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Sinopse

Um assassino em série mata prostitutas num bairro de São Paulo. Em meio à campanha política, os candidatos utilizam o fato como plataforma para eleição e a polícia faz uso de métodos questionáveis para chegar ao culpado.

Crítica

Na virada da década de 70 para a de 80, período de desagregação da ditadura militar iniciada em 1964, foram produzidos no Brasil alguns thrillers políticos que abordam a violência desse regime por meio de narrativas de formato tradicional, filmes que muitas vezes utilizam elementos de gêneros cinematográficos estabelecidos, diferenciando-se, portanto, de um primeiro cinema político sobre o Brasil da ditadura, realizado ainda nos anos 60 sob a égide do Cinema Novo (sendo Terra em Transe, de 1967, o paradigma aqui). Pra Frente Brasil (1982), de Roberto Farias, é provavelmente o exemplo mais conhecido desse cinema político comercial realizado durante a abertura, por todo sucesso que fez e debates que suscitou (sobretudo sobre a permanência da censura às artes naquele momento, já que o filme de Farias ficou interditado por quase um ano). Mas não é o único. E em meio a obras pouco lembradas como Paula: A História de uma Subversiva (1979), de Francisco Ramalho Jr., O Bom Burguês (1983), de Oswaldo Caldeira, e Tensão no Rio (1984), de Gustavo Dahl, merece especial destaque – até por ser, provavelmente, a melhor delas – A Próxima Vítima, de João Batista de Andrade.

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Vindo do sucesso crítico de O Homem que Virou Suco (1980) e já tendo uma experiência anterior com o thriller (Doramundo, de 1978), Andrade faz em A Próxima Vítima um filme de serial killer em que pouco importa a descoberta da identidade do criminoso. Não se trata aqui de uma construção narrativa como a de Zodíaco (2007) e Memórias de um Assassino (2003), nas quais o interesse está em explorar os efeitos de longas e desgastantes investigações sobre aqueles que as empreendem. Em A Próxima Vítima, a preocupação central de Andrade e do roteirista Lauro César Muniz é denunciar um sistema violento que elimina figuras socialmente indesejáveis (nesse caso, prostitutas) e que tem vinculação direta com os anos da ditadura militar.

Daí ser fundamental que este não seja um filme histórico tradicional, com uma trama que se desenrola no passado, recente ou mais distante. Como são Pra Frente Brasil, Paula e O Bom Burguês, por exemplo. A Próxima Vítima procede quase uma análise histórica em tempo real, já que sua narrativa transcorre durante as eleições de 1982 para o governo do estado de São Paulo, as primeiras desde o golpe de 64, e Andrade lança seus atores, sobretudo Antônio Fagundes, no meio do turbilhão das campanhas que tomavam conta da maior cidade do Brasil. Protagonizado por um personagem jornalista (Fagundes), o filme pulsa desejo de registrar o agora da época, ao mesmo tempo em que consegue, num movimento sofisticado, refletir sobre as permanências da ditadura num momento de flerte com a redemocratização. São feitas referências a Sérgio Fleury (delegado da Polícia Civil de São Paulo responsável pela tortura de inúmeros presos políticos durante a ditadura) e à violência policial passada e presente, principalmente por meio do personagem do delegado interpretado por Othon Bastos, que chega a verbalizar sua saudade dos tempos em que prendia intelectuais e artistas.

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Realizado num contexto pós-controvérsia da censura a Pra Frente Brasil, A Próxima Vítima não chegou a ser interditado por completo como o filme de Farias, mas foram determinados pela Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP, o órgão federal responsável pelo controle da produção artística durante a ditadura militar) alguns cortes que desfigurariam a narrativa criada por Andrade e Muniz. Exigia-se a retirada justamente das críticas à corrupção e violência policiais e dos comentários sobre o contexto político do início dos anos 80. O filme, no entanto, foi liberado sem cortes após seus realizadores apelarem ao Conselho Superior de Censura, instância de recurso regulamentada pelo governo em 1980 – e composta, em parte, por representantes de organizações da classe artística –, que foi responsável pela liberalização do setor censório nesse período de abertura política.

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é um historiador que fez do cinema seu maior prazer, estudando temas ligados à Sétima Arte na graduação, no mestrado e no doutorado. Brinca de escrever sobre filmes na internet desde 2003, mantendo seu atual blog, o Crônicas Cinéfilas, desde 2008. Reza, todos os dias, para seus dois deuses: Billy Wilder e Alfred Hitchcock.
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