Crítica


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Sinopse

Após sua esposa ser sequestrada, o enfermeiro Paul se une a um conhecido criminoso na tentativa de salvar a vida da mulher que ama. Lutando contra gangues perigosas e policiais corruptos, a dupla acaba encontrando uma forma de sobreviver.

Crítica

O maior problema de À Queima-Roupa é não assumir como essencial à sua narrativa os absurdos e as incongruências que a atravessam. O filme dirigido por Joe Lynch oscila entre a tensão de uma realidade repleta de policiais corruptos, assassinos e inocentes arrolados nos imbróglios por acaso e o flerte constante com o pastiche, permanecendo assim num terreno indefinido. Exemplo dessa inconstância é a utilização da trilha sonora, ora tida como reforço da dimensão que beira o caricatural, ora capaz de abortar completamente os esforços para fazer de determinadas sequências intensas do ponto de vista dramático. A trama não traz nada de novo, inclusive no que diz respeito ao desenho de uma circunstância aparentemente óbvia que adiante é esclarecida em encadeamentos de natureza meramente expositiva. Chega-se ao cúmulo de um personagem pedir diretamente ao envolvido que explique novamente o ocorrido, algo feito um par de cenas antes por uma policial que se vangloria de sua vilania.

O protagonista de À Queima-Roupa é Paul (Anthony Mackie), enfermeiro boa-praça que se estrepa por estar no lugar e na hora errados, neste caso cuidando de Abe (Frank Grillo), assassino de aluguel internado após supostamente ter dado cabo de um promotor de justiça. Ele se vê arrolado num caso complicado, impotente diante do sequestro de sua esposa, Taryn (Teyonah Parris), grávida de praticamente nove meses. Não é difícil imaginar que, além das perseguições de bandidos e policiais, a precipitação do trabalho de parto pode ser um entrave e tanto. Todavia, já nesse momento do enredo a suspensão da descrença se faz necessária à melhor fruição. Sim, pois é preciso uma boa dose de vista grossa para não encasquetar com o restabelecimento de alguém alvejado no abdômen, entre outras escoriações, que consegue lutar fisicamente, de igual para igual, com oponentes de saúde preservada, isso simplesmente pela combinação de duas drogas que o mantém em pé.

Joe Lynch derrapa nas tomadas de perseguição automobilística, requentando o mesmo procedimento de registra-las no sentido contrário ao da movimentação dos carros, assim criando uma sensação de iminente impacto, mas exagerando ao repetir o artifício sem grandes variações. Especialmente nessas sequências a trilha sonora quebra a veemência das questões em jogo, como naquela inexplicavelmente embalada por Love Missile F1-11, da banda Sigue Sigue Sputnik, na qual a atmosfera de urgência se esvai a cada acorde histriônico da canção que fala de maneira satírica de bombardeios. Para contrabalançar essa indefinição permanente quanto ao tom, sobressaem as boas atuações do elenco, apesar da falta de densidade e profundidade dos personagens. Anthony Mackie sai-se bem como o sujeito forçado a agir. Já Frank Grillo veste com propriedade a carapuça do matador que, esquematicamente, se revela alguém por quem vale a pena sujar as mãos.

À Queima-Roupa se desenvolve meio aos trancos e barrancos, apresentando bons instantes, prestando-se a ser um entretenimento descompromissado e leve – embora o tema principal seja pesado e pretensamente intrincado –, mas os relativizando com tantos outros que demonstram a fragilidade de suas concepção e execução. Marcia Gay Harden encarna uma detetive estereotipada, algo correspondente à atuação da personagem dentro do emaranhado de elos escusos entre o submundo e a lei. Sobra espaço, ainda que cavado artificialmente, à aparição de um gângster cinéfilo, fã de William Friedkin. Tal figura surge tão e somente para viabilizar o contra-ataque da dupla improvável que tenta expor a verdade e garantir que um bebê nasça normalmente. O roteiro telegrafa as resoluções, deixando à mostra ainda mais as debilidades de um conjunto que ocasionalmente encontra afinação, porém subsequentemente arruína a melodia.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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