendendo entre o drama clássico (Farrapo Humano, 1945) e o melodrama barato (Quando um Homem ama uma Mulher, 1994). Em A Outra Face da Raiva, felizmente, não temos nem uma coisa, nem outra. O que toma conta da trama é a mais pura realidade, a incapacidade de uma pessoa adulta em encarar a crueldade dos fatos e a variedade de sentimentos e emoções que tomam conta daqueles ao seu redor. As quatro meninas, interpretadas com competência por Keri Russell, Erika Christensen, Alicia Witt e, principalmente, por Evan Rachel Wood, refletem com tranquilidade a diversidade enfrentada pela audiência desse relato dramático, porém maduro o suficiente para não se ter pena de si próprio.

Allen dá um verdadeiro show de interpretação em A Outra Face da Raiva. Sentimentos dos mais diversos se confundem no interior do seu personagem, alternando frustração com carência, ódio com revolta e, acima de tudo, afeto com descaso, de uma maneira singular. Seu desempenho foi lembrado em algumas das premiações de final do ano, tendo sido indicada ao Critics Choice Award e ao Satellite, além de ter sido premiada pelos críticos de Chicago e San Diego. Infelizmente foi ignorada no Oscar, apesar de apresentar uma atuação digna de tal reconhecimento. Já Mike Binder – que participa do filme também como o revoltante namorado mais velho de uma das filhas – demonstra uma sensibilidade louvável. Seu filme não é para chorar, mas também não para rir. É para se pensar, refletir e, com alguma sorte, aprender.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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