Crítica
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Sinopse
Tudo parece correr bem no relacionamento estável entre Mari e Rafa. Pelo menos até que Isis e Fred se mudem para o apartamento ao lado. Os novos vizinhos não escondem que vivem um relacionamento bem mais agitado e aberto.
Crítica
O mundo muda (ainda bem, né?) e com ele as concepções sociais. Embora alguns ainda defendam, por exemplo, a monogamia como intocável desígnio divino que melhor consagra o amor nos relacionamentos, alternativas a esse modelo têm cada vez mais pautado as conversas sobre costumes. Afinal de contas, essa modalidade praticada pela maioria deriva de uma milenar construção de imaginário que atende a certas demandas morais/religiosas/econômicas. Com a mudança dos ventos, surge o espaço para alterações estruturais. Em A Porta ao Lado, dois casais vizinhos têm acordos matrimoniais completamente diferentes. Mari (Letícia Colin) e Rafa (Dan Ferreira) são tradicionais e não preveem escapadas com outros parceiros sexuais. Já os recém-chegados Isis (Bárbara Paz) e Fred (Tulio Starling) vivem um casamento menos conservador, no qual o atender as exigências do desejo passa pela liberdade mútua para experiências extraconjugais. Embora o filme seja sobre as tensões geradas pelo choque entre modos de casamento fundamentalmente distintos, a protagonista é Mari, mulher que se sente atraída pelas possibilidades do apartamento ao lado. De certa forma, o roteiro assinado por L.G. Bayão e Patricia Corso se aproveita do arquétipo “pessoa estagnada que vê no subversão a possibilidade de sentir-se viva” como base do conflito.
No entanto, mesmo que os roteiristas apresentem uma situação que já virou lugar-comum quando o assunto é monogamia versus poligamia, A Porta ao Lado ao menos tenta fugir de alguns estereótipos que geralmente caracterizam esses modelos pré-concebidos. Por exemplo, Mari não parece frustrada no seu relacionamento com Rafa, nem ao menos sexualmente falando. A cineasta Julia Rezende faz questão de enfatizar que o fato de ela ceder aos encantos do vizinho desviante do padrão "bem-sucedido profissionalmente" (mais um arquétipo comum nesse tipo de história) não é uma resposta imediata à infelicidade matrimonial. Aliás, é curioso (e bom) que haja uma sensível inversão na lógica comumente atrelada às crises resultantes da infidelidade. Sim, pois Mari mergulha de cabeça no “novo” não exatamente porque está de saco cheio do “velho”. Os problemas com o marido emergem posteriormente ao estabelecimento da relação às escondidas, ou seja, o passo adiante lhe fornece perspectivas que trazem à tona as rachaduras mantidas relativamente irrelevantes pela felicidade garantida por uma rotina segura. Também é positivo que a realizadora não permita ao filme defender soluções fáceis para problemas bastante complexos. Os personagens são contraditórios, possuem camadas e não atendem especificamente àquilo que deveriam ou não fazer de acordo com suas características principais.
Dentro de uma perspectiva de gênero, A Porta ao Lado claramente mostra que os homens tendem a reproduzir o machismo estrutural, mesmo partindo de um lugar supostamente menos opressor. Diante da notícia de que sua esposa está grávida, o progressista Fred exibe atitudes que mais têm a ver com a sua fragilidade emocional do que com uma concepção política do "ser homem". Ao pretender impor à mulher suas vontades repentinas de ser pai, ele realmente alude à ideia tacanha de que o marido poderia reivindicar poderes sobre a vontade da esposa. Já Rafa repetidamente sugere o sucesso financeiro de um garoto negro nascido pobre, que venceu na vida por méritos próprios, como justificativa à sua autoproclamação como provedor. Felizmente, Julia Rezende também se esforça para percebermos algumas nuances nesses comportamentos masculinos, evitando assim a criação de um lugar simbólico de vilania. Postas as qualidades do longa-metragem na mesa, é importante salientar que ele não instiga mergulhos profundos nesses assuntos abordados ao longo da trama. Estamos diante de um drama romântico de moderadas implicações sociais, no qual a natureza estrutural do patriarcado e a complexidade das interseções entre raça e classe social surgem mais como elementos periféricos do que necessariamente como temas fundamentais. O resultado é morno.
A Porta do Lado não alimenta oposições vulgares entre monogamia e poligamia, se atendo ao entendimento de que não existem modelos infalíveis a serem seguidos rumo à felicidade incontestável. Quanto ao elenco, não há alguém que se destaque tanto, mas Letícia Colin segura bem as oscilações essenciais de sua personagem, nesse sentido sobressaindo. No entanto, há certas “barrigas” – apelido dado aos excessos pouco contribuintes ao painel geral – que somente tomam tempo e espaço de ponderações mais relevantes. Exemplo disso é a dificuldade de Mara para se comunicar com a família, especificamente com a mãe. Esse é um traço que parece vital à personagem, mas não é encarado assim ao longo do filme, tampouco quando Isis reforça com sua experiência certa universalidade dos desentendimentos geracionais. Em meio às boas intenções de ponderar sobre formas diversas de relacionamento, Júlia Rezende acaba diluindo determinadas pautas. Isso, sobretudo ao se apoiar numa psicologização para ler a mulher que cita o histórico de infidelidade do pai a fim de o espectador traçar paralelos entre a angústia infantil e a contradição do comportamento adulto. É também uma pena que, ao centralizar o foco em Mara, os outros três membros dessa inquieta ciranda amorosa acabem frequentemente restritos a uma área de sombra que é iluminada apenas quando os assuntos assim o pedem.
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Mano, o engraçado é que eu não encontro lugar nenhum para assistir isso? como pode ser tão dificil assistir um filme nacional. Pqp