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Sinopse

Após se formar na faculdade, Benjamin Braddock retorna para casa. Indeciso quanto ao seu futuro, ele acaba sendo seduzido pela Sra. Robinson, uma amiga de seus pais. A relação se complica ainda mais quando o rapaz se apaixona pela filha dela, Elaine.

Crítica

Embora breve, é lancinante o percurso de Benjamin Braddock (Dustin Hoffman), do avião que acaba de aterrissar, passando pela esteira do aeroporto ao som da melancólica The Sound of Silence, até chegar à sua festa de recepção na residência dos pais. Jovem de futuro promissor, ele regressa da faculdade com o diploma na mão, mas completamente desorientado quanto ao futuro. A expectativa dos progenitores é ruidosa e inversamente proporcional ao conforto dele com tal situação. Cada detalhe capturado pela câmera arguta de Mike Nichols importa, como o olhar perdido do protagonista tendo ao fundo um soldado de brinquedo repousando nas águas de um aquário. Basta lembrar que A Primeira Noite de um Homem foi lançado em 1967, quando ainda fervilhava a Guerra do Vietnã. O cinema norte-americano também passava por uma transformação, da qual este filme é um dos grandes pilares. E a trajetória desse rapaz que amadurece a partir do romance com a esposa do sócio do pai é emocionalmente complexa.

A sequência em que a Sra. Robinson (Anne Bancroft) seduz Ben, após pedir que ele a leve para casa, é primorosa em diversos sentidos. A começar pelas interpretações. A atriz veterana, ganhadora de um Oscar, então remanescente da Hollywood prestes a ser renovada pela geração contracultural, alinhada com as demandas de uma sociedade em plena reforma, encurrala a timidez e o recato de Ben com alta voltagem erótica. Hoffman, por sua vez, no trabalho que o catapultou ao estrelato, manifesta exemplarmente a confusão que gradativamente vai tomando conta do garoto, especialmente quando ciente das intenções da conhecida mais velha com quem convive desde a tenra idade. Mike Nichols faz um brilhante encadeamento de cortes rápidos para mostrar a nudez dessa mulher que não tem problemas em demonstrar desejo, em posicionar-se ativamente no jogo da conquista, permitindo uma rima com a hesitação do rapaz que parece antever as metamorfoses que a relação irá acarretar.

A Primeira Noite de um Homem observa com cuidado as reações dos personagens, especialmente as de Ben, cuja verdadeira graduação não se dá nos bancos universitários, mas em meio ao turbilhão afetivo que sobrevém à sua iniciação sentimental/sexual. Outro indício de excelência é a precisão da encenação proposta por Mike Nichols. Nesse sentido, destaca-se o papel simbólico do chiaroscuro. O contraste entre a luz e a sombra é praticamente onipresente, inclusive para pontuar alterações relevantes de comportamento. No primeiro encontro furtivo dos amantes, Ben repetidas vezes desliga as lâmpadas, provavelmente com vergonha dos impulsos sentidos, enquanto a Sra. Robinson prefere a luminosidade, exatamente por ser mais bem resolvida, inclusive consigo própria. Depois de um tempo, numa cena-chave, há o inverso, pois ele insiste em clarear o quarto para ampliar a conversa, enquanto ela, desconfortável, envolve-os num breu de indeterminação, em que não se podem olhar nos olhos.

A trilha sonora icônica, a cargo dupla de músicos Simon & Garfunkel, entrou para o rol das mais bonitas do cinema, justamente por ampliar o apelo emocional das cenas. Ben na estrada, desesperado para encontrar seu novo amor, Elaine (Katharine Ross), ao som de Scarborough Fair/Canticle e depois de Mrs. Robinson denota a importância dessa tomada de decisão que pode parecer disparatada, mas propulsora, no mínimo, de um considerável abalo nas estruturas da vida que os pais planejaram à sua revelia, um itinerário onde ser bem-sucedido está acima de qualquer coisa. Da mesma maneira, a emblemática cena final, marcada pelos semblantes angustiados dos jovens, passada a euforia da transgressão, ao som novamente de The Sound of Silence, está entre os momentos basilares do cinema da Nova Hollywood, precisamente por conter em si a desesperança de uma geração, a dúvida quanto ao futuro, que permanece, independentemente das mudanças sofridas. Realmente, uma obra-prima.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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