Crítica
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Sinopse
Imaginando que poderia deixar registradas as suas memórias, o artista plástico José Leonílson começou a gravar um diário em fitas cassete. O que ele não imaginava é que seu cotidiano seria transformado por uma descoberta.
Crítica
José Leonilson Bezerra Dias nasceu em Fortaleza, no Ceará, no dia primeiro de março de 1957. Com apenas quatro anos de idade, mudou-se com a família para São Paulo, onde estudou e se criou. Lá tem o primeiro contato com o mundo das artes, ao frequentar a Escola Panamericana de Arte e a Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). No final dos anos 1970 viaja para a Europa. Na volta, passa a dividir um ateliê com o artista e amigo Luiz Zerbini. Em 1980 faz sua primeira exposição individual. E o resto seria história, ainda mais em um país tão desmemoriado quanto o Brasil. Felizmente, no entanto, essa trajetória não se perdeu – em parte pela dedicação do próprio Leonilson, que a partir de 1990 decidiu dar início a um diário oral, gravado em fitas cassete. E é a partir destes registros que se constrói o emocionante e belo A Paixão de JL, documentário de Carlos Nader.
Premiado no É Tudo Verdade e no Rio Festival Gay de Cinema, A Paixão de JL deixa logo de lado o caráter de mártir do protagonista – qualquer semelhança do título com A Paixão de Cristo não deve ser intencional – para oferecer uma visão mais íntima e pessoal do protagonista. Sem depoimentos, entrevistas ou pesquisas extensas, o que encontramos é apenas o essencial: a obra e a voz de José Leonilson. Homossexual, foi uma das tantas vítimas da AIDS no início da epidemia no Brasil, vindo a falecer em 1993, apenas três anos após ter começado suas gravações. É a ele que escutamos, portanto, durante estes últimos meses de vida. É a realidade de um homem e de um criador em constante conflito, consigo e com os outros, indicando que somente da crise e da inquietação lhe era possível acessar a arte. Mas é também ficção, pois enxergamos a realidade através dos seus olhos, e é certo que nem sempre estamos desprovidos de uma certa dose de seleção natural a respeito do que nos interessa ou não.
“Morro pela boca, vivo pelos olhos”, afirma Leonilson a certo momento. Em nenhum instante chegamos a vê-lo em cena, seja criando, seja em reportagens ou entrevistas da época. Ali está apenas suas impressões, na sua intimidade, falando consigo – e agora com o mundo. Política, sociedade, sexo, amor, dinheiro, família, amigos, prazeres, companheiros, paixões, anseios, temores... está tudo ali, exposto sem reservas nem comedimentos. Enquanto isso, o que vemos é o resultado de sua obra. Em 36 anos, Leonilson produziu mais de 4 mil trabalhos, e chegou a ser considerado por muitos como a versão nacional do norte-americano Keith Haring – não por acaso, também morto pela AIDS. Sua importância só cresce com o passar do tempo, mas aqui temos a oportunidade única de encontrar não o ícone ou a figura acima do bem e do mal: vemos o homem. E é nessa simplicidade que o filme nos ganha.
Carlos Nader, que há pouco exibiu o pertinente Eduardo Coutinho, 7 de Outubro (2013), em que também visitava um mestre em sua área que já nos deixou, faz de A Paixão de JL mais do que uma homenagem, e sim uma obra poética que parte do lirismo do artista para encantar e comover o espectador. Fala-se do amor erótico, da ascensão e queda de Fernando Collor, a vergonha de ser gay e do medo que a família descobrisse sua orientação, de figuras pop como Madonna e Wim Wenders. Era uma pessoa qualquer, com erros e acertos, falhas e méritos, mas que calhava também de ser um gênio. Mas, acima de tudo, o que fica impresso aqui era sua busca pela felicidade. Independente como, com quem e quando. Pelo que percebemos, era um assíduo frequentador das salas de cinema. Com certeza, esse seria um filme que o deixaria feliz.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 8 |
Francisco Carbone | 9 |
Daniel Oliveira | 8 |
Alysson Oliveira | 9 |
Edu Fernandes | 8 |
Ailton Monteiro | 9 |
MÉDIA | 8.5 |
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