Crítica
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Sinopse
Moradora de Cannes, a jovem Naïma decidiu tirar o verão para acertar o que fazer da vida dali para adiante. Ela rapidamente é seduzida pelo estilo de vida de sua prima, Sofia, que aos 22 anos esbanja liberdade.
Crítica
“Sofia é como o verão. Você sabe que uma hora irá partir, mas só se dá conta que terminou no dia seguinte”. É mais ou menos assim que Naïma percebe a presença da prima mais velha. Companheiras de apenas uma estação, estão juntas durante as férias em um dos destinos mais cobiçados de toda a Europa – e, provavelmente, do mundo inteiro: Cannes, no sul da França. Só que se uma está ali de visita, livre, leve e desimpedida para aproveitar ao máximo o que lhe é oferecido, a outra é residente local. Ou seja, o charme e encanto que a grande maioria vai até lá procurar, para ela faz parte do cotidiano, tão habituada que nem mesmo mais os percebe. Isso, é claro, até passar a enxergar pelos olhos da outra. Em A Prima Sofia, tudo é uma questão de perspectiva: quem, de fato, você quer ser? O que é tão simples realmente possui valor, ou é o mais difícil que acabará por perder seu significado? Entre tantas possibilidades, temos um filme cujo valor só se revela no último instante, em uma jornada aparentemente vazia, mas repleta de interpretações.
Escrito e dirigido por Rebecca Zlotowski, que antes havia comandado o ambicioso – e irregular – Além da Ilusão (2016), falado em inglês e estrelado por Natalie Portman, mas lembrada também pelos mais eficientes Belle Épine (2010) e Grand Central (2013), ambos protagonizados por Léa Seydoux em início de carreira, A Prima Sofia revela outros entendimentos em seu título original: Une Fille Facile, ou na tradução em inglês, An Easy Girl: uma garota fácil, no bom português. No papel dessa encontramos a novata Zahia Dehar, que faz da sua Sofia um vulcão em repouso, mas sempre pronto para entrar em erupção, como uma jovem Sophia Loren – uma referência que é dita de modo explícito durante a trama – ou uma Brigitte Bardot prestes a ser revelada. Tranquila e despudorada, é o tipo de garota que não vê problema em ficar nua na frente dos outros, assim como não acredita num romantismo exagerado: sabe que tudo é uma troca, e pelo que tem a oferecer, saberá cobrar o preço exato.
Sofia é o tipo de mulher que pode ostentar a bolsa mais cara, mas essa estará invariavelmente vazia, pois dinheiro não é uma preocupação: sempre haverá alguém disposto a lhe pagar a conta. Talvez o flerte da ocasião, um admirador atencioso ou mesmo a prima, estranha a esse tipo de vida. Naïma (a revelação Mina Farid, indicada ao Prêmio Lumière pelo desempenho) recém terminou o colégio, e precisa decidir sobre o que fará no futuro: seguir estudando, partir para um estágio ou talvez trabalhar como a mãe, que atende como camareira num dos tantos hotéis da região. Nesse momento que para muitos pode representar o caminho de uma vida, será nessa amizade de ocasião que primeiro irá se deparar com o deslumbre, para somente adiante encontrar os reais motivos para tal comportamento. Como ouve a certo momento, “ser tão livre exige mais trabalho do que qualquer ocupação tradicional”.
Se o foco das atenções está em Naïma, por mais estonteante que seja Sofia, talvez um recair dos olhos sobre essa também representasse igual coragem da realizadora. Afinal, não é nada fácil ser a mais cobiçada. Neste duelo entre as duas, nunca declarado, mas sempre presente, o filme revela seu maior mérito: qual das duas, afinal, está invejando o modo de ser daquela ao seu lado? A que deixa todos os homens aos seus pés, mas que ao mesmo tempo pode ser descartada sem meias palavras, ou a que não obriga ninguém a torcer o pescoço, mas assim que conquista a atenção de um, com esse seguirá até o fim? Quando a uma delas é dito que “você é apenas uma garota”, a recusa dessa é a confirmação que o interlocutor precisa. Ou seja, não se trata de quem se foi, e muito menos onde se está agora. Está no processo de amadurecimento, e para onde se ambiciona ir, o real valor dessa equação.
Se o português Nuno Lopes (que até por telenovelas brasileiras já se aventurou, como Esperança, 2002, e Senhora do Destino, 2004) cai bem aos olhos, estará no francês Benoît Magimel uma das presenças mais enigmáticas em cena, pois com ele tudo é dito às claras, ainda que seja justamente essa franqueza que estimule uma dissimulação a respeito das suas reais intenções. Será ele quem melhor irá ler não apenas Sofia, mas também Naïma, reconhecendo nela o que tem a oferecer, e também o que o amanhã lhe reserva. Em A Prima Sofia, pela maior parte do tempo parece que nada está acontecendo, quando, de fato, há muito se desenrolando longe das reações imediatas, mas próximo das percepções mais apuradas. Não se trata de uma atração passageira, muito menos de promessas que não serão cumpridas. E se há quem sofra pelo orgulho ferido, será na capacidade de renascimento que a protagonista encontrará sua identidade e, mais do que isso, a sua real razão de ser. Sem que precise abrir mão das lembranças coletadas durante o caminho.
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Olá! Fiz hoje uma resenha deste filme. Gostaria de compartilhar com você uma outra visão! Abraços!
Adorei sua crítica! Se tivesse que escrever algo, seria exatamente isso! Esta percepção depende de uma análise profunda e sensível do filme! Mas nem todos tem paciência para isso ou conseguem mergulhar nessa profundidade! Adorei o filme!
Achei bastante contundentes as suas palavras...O filme é muito bom e abre espaço para diversas interpretações. Também fui pelo mesmo caminho de percepção, ou melhor, mais ou menos isso. Só fiquei na dúvida de quando você citou sobre a bolsa mais cara, porém vazia...Será que ela também não era vazia?! Ou já tinha de fato se entregue a essa relação puramente de troca?! Achei a crítica completa e sem o olhar do óbvio. Adorei! Nesse tempo de superinformação parece que todo mundo quer sentar e escrever sobre um filme na posição de crítico ou gravar algo e colocar no YouTube. Enfim, obrigada por compartilhar conosco a sua percepção. Abraços!