Sinopse
O bote de uma família emperra durante um passeio de rafting. Pietra, a filha mais nova, é obrigada a perder um pouco de sua ingenuidade.
Crítica
Iuli Gerbase não é nenhuma novata. Filha do diretor Carlos Gerbase, desde pequena ela se viu nos sets de filmagens. Com experiência no cinema e na televisão, enquanto preparava seu primeiro longa-metragem (A Nuvem Rosa, previsto para 2020), ela ainda encontrou tempo para dirigir outro curta-metragem, A Pedra, selecionado para as mostras competitivas nacionais dos festivais Cine PE, em Pernambuco, e de Gramado, no Rio Grande do Sul. Em cena, ela parte de um núcleo familiar para discutir questões urgentes do cotidiano, como relacionamento entre pais e filhos, traição marital, as novas tecnologias e, acima de tudo, confiança. Tudo isso envolto numa ambientação de extrema simplicidade – e, justamente por isso, revelando uma absoluta eficiência, mesmo nos mais discretos detalhes.
"No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho", escreveu Carlos Drummond de Andrade. Pois essa pedra aqui surge durante um passeio de rafting. A mãe está insegura quanto à ideia. O pai está mais tranquilo. O filho quer apenas se divertir. A filha está inquieta. Alguma coisa houve. Ela não está disposta a conversar – criança, ainda, é dona de reações mais instintivas que racionais. Ela sabe que há algo errado. Mas não tem certeza. O fato dos pais conversarem em inglês na frente dos pequenos, com a intenção de que estes não entendam, apenas aumenta a suspeita. É óbvio que estão escondendo alguma coisa. Mas seria um segredo de um, ou dos dois?
A menina tem opiniões fortes. E Gerbase mostra uma bem-vinda segurança na condução dos seus jovens atores. A criança assume com tranquilidade o protagonismo da trama. Quando a pedra se impõe, o sinal de alerta lhe soa mais alto do que qualquer outra coisa. É chegado o momento de por um basta naquilo tudo. “Por que vocês querem nos matar?”, sussurra no ouvido da mãe, entre o lamento e a indignação. Para a mulher, também é o seu limite. Ela e o filho seguirão rio abaixo com o instrutor. O pai que vá a pé e pelo caminho descubra como acalmar a pequena. Mas o embate é justamente entre os dois. Homem e criança. Pai e filha. Uma mentira que não se sustenta, e que encontrará o seu meio de se manifestar, revelando tanto o turbilhão que se passa nela como o peso que ele terá que carregar pelo resto dessa jornada.
Objetiva em suas intenções e absolutamente no controle de sua história, a cineasta aproveita esse microcosmo familiar desenhado para refletir um mundo que parece estar sempre prestes a ruir, segurando-se em qualquer porto mais estável pelos pontos de apoio mais frágeis que lhes são oferecidos. Ainda assim, está lá, em pé, à espera de uma reviravolta, de uma luz que ofereça novos significados a conceitos um tanto envelhecidos. Felipe Kannenberg e Morgana Kretzmann desempenham suas funções com tranquilidade e competência. Mas o show, aqui, é mesmo da jovem Ester Amanda Schafer, que transita entre a birra e a determinação, sem nunca afastar o olhar do espectador. Muito disso, é claro, graças à condução de Iuli Gerbase que, com muito pouco, oferece um belo filme, pronto a ser descoberto.
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