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Sinopse

Insatisfeita com a vida submarina, Ariel deseja caminhar entre os humanos para conhecê-los melhor. A filha do grande imperador dos sete mares se apaixona por um príncipe e faz um pacto com uma bruxa para ganhar pernas.

Crítica

Na década de 1980, os estúdios Disney entraram num dos períodos mais difíceis de sua história vitoriosa. Decisões equivocadas, investimentos errôneos, apostas pouco calculadas. O cúmulo aconteceu em 1985, com o lançamento de O Caldeirão Mágico, uma produção caríssima para a época, com orçamento acima de US$ 40 milhões, e que arrecadou apenas US$ 21 milhões nas bilheterias. Seu teor mais dark, não musical e menos infantil teria afastado o público. Troca dos cabeças na direção dos estúdios de animação da Disney (incluindo a mudança das clássicas salas em Burbank para outro local, menos nobre) se fizeram necessárias, com alguns pequenos acertos nos anos seguintes: As Peripécias do Ratinho Detetive (1986) e Oliver e seus Amigos (1987). Mas nada seria igual após a chegada de uma sereia curiosa e sonhadora, que mudaria os caminhos dos estúdios do Mickey Mouse.

A ideia de transformar A Pequena Sereia, de Hans Christian Andersen (o mesmo autor do conto que gerou o megassucesso Frozen, de 2013), foi do próprio Walt Disney. Era vontade do visionário artista transformar aquela história em longa-metragem logo após Branca de Neve e os Sete Anões (1937). No entanto, não era possível à época fazer justiça à trama com a tecnologia disponível. Quis o destino que aquela ideia engavetada de Walt Disney tiraria seu estúdio do lamaçal no final da década de 1980. Com direção e roteiro de Ron Clements e John Musker e música da dupla de Midas Howard Ashman e Alan Menken, A Pequena Sereia foi um sucesso retumbante, ganhador de dois prêmios da Academia e responsável por uma bilheteria bastante respeitável.

Na trama, a jovem princesa Ariel (voz original de Jodi Benson) está entediada com a vida no fundo do mar. Seu pai, o rei Tritão (Kenneth Mars), é superprotetor, só tendo olhos para sua bela filha caçula. Diversas vezes teve de chamar a atenção de Ariel, que tem uma grande curiosidade a respeito do mundo fora das águas. Seus amigos, o peixe Linguado (Jason Marin) e o caranguejo Sebastião (Samuel E. Right), não dividem desta fixação. O último, inclusive, é mandado pelo rei para cuidar da sereia, não deixando-a entrar em encrencas. Quando certo dia, Ariel avista um belo príncipe em um navio, a menina se apaixona perdidamente. Durante um tufão, acaba salvando o rapaz, Eric (Christopher Daniel Barnes), que também se encanta pela “visão” que tem de uma moça – principalmente, sua voz. Decidida a se entregar a esta paixão, Ariel faz um pacto com a vilanesca Ursula (Pat Carroll), dando seu poder de fala em troca de pernas e a possibilidade de viver em terra. Existe, claro, um porém: se a pequena sereia não conseguir que Eric se apaixone por ela em três dias, ela será para sempre prisioneira da velha bruxa.

Para padrões atuais, pós-Girl Power, Ariel não é bem o modelo de heroína a ser seguido. Vejam, ela troca sua voz por um par de pernas e a possibilidade de ficar com um príncipe encantado, numa barganha que dificilmente seria visto como algo vantajoso para a moça. Fosse realizado hoje, A Pequena Sereia certamente seria um filme diferente. De qualquer forma, a mensagem romântica de que o amor conquista tudo ainda não envelheceu de todo, deixando o programa ainda válido.

Se a atitude da heroína pode ter envelhecido mal, o mesmo não pode ser dito das canções que embalam as aventuras da sereia Ariel. A vencedora do Oscar Under the Sea até hoje anima, com seu ritmo caribenho e sotaque carregado do ator Samuel E. Right. A versão em português, Aqui no Mar, não fica atrás, com o saudoso dublador André Filho cantando uma tradução inspirada para a canção escrita por Howard Ashman e Alan Menken (responsáveis depois pela também oscarizada trilha de A Bela e a Fera, de 1991). Indicada ao prêmio da Academia, a bela Kiss the Girl, também defendida por Samuel E. Right, é outra canção memorável.

Animação de encher os olhos até nos dias de hoje, 25 anos depois de seu lançamento, A Pequena Sereia não é apenas uma história de amor e de superação de obstáculos. No filme, o rei Tritão aprende uma lição valiosa ao perceber que aprisionar sua filha em uma bolha de segurança não ajudará em nada o futuro daquela pequena sereia. Por sua vez, Ariel entende que não é possível confiar em qualquer pessoa que lhe ofereça algo valioso. Seu pacto feito com Ursula (semelhança com Fausto não é mera coincidência) por pouco não resultou em um destino fatídico não só para seu pai, como para todos os que vivem no mar. Este aprendizado é interessante para a criançada que passa os olhos por esta aventura Disney. É uma lição de moral sem aquela mensagem enfadonha, careta.

Tido como o filme que marca a renascença dos estúdios Disney, A Pequena Sereia originou uma série animada de tevê, que durou três temporadas (entre 1992 e 1994), dois longas-metragens lançados direto em vídeo (uma continuação, em 2000, e um prequel, em 2008) e um musical da Broadway, entre 2007 e 2009. Nenhum com o brilho do original, mas trazendo de volta os personagens adoráveis que conhecemos na já clássica animação lançada em 1989.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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