A Parte do Mundo que me Pertence
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Marcos Pimentel
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A Parte do Mundo que me Pertence
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2017
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Brasil
Crítica
Leitores
Sinopse
Pelas ruas de Belo Horizonte, o cineasta mineiro Marcos Pimentel só tem um objetivo: descobrir quais são os sonhos das pessoas que passam por ele. Entre uma menina com síndrome de down que deseja se tornar bailarina e um trabalhador que quer reformar a própria casa, o diretor revela o quanto um sonho é importante para a vida das pessoas.
Crítica
Andando com segurança sobre a linha tênue e invisível que interliga (não separa) documentário e ficção, A Parte do Mundo Que Me Pertence é um filme acerca do cotidiano de pessoas comuns. Hábitos são revelados com indícios de encenação, mas não de artificialismo. A câmera de Marcos Pimentel não se coloca diante dos personagens com pretensão de ser mera expectadora. Observando corpos efetivamente cênicos, uma vez que claramente instruídos quanto ao dispositivo que os intenta esquadrinhar, o cineasta, paradoxalmente, busca preservar a genuinidade dessas rotinas que, habilmente cerzidas, formam um painel heterogêneo de desejos ordinários. Dessa verdade remontada advém a potência cinematográfica do longa-metragem. Nele eventualmente são entrecruzadas experiências, permitidas as sutis convergências que articulam uma teia insuspeita. Aparentemente, os personagens estão sozinhos nessas jornadas pessoais com falas rarefeitas.
A Parte do Mundo Que Me Pertence instiga o investigar de gestos simples, mas que, justapostos, criam um enunciado a respeito de anseios íntimos. Nessa estrutura narrativa bastante engenhosa, a palavra desempenha função secundária, quando não terciária. São ínfimos os instantes em que o verbo é imprescindível à ação. No mais das vezes, as imagens e, sobretudo, a forma como os fragmentos são interconectados, é que geram os sentidos, a poética vigente. Pegando emprestado o título de um dos filmes mais emblemáticos do cineasta Yasujiro Ozu, pode-se dizer: o conjunto demonstra que toda rotina tem, realmente, o seu encanto. Justamente essa clara afirmação da beleza dos pequenos rituais comezinhos, constituintes do dia a dia, que é exibida com singeleza. Os cruzamentos acontecem ora literalmente, com interações entre protagonistas de segmentos distintos, ora discursivamente, com elementos em comum servido de rimas, de fina argamassa.
Há personagens mais bem explorados que outros, com maior destaque, o que gera um desequilíbrio em A Parte do Mundo Que Me Pertence. Todavia, isso não chega a configurar essencialmente um problema à fruição do documentário, especialmente em virtude da prevalência poética sobre o dado informativo. Assim sendo, faz sentido que a menina com Síndrome de Down, cujo sonho de ser bailarina se vê estampado nas paredes do quarto e no empenho nas aulas de dança, ganhe mais terreno, pois ela, em vários instantes, serve de catalisadora, sendo um núcleo ao redor do qual gravitam demais personagens. Um deles, o homem que almeja ser cantor de rap, o seu orientador no que tange aos exercícios físicos, ou seja, um facilitador para que a menina atinja objetivos. Os pés são componentes frequentemente destacados no filme, em diversos momentos enxergados de perto. Eles permitem o caminhar, mas também servem para plantar-nos na firmeza do chão.
A Parte do Mundo Que Me Pertence é uma bem articulada colagem de excertos. As constatações são construídas com vagar e cuidado, permitindo assim contato gradativamente profundo com as pessoas em cena. No princípio, determinada mulher é tida apenas como uma fã de Fábio Jr., vide a quantidade de fotos dele espalhadas em sua casa, mas, aos poucos, percebe-se ela, amplamente, como uma ex-obesa que sonha em casar-se, além de adepta de tratamentos estéticos. Sua mãe, antes examinada sozinha, quando atrelada a ela ganha dimensões complementares. Esse jogo de atrações é criativo e eficaz, gerando resultados desiguais, mas férteis. Gente à procura de companhia; o pé-de-valsa que tem sua paixão contada pela soma dos preparativos a um baile com as fotografias das gafieiras; meninos aspirando inocentemente à liberdade simbolizada pela pipa que serpenteia no ar. O pulsar da vida a partir de várias perspectivas é o motor desse filme que mobiliza.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 7 |
Diego Benevides | 8 |
MÉDIA | 7.5 |
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